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terça-feira, 31 de agosto de 2010

PRIMEIRA VEZ NA ZONA


   Agora eu sei: a primeira vez na zona a gente não esquece. A minha foi numa tarde fresca de segunda-feira, durou algumas poucas horas, porém muito intensas. No final, eu estava com o cabelo desalinhado, pois ventava em cada esquina. Entrou alguma areia nos meus olhos, dei alguns passos lacrimejando. E involuntariamente aspirei um pó branco. Era fino, cheiroso e na verdade caiu sobre mim. Pouca coisa, mas o suficiente para polvilhar o meu casaco preto quando caiu, e por ser leve, subiu até minhas narinas. Gostei do cheiro. No caminho, passei por calçadas esburacadas, ruas movimentadas, passei por faróis que demoravam mais de dois minutos. Muito tempo pra mim.

Antes, uma parada estratégica no Mercado Municipal. A colorido das frutas e o seu aroma naquele lugar, me fazem esquecer que estou no centro da cidade, parece um tipo de paraíso! É claro que isso depende do corredor em que você estiver, pois de um lado estão as frutas e outras especiarias, e do outro se concentram as muitas lojas de sanduíches, dentre eles o astro mortadela... ou "mortandela", se preferir... se pedir um de mortandela também será atendido. De todos os jeitos, só dá ele por ali. O lugar é amplo, alto, com vitrais coloridos que atravessados pela luz do sol iluminam o interior do prédio, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, em 1924. Lugar incrível.

E a mortadela me faz lembrar de um amor antigo que sempre tive pelo português. Ah, o português da esquina... sofri tanto com ele, mas não vivo sem ele! Foi por isso que tive tanto interesse na exposição “Menas” apresentada até o mês de julho no Museu da Língua Portuguesa. Ela fazia pensar na popularidade que certas palavras ganham a ponto de nos confundir entre o certo e o errado.

Tinha um filme com uma mesma atriz interpretando quatro “Normas”: a culta, a gramatical, a coloquial e mais uma que não me lembro agora. Elas conversavam sobre o modo diferenciado como usamos as regras do português com os colegas de trabalho, com a família, com os amigos de longa data e outros. De fato, a linguagem vareia, ops! varia...

Por isso a mortadela me lembrou o português, e o português me lembrou que comecei texto falando da primeira vez na zona cerealista, no centro velho de São Paulo.

Para quem precisa de produtos naturais, orgânicos ou diet, agora eu sei e posso recomendar, o lugar ideal para se comprar a um preço melhor do que nos mercados de bairro, é ali.

E como disse o Alexandre, meu guia de turismo contratado desta vez, foi uma aventura, mas valeu o esforço! Voltei pra casa naquelas condições ditas no início, mas com bons ingredientes para uma alimentação bastante saudável.

Depois, foi só tomar um banho quente, prender os cachos, e fazer a primeira vitamina com o Malto, que estava com o saco furado mas foi trocado a tempo, logo depois de me polvilhar! Foi divertido, e quando acabar tudo eu volto lá com meu guia, é claro, pois chegar lá é meio barra pesada, mas compensou dessa vez.


Loja visitada: Cerealista Arroz Integral
Endereço: Av. Mercúrio, 216 (Próx. ao Mercadão Municipal e ao antigo prédio da Prefeitura)
Preços médios: Malto Kilo R$6,50 / Graviola Kilo R$7,00 / Barrinhas de Cereal pacote com 15 unidades R$7,50


TG
30/08/2010

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

QUINTA: TAPE


  Quando alguém me conta que tem amigos do tempo da escola, acho interessante. O contato que mantenho com os meus se resume ao santo Orkut! Bem que eu gostaria que fosse diferente, mas como se diz, são coisas da vida. Sem contar esses, posso listar outros tantos amigos de longa data, amizades verdadeiras, sinceras e que ainda vão durar muito.

Caberia aqui questionar o que é realmente amizade, mas essa seria uma questão para um outro texto. Porém, foi neste tema que pensei ao ler a sinopse da peça Tape. A história narra os acontecimentos quando, após 10 anos, três amigos de escola se reencontram. Ao assistir a peça, percebi que o foco não é a amizade, é a chantagem feita por Vince que, numa atitude traidora, grava em cassete a confissão de Jhon a respeito de Amme.

Os dois estão sozinhos num quarto de hotel, onde muitas outras confissões vem à tona, e com elas se manifestam sentimentos, ressentimentos, sonhos, frustrações, inveja e muito ciúme. Talvez tenha sido este último citado a chave da tremenda saia-justa em que Vince coloca Jhon, que fica ainda mais complicada quando chega Amme, com uma  surpreendente reação, a qual Vince jamais poderia esperar. Por causa deste momento da peça, TAPE se torna um espetáculo tão interessante, em que se pode esperar pela surpresa no seu desfecho: nada mais é previsto.

O texto é muito bem escrito dando à trama momentos de comédia, drama e tensão, encenados por atores cuja competência deixou tudo na medida exata. Marcelo é Vincent, um malandro que nem pensa em mudar de vida; Pedro Guilherme é Jhon, um cara todo certinho que deu uma tremenda mancada no passado; e Carolina é Amme, que surge loira, magra, linda e inteligente, ao contrário do que Vince imaginava!

A sintonia estabelecida entre os atores deu a liga ideal para quem assiste à peça viver junto com os personagens cada momento daquele crucial acerto de contas.

Quem precisa de amigos assim? Talvez seja melhor nem tê-los por perto! Você mesmo pode avaliar esta relação do trio no espaço do Satyros 1 até o final de setembro, onde por enquanto toda quinta é dia de TAPE. Segue vídeo abaixo.



Texto: Stephen Belber
Direção: Mário Bortolotto
Elenco: Pedro Guilherme, Marcelo Selingardi e Carolina Manica
Onde: Satyros 1 – Rua Franklin Roosevelt, 214 Tel: 32586345
Temporada: Até 30 de setembro, sempre às 21h.


























quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Monólogo - Paulinho Faria



“Já fomos perfeitos um dia: no momento em que saímos do ventre...”


Hoje eu vi O homem com a bala na mão. Ele pensava em suicídio, mas antes de cometer um crime contra si mesmo, ele queria muito falar. Falar e nos fazer pensar. Ele abriu a porta da sua casa, nos convidou a entrar no seu quarto. Sentados ali, diante dele, presenciamos um homem com um pouco mais de 30 anos, desabafando seus ressentimentos.

Ele contou aos presentes algo sobre a vida e a morte do seu pai, que abandonado pela mulher criou o filho por alguns anos, mas acabou com a sua própria vida ali mesmo onde estávamos. Sentado na janela, deu um tiro na cabeça.

Também ouvimos a história da vizinha que andava nua pela casa com a janela aberta, até fechá-la, deixando ele louco de desejo por ela. E na mesma janela, este homem viu um outro, que, sentado com os pés para fora, abriu os braços e se deixou levar, sem um grito, sem uma palavra, apenas inclinando seu corpo para a frente, e num piscar de olhos a vida se foi. Antes disso o que houve?

Quantos pedidos de socorro essas pessoas deram até o crime final? Ninguém os ouviu? Alguém fez que não viu?

Notei que algumas pessoas saíram do espetáculo meio baixo astral, reflexivas demais. Eram pessoas que tiveram amigos ou conhecidos que chegaram ao seu limite e apertaram o gatilho. E pelo que conversamos sobre o assunto, a sensação que fica é essa mesma, de peso, de uma certa parcela de culpa por não ter reagido quando era possível fazer alguma coisa. Um abraço talvez, mudasse a questão. Estamos disponíveis pra isso? Quem quer se envolver?

De quem é a responsabilidade quando se dá as costas para alguém que precisa desesperadamente de um pouco de atenção?



O ator  e autor do monólogo, Paulinho Faria, foi audacioso na escolha do tema.  De fato, é fácil desprezar ou agir preconceituosamente com quem precisa de ajuda; em geral ou julgamos, ou fugimos do assunto.

É desagradável, assumo, não quero nem pensar em coisas do gênero. Mas às vezes vale a pena levar um tranco desses. A linda música que tocou no final do espetáculo, foi composta por um garoto muito talentoso que recebeu na internet apoio, numa dessas comunidades de apologia ao suicídio, para se matar. E ele o fez!

No início do espetáculo o ator colocou no chão, num canto estratégico, um papel dobrado, e nos disse que era uma carta para ser lida quando ele se fosse. Quando tudo acabou, alguém pegou o papel do chão, e lá estava o relato deste caso, um entre tantos milhares que desprezamos.

O tempo todo o movimento e o tom da luz avermelhada, o sutil som da goteira e do tic-tac interminável, despertavam no público tensas sensações. Que incômodo! Paulinho Faria estava tão entregue quanto envolvente. Eu diria que foi desagradável, e por isso mesmo um grande espetáculo!

Meu coração demorou uns 20 minutos para desacelerar! Amei a sensação... Isso porque além da atuação do intérprete, o texto  aborda questões que mexem com o espectador: o silêncio, o tempo, o momento, o estado da felicidade, e a morte como sendo o fim ou o começo de algo novo. Ele assusta e ao mesmo tempo sensibiliza com as reações flutuantes do seu personagem, que despeja sobre o público o que pensa, o que sente. 

E para complicar um pouco mais, propõe ao público que tudo aquilo não passe de uma grande mentira, que ele possa estar brincando conosco assim como nós brincamos com ele ou com outras pessoas o tempo todo. É sério! Saí de lá pensando: que tipo de trocas andamos fazendo hoje?


Sabe aquele cara estranho, que vive trancado no seu canto? Ele pode estar com a bala na mão. Se você perceber, por favor, não o despreze, talvez um gesto simples, como um abraço, possa ajudar.


OBS:
A apresentação única aconteceu em 24 de agosto, com a casa cheia - foi um sucesso!
Tinha gente sentada até no cantinho da escada. Acho que alguns não compreenderam, outros ficaram chocados, era espetáculo ou não era? Ele se matou ou não? Se houver uma segunda chance, eu aviso para você mesmo testemunhar os fatos.

Parabéns ao grande ator e agora autor, Paulinho Faria!!!


Talita Godoy
24/08/2010

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domingo, 22 de agosto de 2010

TE VEJO NA TERÇA - 24/08

BIENAL TERMINA EM SP


TERMINA MAIS UM GRANDE EVENTO EM SÃO PAULO.
O RESULTADO QUE FICA É O FOMENTO DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO POR MEIO DA LEITURA



Era gente indo e vindo, fazendo fila no carrinho de sorvete ou no churrasquinho, já tão tradicional em São Paulo. Fila pra pegar o ônibus de graça, fila de carros andando lentamente, mas todos, um a um, cumprindo a missão do dia: assistir a uma parida de futebol. Bem que parecia, mas não era isso, não. O povo estava indo visitar a Bienal do Livro!

Correria toda para comprar algum exemplar de lançamento? Pegar autógrafo de algum autor? Poderia ser também para participar de uma das tantas palestras, mesas de bate-papo ao vivo, encontros de educadores, escritores, blogueiros e tuiteiros, ou contações de histórias com marionetes ou atores reais.

Teve quem visse pela primeira vez algo que era coisa do futuro, mas já está nas bancas: o livro digital... Eu morria de medo disso, mas confesso que gostei muito da novidade! Fisicamente ele parece um MP4 do tamanho de um livro médio; as funções são praticamente as mesmas, ao invés de acessar música o leitor acessa o livro, página por página com seus textos e ilustrações. Ele grifa quando quiser, faz anotações, marca onde parou a leitura etc. Porém, não dá para dobrar a orelha, não dá para folhear, não dá para... evitar sua chegada e que os novos leitores o prefiram numa geração bem próxima.

Quem me mostrou o Cool-er (cool, algo legal em inglês, junto com ler em português, ou uma leitura legal, originou o nome daquele tipo de periférico que eu vi na feira) foi o Daniel, um funcionário da empresa Itapemirim, que atua num projeto que transformou o ônibus em uma Biblioteca Móvel. Ele viaja por todo o país e fica em média 03 semanas em cada cidade.

O bacana, segundo ele, é que a pessoa não entra ali para ler um livro inteiro, mas para se aproximar do livro, conhecer a variedade, geralmente perguntam sobre a Biblioteca local e dizem que vão passar a freqüentar, pois adoram livros! Então por que não lêem?! Hábito, minha gente, tudo é questão de hábito.

E ainda sobre os livros digitais, perguntei ao Daniel se a novidade está agradando, ele disse que sim, mas que as pessoas olham, até acham interessante, mas preferem ainda o livro tradicional. As crianças familiarizadas com as novas tecnologias se divertem mesmo com o livro impresso. Ufa, no fundo me deu um certo alívio ouvir isso!

E adianta discutir o assunto? Talvez o mais importante seja a leitura em si; em papel impresso ou em meio virtual, o conteúdo estará presente e isso é fato. O “como” sinceramente não me incomoda. Assim como não me incomoda mais pensar nas tecnologias que terei dificuldade em acessar no futuro, pois nesta feira eu percebi que elas já existem e é delas que eu tenho que correr atrás.

Tem tanto recurso disponível, que mal aceito um e já vem outro! Mal descubro e passo a conhecer um, e lá vem o próximo. Ou a pessoa pira de vez ou ela busca se informar, observa o cara do lado que entende do assunto, pergunta, conversa, pesquisa e assim vai.

Fazemos parte de uma geração que teve o privilégio de ver um grande salto na tecnologia e nas relações interpessoais. Sim, pois não apenas muda o meio como a comunicação se dá, mas a forma como nos comportamos e nos expressamos por meio deles. Há quem seja totalmente equipado com a mais alta tecnologia sem ter o que dizer ao outro! Como ainda há o que deseja gritar aos quatro ventos mas ainda não achou a ferramenta certa pra isso.

E assim vamos nos adaptando para uma nova era cultural. E já prevendo que ela logo poderá mudar de novo. Espero que não mude o hábito de ler, falar e ouvir, olhar nos olhos, quem sabe até melhore a observação sobre o que diz o brilho nos olhos do outro! E que cada um saiba o momento de se retirar, ficar quieto, isolado, refletindo, buscando coisas diferentes, e saiba também a hora de dar um off na máquina e voltar a se relacionar com pessoas ao vivo.

Foi o que fizeram aquelas milhares de pessoas formadoras da grande muvuca em frente ao Anhembi, no penúltimo dia da feira do Livro em São Paulo. Fico feliz em ver com isso o fomento da cultura, da leitura, da educação, a busca pelo novo, o encontro de pessoas que me fazem acreditar num país melhor.

Só a educação salva!

Termino com uma provocação a você, que preferiu ficar em casa e ler um Blog: tem idéia do evento monstro que você perdeu???






Talita Godoy
22/08/2010



RELACIONAMENTO DIGITAL




ENTRE ISOLAMENTOS E APROXIMAÇÕES, NOVAS TECNOLOGIAS CONTINUAM TRANSFORMANDO
SENTIMENTOS E RELACIONAMENTOS. OU NÃO?!

Pelo que entendi, parece que é assim: sempre que surge um novo meio de comunicação fica a dúvida se ele vai derrubar o outro, anterior a ele.

Um exemplo foi quando surgiu a televisão, que existe há mais de cinqüenta anos. Naquela época a pergunta que tanto incomodava era se a TV seria capaz de acabar com o rádio. Não acabou, mas de certa forma se apropriou dele. Depois veio a internet, que por sua vez de certa forma se apropriou do rádio, da TV e talvez do livro impresso.

Uma imagem interessante do passado, era a família reunida assistindo a programação do horário nobre na televisão. Todos em silêncio, prestando atenção nela. O que antes era uma reunião familiar, com todos conversando, agora era uma reunião familiar silenciosa, mas ainda juntos.

Atualmente, cada um fica diante do seu próprio computador, geralmente sozinho, fechado no quarto, seja ouvindo música, olhando vídeos, pesquisando, escrevendo, cada um na sua. Mesmo na busca por companhia, nas salas de bate-papo, não dá pra saber quem é verdadeiro e quem é falso. A relação ali é puramente virtual.

Mas não é de todo ruim. Com as redes sociais, foi possível reencontrar pessoas queridas, algumas até mesmo esquecidas, outras que estão do outro lado do país ou do mundo, vivendo em outro mundo. Alguns arrumaram amores, amigos, esclareceram fatos do passado, colocaram a vida em dia. Encontraram comunidades de pessoas que pensam o mesmo que elas, que curtem as mesmas coisas, que são diferentes sendo iguais ou que são iguais, mesmo sendo tão diferentes! Poder de aproximação.

Insisto que às vezes é muito bom se isolar para fazer buscas, pesquisar, ler, sem querer encontrar algo interessante que leva a outra descoberta, e assim a gente percebe que faz parte de um mundo incrível, cheio de possibilidades. Mas como tudo na vida, internet também tem a dose certa, que cada um precisa saber medir e usar.

Há um excesso nas novas gerações que os tornam pessoas com a cara metida no digital o tempo todo, seja nos games, nas redes sociais, mas o que parece é que elas se esquecem que aqui fora existem pessoas esperando por elas, que querem ou precisam se relacionar com elas. Esses internautas exagerados deixam de movimentar os músculos, não ligam para mais nada além daquilo que estiver dentro da máquina, são muito isolados, alienados.

O lado bom é que alguns se desenvolvem bem sozinhos, aprendem a fazer escolhas, administram o seu tempo na rede, imprimem em tudo o que fazem uma certa dose de personalização, acompanham bem as novas mídias, curtem tecnologia e fazem um uso positivo a seu favor sem deixar que as tecnologias o dominem. Talvez sejam essas as mentes que vão preparar as tecnologias do futuro.

Agora pense comigo: os meios de comunicação mudaram também a nossa forma de sentir a vida? Estamos programados para novas emoções criadas a partir dos meios digitais? Nossos relacionamentos mudaram e não percebemos isso? Continua tudo igual nesta área? O que mudou foi apenas o modelo comunicativo ou o nosso cérebro hoje processa os sentimentos de outra forma? A interatividade é instantânea, dá tempo de sentir, processar e reagir tão rapidamente assim?

Já viu a força que tem um “post” no Orkut, no twitter, no blog? Imagine o problema que dá uma informação errada! E que reação ela pode causar? Entra em cena a questão da transparência e até mesmo da humildade.

Conheci uma jornalista na Bienal do livro, a Vani, com quem falei alguns minutos sobre isso, ela me contou que uma pessoa escreveu um palavrão na rede e ela reclamou pelo nível da linguagem. No mesmo instante a pessoa se desculpou publicamente, concordamos que o gesto foi nobre, ela poderia apenas ter deletado o palavrão!

O assunto surgiu durante um bate-papo ao vivo num dos estandes da Bienal do Livro em São Paulo. Era um encontro de tuiteiros que reuniu dois secretários da Educação (SP e RJ) e o diretor de um espaço cultural em São Paulo (Casa das Rosas).

A secretária do Rio, Cláudia, relatou que uma vez escreveu no twitter uma palavra com erro de ortografia. Gentilmente uma outra pessoa que leu postou na mesma hora a correção; a secretária se desculpou e agradeceu. O fato gerou uma matéria num dos grandes jornais do Estado do Rio de Janeiro comentando que errar é algo que acontece até com os educadores, e que aceitar e corrigir não é demérito algum. Não anotei as palavras exatas, mas a idéia foi bem essa, deixar o ego de lado e ser humilde, interagir de forma positiva e imediata aos fatos.

É o que entendo por relacionamento digital. Exposição para buscar e ser buscado, achar e ser achado, criticar e ser criticado, ensinar e aprender. A vida é assim, com seu lado bom e mal, vamos conduzindo da melhor maneira possível.

O que não vale a pena é entrar em intermináveis discussões na tentativa de prever o futuro, o que será que será... mas não pude resistir à provação feita, também na Bienal, em uma das palestras que assisti, de onde me vieram todas essas reflexões. O professor de comunicação da ECA/USP, Massimo de Felicce, disse que se hoje a internet deixa cada um isolado no seu computador pessoal, em pouco tempo será a vez dos telefones móveis deixarem as pessoas ainda mais ligadas o tempo todo em suas redes sociais. O cérebro já está se adaptando a esta nova maneira de se comunicar e deverá em breve criar novas conexões para uma diferente linguagem com diferentes informações? A tal provocação é: a sociedade está pronta para isso? Já somos nativos digitais?

Não existe ainda muita diferença social em nosso país com tantos analfabetos digitais, pessoa sem o devido acesso mínimo para viver num mundo assim, tão hi-tec? Eu mesma sei quanto sobre isso? Vou me isolar mais ou vou me conectar mais?

Contudo, uma coisa é divertida de se imaginar: que no futuro os velhinhos estarão todos na rede, com seu celular móvel, fazendo contato social, ou mesmo de trabalho ainda, trocando informações de todos os gêneros, marcando encontros, bailes, viagens, curtindo muito a vida ao vivo, por causa da internet.

Ops, será que isso já está acontecendo enquanto eu continuo a empregar meu precioso tempo aqui pensando??? Com licença eu vou à luta!


OBS: Os vídeos da Bienal estão no Youtub. É possível localizá-los como bienaldolivrosp. Segue um deles no post anterior (por incompetencia da minha parte não consegui baixar diretamente aqui! rs Sorry!).




Talita Godoy
22/10/2010

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Nem só de livros vive a BIENAL

MUNDO DIGITAL

O vídeo abaixo é parte da mesa composta por comunicadores que conversaram com a platéia sobre o tema: "O mundo grande e pequeno - meios digitais"
Aqui falam Ana Erthal, Ricardo Kobashi e Massimo de Felicce.

Voce encontra mais no YOUTUBE como BIENALDOLIVROSP.

Divirta-se!!!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO - PAULINHO FARIA



O HOMEM COM A BALA NA MÃO



Um homem com pouco mais de 30 anos estrategicamente nos convida ao seu quarto para presenciar os últimos minutos da sua vida. São 50 minutos de tensão, reflexão, medo, compaixão e dor. Ele nos coloca como os principais cúmplices desta fatalidade.
O que leva um home a cometer um crime? E seria, de fato, o suicídio um crime realizado contra si mesmo? A construção do sujeito no contemporâneo tem atravessado delicadezas cujas respostas variam do ponto de vista daquele que age e de quem o assiste.
Em O homem com a bala na mão, Paulinho Faria caminha pela sutileza da morte como construção natural da vida. Resta ao espectador a reflexão de como enxergar o outro lado, e nesse espelhamento inevitável descobrir seus limites morais e culturais.

TEXTO: PAULINHO FARIA
DIREÇÃO: RUY FILHO

APRESENTAÇÀO ÚNICA: 24/08/2010 (terça-feira)
HORÁRIO: 21h30
LOCAL: Satyros 1 – Rua Franklin Roosevelt, 214 Centro/SP Tel: 32586345
PREÇO: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)

OBS:  Paulinho Faria também interpreta ADÃO em HIPÓTESES PARA O AMOR E A VERDADE, em cartaz no Satyros 1

Sou uma das suas muitas fans N. 01 !!! 


Blog do Paulinho- http://opankada.blogspot.com/

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Horário Eleitoral



Dai-me paciência! Começou o horário eleitoral...


E já tem candidato dizendo “pior não fica”. Fica sim, e vai ficar muito pior a partir de agora com o circo da campanha eleitoral no rádio e na TV.

Sempre achei importante acompanhar o que pensam os partidários, quais são os planos, expectativas, e analisar o comportamento deles. Alguns poucos sensatos tocam em assuntos sérios, relevantes, mas a maioria me fez sentir um profundo desgosto por essa parte da pátria amada.

Agora mesmo, enquanto eles falam, eu me espanto ao ver Tiririca perguntando o que faz um deputado? Ele responde que também não sabe, mas promete que se votarem nele ele vai descobrir e contar para o público. Tem Moacyr Franco, Marcelinho Carioca, Mulher Pêra, Batoré, e o povão que neles vai votar. Quem é pior, quem tem a cara de pau de se candidatar ou o povo que elege, a troco de quê?

Nas últimas eleições, pasme você, uma amiga minha que é professora me disse que votou no Clodovil por acreditar que ele teria a capacidade de escancarar com os maus políticos. Seria um misto de ingenuidade com burrice? Mas ela é professora, uma mulher inteligente, culta, instruída, como se explica um voto desses?

Será que as pessoas pensam que estão votando no paredão de algum show humorístico? Será que estão confusos ou pensando que eleição é mesmo palhaçada ou brincadeira? Tanto faz?

Eu amo o meu país, mas detesto os políticos, detesto a politicagem sem vergonha e deslavada que fazem por aqui, mas temos que votar.

Ser cidadão é ser ator político. Mesmo que indiretamente você participa ou das escolhas ou dos resultados. Querendo ou não pagamos o pato, então, que seja de forma consciente, pensada de cuca fresca. O voto em branco não favorece em nada, não faça isso! Não vote nulo, ele também não resolve nada! Procure com paciencia até achar um candidato que mereça o seu voto... Haja fé!

E pra quem leu o texto “TUDO NÃO É VERDADE”, junte os pontos: agora é hora de ser mais crítico, mais vivo, não aceitar tudo o que ouvir por aí e não seguir só o coração, não. É hora de pensar no destino do noso país.  
Sei que é chato, mas no que puder ajudar, estarei alerta.


Saiba mais sobre a Propaganda Eleitoral Gratuita no site do TSE:
http://www.tse.gov.br/internet/institucional/comunicado1608.htm


PS: A cor deste texto é uma homenagem aos políticos... Coisa horrorosa!


Talita Godoy
17/08/2010



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Uma exceção



O amor faz este milagre acontecer

 
Quase passei mal. Pensei que fosse um mal estar normal, daqueles que simplesmente acontecem. Mas como tem algo incomodando a minha mente, só posso acreditar que a causa seja essa. Nada tão chocante pelo fato em si, mas que revelou a minha fraqueza humana.

Eu soube que a mãe de um conhecido, que nem é meu colega, faleceu há uns 15 dias. Quis dizer alguma coisa, mas não consegui, não saiu uma só palavra da minha boca. Travei e não foi por falta do que dizer. Muito pelo contrário, meu coração estava cheio de informações! O que eu deveria ter dito a ele era muito simples até. Sinto muito! A dor de perder uma mãe é massacrante, parece que espreme a gente até a pessoa se sentir moída por dentro. Há quem sinta que perdeu o chão, e nos dias seguintes, não se sabe o que fazer, o que pensar, pra que lado ir. Antes era só correr pro colo da mãe, mas a partir de agora ela foi tirada do mundo, a morte fez do filho um órfão. Chegada a hora, a vida se acaba. Mas pra quem fica, a pergunta é: e agora, "como" fica?

Alguém experiente me contou que com o tempo a pessoa aprende a conviver assim, driblando as emoções na medida do possível, mas alertou que tudo no “primeiro” dói mesmo: o primeiro aniversário, o primeiro Natal, o primeiro dia das mães, tudo sem ela pra sempre, fica muito mais difícil. Mas depois a gente aprende a controlar, se conforma, aceita que o ciclo da vida é assim mesmo.

Uma outra pessoa me disse que não há melhor consolo do que o de Deus. Ai de quem não acredita no poder que há nele! Mesmo doendo, mesmo sofrendo, vem de Deus uma força incrível que consola. E no lugar da dor, vem uma lembrança doce, calma, alegre, que transforma a dor em alegria. O amor faz este milagre!

Era isso que deveria ter falado. De certo eu me calei como muitos amigos que preferem pular essa parte. Fizeram isso comigo também. Depois alguns me explicaram que não levam jeito para lidar com o luto ou ficaram sem graça na hora, enfim, nem liguei pra isso. O importante é compreender e respeitar. Quem ainda tem mãe não sabe como é, e talvez nem possa imaginar. Mas eu posso, por isso hoje passei mal. Não importa que eu mal o conheça, podia ajudar e não tive reação alguma. Espero que os amigos dele tenham agido de maneira diferente, se bem que alguns vão se calar; e uma ajuda virá de onde menos se espera. Eu queria ter sido essa ajuda surpresa! Agora só me resta orar por ele, para que Deus o console por mais um dia.

Aproveito o momento para avisar que pelos próximos quatro meses, de setembro a dezembro, certamente vou me emocionar mais algumas vezes, até fechar o ciclo do primeiro “tudo”. Depois não será mais novidade, é só aprender a administrar e saber lidar com os sentimentos. Espero ficar forte logo, a ponto de superar em breve minha tal fraqueza humana. O amor tem feito este milagre por mim! Se estou melhor? Ainda não, só depois de dizer tudo isso a ele, e então deletar este texto, publicado aqui por uma exceção.


Talita Godoy
17/08/2010
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

BIENAL DO LIVRO 2010


Pois é, Adão! The book is on the table...



Lá vou eu de novo comentar sobre a peça Hipóteses! Dessa vez é que o personagem do Paulinho Faria tem essa fala, e em plena Bienal do Livro eu me lembrei dele, de tanto ver e folhear tudo quanto era livro sobre as mesas, tablados, bancas, estantes, altos e baixos! Cansei de elogiar, faz mais de 30 dias que eu assisti e ainda falo nela toda semana. Voce já viu? Veja.

Afinal de contas o assunto não é peça, é livro, mas livro é uma grande brincadeira. E cá entre nós, já tive muitos melhores amigos livros. Já troquei muita gente por eles, turminha totalmente do bem! Com eles aprendi teorias que vão do céu ao inferno, li sobre lendas, mitos, pessoas, bichos, descobri lugares, pensamentos, sentimentos, saúde, profissões, mentiras, traições, por meio dos livros tive sonhos, elaborei projetos, fiz mousse de maracujá!

O que seria de mim sem os livros, revistas, jornais, internet, esses meios deliciosos que usamos o tempo todo para obter informação?! E falando nisso, deixa eu contar como foi minha primeira, porém rápida visita, ao Salão de Exposições do Anhembi. Fui logo no segundo dia, antes mesmo da abertura oficial, mais precisamente para prestigiar o meu primo Lucas Godoy, que trabalha como designer numa das editoras de nome difícil que o público comum não se lembra em meio a tantas novidades da feira! Ele faz ilustrações e diagramação em livros de medicina e matemática, entre outros. Vi um dicionário de Meio Ambiente inédito, que ainda nem estava pronto, mas já marcava presença numa das prateleiras do estande. Achei lindo ver seu nome nos créditos. Crédito é sempre crédito, quem  trabalha bem, merece.

Voltando à Bienal, pelo que vi é o de sempre, muitos corredores, editoras novas e velhas, de todos os segmentos, para todos os gostos e principalmente para todos os bolsos. Ninguém precisa sair de lá sem nada de baixo do braço, mas também não se empolgue: o mesmo livro que foi editado numa versão de luxo numa editora pode ter sido editado por uma outra numa versão pocket, ou de bolso, que custa muito menos e tem o mesmo conteúdo.

Um exemplo são os clássicos da literatura, você encontra Machado Assis, Lima Barreto, Eça de Queirós, em várias versões. Preço mínimo que eu encontrei: R$3,00 cada. Uma pechincha!

Mas vamos analisar. Você tem onde guardar mais um livro em sua estante? Já cansou de olhar para a cara dos seus livros mais antigos? E por que não fazer uma doação para reciclar suas leituras??? Eu sei, dá uma sensação horrível tirar os exemplares que você mais gosta, mas pense que livros e conhecimentos são úteis apenas quando são passados adiante!

Como diria o Adão, se the book ficasse parado o tempo todo on the table, de que adiantaria? Se você já abriu o livro, leu tudo, então agora abra o coração, estenda a mão e doe seu livro velho; vá à Bienal e compre um monte de livros novos! Recicle suas idéias e depois me conte como foi a experiência.

Ah, não contei sobre a programação, mas tem global todos os dias fazendo leituras, conversando com o público, tem autores, professores, palestrantes, jornalistas, oficinas, brindes, enfim, como eu disse no início, o de sempre, e sempre nota dez! Só não vi os Gibis em promoção, mas no último dia de evento eles costumam vender a preços muito bons. Vale a pena! Vai dizer que voce não curte gibi? Não perca, e se quiser companhia me chama que eu vou!



Ingressos:
Inteira R$10,00
Meia: R$5,00
Horário: das 10h às 21h (dia 22 encerra às 21h)
Data: até dia 22/08

Mais informações:



TalitaGodoy
17/08/2010


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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DEVO, NÃO NEGO!

PAGO QUANDO PUDER...


No começo de agosto, eu estava pronta para produzir pelo menos mais um texto, porém ele acabou tomando um rumo diferente do ideal. Ficou de fora. Outro falava só da minha doce pessoa, mas era muito sentimental - ficou parecendo o mapa de “Talitópolis” - como diria minha querida amiga, e às vezes leitora, Lenita. Este não é meu objetivo, ao menos por enquanto.

Falar da peça que assisti por último também não seria boa idéia, sinceramente não gostei. Quando eu me sentir pronta para descer a lenha em espetáculos do tipo, vou criticar pra valer, mas por enquanto pretendo escrever e publicar sobre o que houver de bom. Amo elogiar, mas só quando acho justo. Com isso quero fazer comentários interessantes, mostrar o lado produtivo das coisas, para que outras pessoas tenham o mesmo prazer que eu tive, quem sabe até mesmo seguindo minhas indicações ou para simplesmente compartilharmos como acontece quando alguém posta um comentário aqui.

Talvez seja trauma por ligar a TV e ver sempre tantas notícias ruins! Quem me dera ter um canal só com boas notícias. Já que no blog mandam você e eu, por que não publicar só aquilo que for considerado bacana?

E quando disse no título que devo, não nego, assumo que nos últimos dias passei por boas experiências, vi muita coisa interessante, estive em lugares maravilhosos, mas ainda não cumpri o meu propósito de escrever de forma adequada para contar minhas aventuras em Sampa.

Fico devendo minha passagem pelo Mercadão Municipal, um dos lugares mais incríveis da cidade, sem exagero algum! Lá eles vendem sanduíche com mais de meio quilo de mortadela, imaginou? Voltei pra casa aguada de vontade, mas é muita mortadela pra uma pessoa do meu tamanho! Estive também no Museu da Língua Portuguesa, mas este texto é surpresa, não posso contar nada agora. Tem também o chopp de vinho em pleno domingo fim de tarde no Parque da Água Branca, se bem que este é um dos textos impublicáveis que comentei com meu amigo Alexandre!

E talvez o melhor, e mais importante de tudo isso, seja a visita técnica que fiz com os moradores dos cortiços na região da Luz, eles serão o meu público no ciclo de palestras que vou ministrar na ONG do Leandro, lembra disso? Eu disse que iria fazer e fiz mesmo, talvez eu vá de novo pois considerei tudo muito produtivo. Quer saber? Vou escrever sobre isso já!

E para compensar o silêncio dos últimos dez dias, vem aí textos sobre Bienal do Livro, MASP, Cinemateca e Museu da Imagem e do Som, mas ainda não tenho previsão exata para fazer as visitas. Se alguém quiser me acompanhar, é só dizer “Vamos”. Ah, tem a peça “Vamos?”,em cartaz no Teatro Imprensa, vamos???


Talita Godoy
11/08/2010

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domingo, 1 de agosto de 2010

Peça “Policarpo Quaresma”


Em ano de Copa do Mundo parece que todo brasileiro
fica meio Policarpo Quaresma.  Poderia ser assim
também na hora escolher e dar o voto.


Quando me perguntam por que eu ainda moro no Brasil, enquanto parte da minha família vive no exterior, a resposta principal é muito simples: eu amo o meu país!

É claro que por aqui se vê tanto coisas boas como ruins, mas eu me apego no que há de bom. Tem pessoas lindas por dentro e por fora, uma natureza exuberante, um clima ameno, vivo numa cidade culturalmente farta; por todos os lados há uma opção de lazer, gosto de caminhar pelo centro, é certo que haverá algo pitoresco a ser observado. Se eu quiser enumerar tudo o que amo em São Paulo, será uma missão quase impossível.

Em certo sentido, “policarpiana” que sou, eu apenas deixaria a minha terra se realmente fosse muito necessário. Tenho esperanças de que o nosso povo reconheça o poder do voto e um dia aprenda a votar. Que honre mais a pátria, que o patriotismo exista de coração aberto. Brasileiros são naturalmente amáveis e eu uma sonhadora incorrigível...

Em ano de Copa do Mundo as ruas ficam cheias de bandeiras, todos vestem a camisa canarinho. Acho lindo! Mas depois vai tudo para a gaveta e só daqui a quatro anos é que iremos demonstrar novamente algum gesto assim. Pensando bem, não seria apenas uma torcida enlouquecida por uma seleção? Então a pátria não tem nada a ver com isso? Deveria... como deveriam os jogadores ao menos saber a letra do Hino Nacional para não fazer feio ao balbuciar algumas palavras diante das câmeras de televisão.

Falando assim vão pensar que realmente sou uma discípula de Policarpo Quaresma, e que só me falta defender o uso da Língua Tupi! Eu gosto da brincadeira. Talvez por isso, dias atrás, eu já tenha chegado ao Teatro do SESC tão pré-disposta a curtir muito o espetáculo que retrata um homem pra lá de apaixonado pelo Brasil: eu também sou mas numa medida bem diferente, sem tanta ingenuidade e sem tanta euforia. De certa forma assumo que me reconheço nele em alguns devaneios patrióticos, mas que são apenas idéias utópicas, logo passam. Já Policarpo levava tudo a ferro e fogo, apresentava suas idéias aos governantes e acreditava piamente numa resposta positiva.

Para quem leu “Triste fim de Policarpo Quaresma”, provavelmente se lembre de uma leitura escolar obrigatória, talvez pesada e até chata. Mas o que eu encontrei no teatro não foi o Major insano da literatura de Lima Barreto. Num palco vazio, todo escuro, vi a mágica do ator Lee Thalor, que se transformou num Policarpo Quaresma inimaginável, carismático, por quem torci o tempo todo por um final feliz.  

Toda a trajetória do personagem central foi sintetizada em menos de duas horas de espetáculo. Num ritmo bem ligeiro, contou a passagem do tempo de forma simples e criativa, praticamente sem nenhum grande recurso além do inegável talento de cada ator e atriz presentes no palco. Tem cenas de marcha, de tango, coral dos atores, hinos oficiais e um desfile de belas roupas e chapéus que enchem os olhos, especialmente das mulheres, creio eu.

Quando eu soube que a peça havia recebido indicação ao Premio Shell de Teatro por melhor figurino, fiquei bastante curiosa e mais ainda impressionada ao perceber como a figurinista e coreógrafa Rosangela Ribeiro conseguiu com o uso das vestes substituir o cenário. Este é o terceiro ano consecutivo que a figurinista concorre. Nas palavras de Ribeiro, ser indicada três vezes seguidas é ainda melhor do que uma única indicação e um único prêmio; é ser lembrada mais vezes, e assim ter seu trabalho ainda mais apreciado.

O espetáculo reuniu atores experientes com outros mais novos, em idade ou tempo de palco. Um exemplo desta fusão é o veterano Geraldo Mario - que atua há muitos  anos no CPT e desta vez está engraçadíssimo nos seus vários papéis da peça, entre eles a Tia Maria Rita e o empregado Anastácio - com o caçula, João Paulo Bienemann, um rapaz com cara de bebê que conseguiu impressionar. Quando fui cumprimentá-lo, comentei que ele era um “João grandão” pois no palco ele crescia de tal forma que não havia como não reparar no seu potencial; humilde, ele agradeceu e se retirou. Sua voz ecoava pelo teatro numa das cenas enquanto, de canto, Policarpo se posicionava para apenas observar e anotar alguma coisa em seu fiel caderninho de bolso. Mania essa que eu também tenho!

A peça é assinada pelo respeitado diretor Antunes Filho, que segundo eu soube pouco acata sugestões do tipo, mas foi de Lee Thalor a idéia de sapatear no palco em cima das formigas saúvas que ameaçavam destruir o plantio em terras nacionais. Em defesa não só da plantação, mas também do país, de forma simbólica, aos poucos se ouve o instrumental do Hino Nacional Brasileiro com a coreografia de Policarpo Quaresma. A interpretação de Thalor vista da primeira fileira onde eu estava, era vívida, plena, marcante. Até quando ele piscava os olhos eu estava lá, acompanhando tudo.

Em momentos assim eu sinto na alma como a arte é forte e capaz de emocionar. Meus olhos não acreditavam no que eu estava vendo! Vale a pena rever o espetáculo por conta disso. Que cena linda! Eu realmente nunca tinha visto aplausos durante uma peça...

Pretendo assistir aos outros espetáculos que têm seus indicados ao Prêmio Shell como melhor ator, mas de antemão penso que será bem difícil superar a interpretação de Lee Thalor. Até o final do ano, se eu descobrir alguém, conto para vocês. Façam suas apostas!
Sair do Brasil e perder isso tudo???
Por enquanto nem pensar...




Policarpo Quaresma
Texto: Lima Barreto
Direção: Antunes Filho
Elenco: Adriano Bolshi, André Bubman, André de Araújo, Angélica Colombo, Bruna Anauate, Carlos Morelli, Carolina Meinerz, Erick Gallani, Fernando Aveiro, Flávia Strongolli, Geraldo Mario, ivo Leme, João Paulo Bienemann, Lee Thalor, Marcos de Andrade, marília Moreira, Michelle Boesche, Natalie Pascoal, Roberto Borestein, Ruber Gonçalves, Tatiana Lenna e Ygor Fiori.


SESC Consolação - Teatro Anchieta
Rua Dr. Vila Nova,  245 - Tel. 32343000


Outras informações: http://www.sescsp.org.br/



Talita Godoy
26/07/2010



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