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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Lembranças e Provocações

Estamos só no mês de abril, e 2015 já ficou marcado pelas perdas recentes na área da cultura e do entretenimento. 

Mas o que perdemos foi o fator humano, nas pessoas de José Rico, Maria Della Costa, Roberto Talma, Inezita Barroso (aos 90 anos), e ontem foi a vez de Antonio Abujanra (83 anos). Eles se foram, mas não a sua obra, que os eterniza como sendo o nosso legado, sua contribuição para a cultura nacional. 

O último dessa pequena lista, pois ela ainda é maior, tinha um programa na TV Cultura cujo nome me chamou bastante a atenção assim que soube, há mais de 10 anos: "Provocações". A cada semana um convidado, famoso na mídia ou nenhum pouco, sentava-se do outro lado da mesa do entrevistador, que desafiava o entrevistado com perguntas sobre sua vida, seu trabalho ou obra, e abria um leque de questões gerais - sempre as mesmas - o que me fazia comparar a resposta de cada um deles para a mesma pergunta. Provocações do tipo: "qual a sua maior transgressão já cometida, diga-nos, ou vamos imaginar algo muito pior..."! Alguns ficavam visivelmente surpresos e constrangidos, numa curta saia-justa, outros riam ou simplesmente confessavam seus pecados, dividindo com o público histórias inéditas. Ou: "o que é a vida..."? Perguntava uma vez. Fosse qual fosse a resposta do entrevistado, logo em seguida ele a ignorava e voltava a perguntar: "...fuano, o que é a vida..."? 

Surpresos, alguns mantinham a resposta anterior, outros melhoravam um pouco a sua ideia resumida de vida, ou ainda diziam o posto da resposta dada. Não importava quem estivesse ali, sentado à sua frente, a conversa fluia de forma aberta, franca, algumas vezes dando a última palavra ao convidado para olhar na lente da câmera, como se fosse o seu espelho, e pudesse dizer ao mundo, uma vez apenas, tudo o que ele gostaria de dizer, uma espécie de recado à humanidade, embora pudesse não resultar em nada. Vinham frases, opiniões, conselhos diversos, e enfim, especilamente nos programas dos últimos anos, ele chamava o convidado para um abraço e uma foto. Dizia ele: "vem cá me dar um abraço, que é a única coisa falsa deste programa...vamos tirar uma foto que não vai aparecer em lugar algum, a não ser que você ou eu morra logo depois do programa, aí sim a imprensa vai noticiar como o último registro seu em vida...". 

Eu achava essa parte excelente, pois ele abraçava mesmo e posava para a foto tão gentilmente, como se estivesse profetizando o fim, mas no fundo acho eu que era uma forma de ironizar a imprensa que sempre faz isso, inclusive já deixa preparado um dossiê sobre aquela pessoa importante que está velhinha, internada, e a qualquer momento protagonizará seu último evento: o de morte. É estranho, mas é assim que a mídia faz! No caso dele, creio que a foto e o comentário, no fundo, era para um álbum pessoal, em que ele registrava sua própria história, recebia pessoas importantes mesmo que a sociedade não as conhecesse. Vi no programa pessoas de diversas áreas de atuação profissional, músicos e atores desconhecidos pelo grande público, pessoas atuantes na área social, escritores, autores de teatro, pessoas das antigas, que vinham para tirar do baú grandes histórias e militantes políticos, pessoas que lutaram contra a ditadura e agora podiam falar tudo para a nova geração. 

Agora vejo, por meio deste singelo balanço do programa Provocações, o quanto pude adquirir de novos conceitos, opiniões e conhecimentos que se juntaram a minha pequena bagagem cultural. E que pena reparar que são poucas programações assim, que de fato contribuem com o telespectador, que o fazem pensar em temas incomuns, como por exemplo quando ele perguntava, a muitos entrevistados: "Quem mais fez mal à humanidade: a igreja ou os bancos"? Já parou para pensar na forte influência que estas instituições exercem sobre nós até hoje? E por último, vinha a pergunta que ninguém parecia apreciar responder, quiçá por nunca ter parado antes para pensar no assunto: "Como você gostaria de morrer, seria no hospital, com aqueles tubos e fios no nariz..."? Ente tantas respostas que ele ouviu, acabou de certa forma atraindo para si a morte em sua casa, de forma repentina, num ataque cardíaco fulminante, o que nos dá a impressão de ter sido algo rápido, embora não seja possível imaginar se doeu, ou o quanto, se foi dormindo e sem tanto sofrimento. De toda forma, fica a lembrança de uma vida repleta de bons momentos para a cultura brasileira, do filósofo e jornalista que tão bem desenvolveu diversos ofícios - aliás, ele é lembrado como ator sendo que começou a carreira aos 55 anos de idade - e conseguiu deixar sua marca na história artística do país. 

E assim como o programa "Viola, minha viola", de Inezita Barroso, que a TV Cultura continua reprisando, outras emissoras públicas já passavam programas mais antigos de Abujanra, como a TV Brasil (63.1, da TV aberta) e o canal Multicultura (2.3 da TV aberta). Espero que continuem, assim, quem ainda não tinha descoberto a riqueza deste eterno provocador, poderá procurar (também nos canais de vídeo e no site da TV Cultura) as aparições marcantes deste que partiu ontem, mas deixou um legado cultural de inestimável valor: provocações a se refletir, por isso a sua falta, ao menos para mim, será tão sentida. 
Meus sentimentos à família e amigos, e que as boas lembranças nos ocupem as emoções neste momento. 


E que venham outros pensadores a nos provocar!!!   










Foto: internet

Talita Godoy
29/04/2015


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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Teatro - "Horário Nobre"



Para quem a vida anda fácil? Além dos políticos brasileiros, é claro...! Depois de um dia de jornada de trabalho, ele chega em casa, arruma suas coisas, faz a sua assepsia, prepara o seu jantar e depois busca o seu merecido descanso.

Tudo normal, se o cenário não fosse um minúsculo cômodo, quem sabe em qual favela da cidade. A labuta se dá recolhendo lixo, ou melhor, coletando sucata, o jantar é composto por um pó diluído em água aquecida num pequeno fogareiro improvisado com as grades de um carrinho de supermercado (engenhoso, por sinal), e mais tarde vem um sanduíche de mortadela. O banho fica por conta de uma breve mão de água pelo rosto e dorso, mas a camisa para dormir é trocada. Hábitos que sugerem, possivelmente, tratar-se uma pessoa que veio de uma casa de família, onde se cultivavam, também, costumes morais além do asseio, o que se nota pelas reações que o homem tem ao longo daquela noite que acompanhamos com ele.

Além da plateia que o observa, a companhia de um garoto, do tipo adolescente crescido de cabelo verde, bermuda rasgada sobre a calça velha, escura e suja. Braços, pés e mãos pretas, não de cor natural, mas encardidos com uma sujeira impregnada na sua pele, nas suas unhas. Rosto igualmente marcado pelas aventuras ou desventuras que ele vive em seu cotidiano, sujo e com cicatrizes finas, lembrando uma navalha que o riscou de leve, mas sendo capaz de deixar um traço eternizado na pele e na alma.

A relação entre os dois – Zé e Rato - se revela ao longo de um diálogo em torno do mais novo objeto da casa, cuja origem é questionada e se torna motivo de ofensas e provocações, devolvidas à altura: “trombadinha”, “ladrão”, “bicha”, “bichona”, e... “bicha velha” (e aeee), são algumas das expressões usadas entre os amigos que discutem naquela noite muito mais do que “de onde veio isso”.

O nome da peça revela o tal objeto misterioso que se torna o pivô da briga: uma televisão antiga e quebrada, que não funciona, mas custou tudo o que o garoto tinha naquele dia. Ficou sem ter o que comer, mas alimentou o sonho de ser como os artistas da TV e fazer algo que todos iriam assistir e gostar, ser um astro, mudar de vida para sempre. Fácil assim. Nada na geladeira (que geladeira?), mas tudo na televisão: sonhos, esperança, a ilusão de ser feliz.

Saí de lá pensando: que poder é esse que a mídia tem de influenciar pessoas nesse nível, a ponto de fazerem trocas insanas (como essas e outras) ou de simplesmente acreditarem tanto no que vem dela?

A televisão se torna para aquele personagem algo a ser adorado, idolatrado, e para o qual ele sacrifica seu pão do dia, ou seja, o seu salário que dava apenas para se alimentar. E a maneira como ele defende o seu novo ídolo é impressionante, pois levantam-se ameaças de violências e até de morte. O quão banal se torna a vida humana em meio a uma crise de nervos provocada por uma ilusão?!

Quais são os valores que um veículo comunicação, como a TV, nos tem ensinado a cultivar nos dias de hoje? Não é este o seu papel, mas não se pode negar o quanto esses meios nos influenciam de alguma forma. Igualmente se dá o conservadorismo* no qual alguns se agarram deixando de acompanhar as evoluções que buscam aproximar pessoas por meio de exemplos de tolerância, respeito, consideração e civilidade, como gestos democráticos.

O que nos falta, então? Cultura? Informação? Educação para a cidadania? Paciência? Aceitação? É bom lembrar que a tecnologia abriu um portal eterno para a globalização, o que significa estar em vários lugares, ainda que de forma virtual, entrar em contato com o diferente, com o novo, e nem sempre aquilo que é comum aqui é comum ali, o aceito aqui pode não ser aceito ali, e da mesma forma o que mais tem valor é saber enxergar as diferenças, de toda espécie, e manter acima de tudo o respeito seja por quem for, a todo tempo.

Com o tal avanço tecnológico, parece que nem todas as mentes foram capazes de acompanhar as evoluções que decorreram. Há um ditado, se não me engano árabe, que diz que o homem evolui a passos de camelo...não dá para esperar que todos avancem por igual, nem a uma velocidade que acompanhem a tecnologia.

E como ficam as relações humanas? E como fica a relação de Zé e Rato?  Um quer dormir para acordar cedo e voltar ao trabalho, o outro quer uma grana emprestada para fazer funcionar não apenas uma televisão, mas a sua fábrica de sonhos... Haverá um acordo possível ou podemos esperar por uma tragédia?    

Por isso a provocação inicial: para quem a vida anda fácil? E como podemos melhorar a situação atual, uma vez que ninguém é perfeito? Será que a TV responde?

Quem leu até aqui não imagina o quanto estou me contendo para não comentar o final, assista a peça para falarmos sobre isso depois....!!!!!


Teatro Minimalista

O texto de Paulinho Faria trabalha a dificuldade que o ser humano tem de suportar o outro quando as ideias são divergentes. Ponto de vista interessante quando se entra no ambiente em que os personagens estão e o público divide os olhares entre os objetos de cena do quarto onde vivem Zé e Rato. Elementos incomuns para quem frequenta salas de teatro mais luxuosas, com poltronas estofadas de veludo, carpete no chão e paredes revestidas de elementos que proporcionam uma boa acústica ao lugar, ou luzes que geram um efeito especial, além de cenografia impecável, colorida e tão atraente aos olhos.

Se você espera ver algo assim, nesse não - aviso que a visão será outra. A descrição inicial não pretende afastar o público da cena, muito pelo contrário, a ideia central é mexer com os sentidos por meio de uma verdadeira experiência sensorial de visão, audição, olfato e não apenas pelo que se vê, mas vivenciando momentos em que os atores nos colocam em contato com a sua escuridão.

Trata-se de um desafio impressionante, curioso, muito distante do nosso dia a dia, e por isso mesmo se torna tão atraente acompanhar de perto o dilema que os dois personagens travam naquele começo de noite e ver de perto as suas reações quando provocados e ofendidos, na mesma proporção.

A experiência sensorial e a aproximação do público com o enredo resumem o principal intento do teatro minimalista, conceito que o autor da peça “Horário Nobre” segue há alguns anos, tanto em seus textos, os quais encena, como ensinando em oficinas de teatro.  Paulinho Faria também assina a direção do espetáculo com Elisa Fingermnn, que, além de talentosa, nos cativou com sua simpatia ao receber seu público no espaço Contraponto, que tem lindas e enormes obras de arte no saguão.

Além do texto e da interpretação dos atores, outros elementos podem compor o “espírito” do teatro minimalista, como o excelente trabalho de maquiagem - no caso de “Horário Nobre”, feito por Vanessa de Souza Barbosa, que me impressionou com cicatrizes e sujeira no corpo dos atores, descritas acima - como o cenário e o figurino das peças, que, quando acontecem em espaços menores, causam ainda mais impacto no público, que parece se sentir dentro do cenário, participando da cena.

Experiência foi o primeiro termo que usei para comentar a peça, minutos depois que ela acabou. Reflexão foi o segundo! O texto de Paulinho Faria nos provoca exatamente isso, torna-se impossível não sair de cada trabalho dele sem um balaio mental cheio de perguntas, muitas sem respostas, mas que cumprem a missão de nos incomodar, nos tirar do lugar comum e exercitar a indagação, a revisão dos meus próprios pensamentos prontos, meu próprio conservadorismo ou meus pecados ocultos, e quem não os tem?  




  Antonio Destro e Paulinho Faria (divulgação)


Texto inteligente é assim, nos faz pensar e querer que mais pessoas aceitem o convite-desafio para vivenciar uma nova experiência, vendo Paulinho Faria em cena, dessa vez o ator Antonio Destro, que está ótimo, com o preconceituoso senhor que não suporta ser chamado de bicha. Por que será??? Bincadeirinha, Zé...! Você já viu Destro na TV, creio que a escolha por ele foi feliz, pois deu o tom certo da comédia dramática, ele está bem convincente como o cara bravo e sofredor, e, ao mesmo tempo, nos faz rir contracenando com o garoto Rato (que apelido mais simbólico, heim?!). Outra dica, para quem não achou muito atraente a ideia de se ambientar num barraco de favela daqueles: é bom saber que tem muita mulher pelada e palavrão na peça. A briga é feia!!!

Escreveria mais 03 laudas sobre a peça, mas deixo o link de outros textos incríveis e inteligentes de Paulinho Faria, ator presente nas melhores peças de teatro que assisti nos últimos tempos:





http://talitacomunica.blogspot.com.br/2010/07/peca-hipoteses-para-o-amor-e-verdade.html


*Termo citado em conversa com o autor, muito bem lembrado por ele.






                                                

“HORÁRIO NOBRE”

Ficha Técnica:

Texto: Paulinho Faria
Elenco: Antonio Destro e Paulinho Faria
Direção: Paulinho Faria e Elisa Fergmann
Assistência de direção e iluminação: Mariana Rezende
Cenografia: Marcelo Maffei
Maquiagem: Vanessa de Souza Barbosa
Figurino e Produção: Cia Contraponto
Assessoria de Imprensa: Pedro Autran
Arte gráfica: Elisabeth Agnello

SERVIÇO:

LOCAL: Espaço Contraponto – Rua Medeiros de Albuquerque, 55 – Vila Madalena (entre as estações do Metrô Vila Madalena e Fradique Coutinho)
DATA: Até 30/05
HORÁRIO: Sextas, às 21:30 e sábados, às 21:00
VALOR: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (estudantes e bicicletas – o local tem vagas para bikes)
RESERVAS: ciacontraponto@gmail.com ou pelo celular (11) 987277338



OBS: É bom reservar seus lugares, pois quando fui a casa estava lotada!!!


Talita Godoy
20/04/2015


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Domingo de Consolação


Geralmente crio o texto primeiro e o título depois, confesso que por falta de criatividade, mas dessa vez não foi assim. Logo veio à mente o que foi o meu domingo, 15 de março de 2015.

Falei a semana toda que estaria lá, na Avenida Paulista, para soltar o meu grito de indignação com tudo o que vem acontecendo com a virada que se deu em 2015.

Em partes também fui afetada pela crise de um certo financiamento que os “clientes” da instituição em que trabalho estão enfrentando para conseguir atualizar o seu contrato e continuar com seus planos. Sei de alguns que já se transferiram para as concorrentes. O que será de nós daqui em diante? Fiquei triste por mim, pelos meus colegas profissionais e pelos tais clientes, que talvez ainda não tenham notado isso, mas, ainda podem se dar muito mal.

Além de mim, meus colegas e dos clientes, imaginei uma possível viagem ao exterior. Comprar dólar como, com o preço nas alturas? Passagem de avião agora, nem pensar. E o visto? Como vou comprovar renda se o holerite ficou reduzido pela metade? E a renovação do aluguel, como vai ficar? Quer saber? Perdeu a graça. E os olhares sobre mim me identificando como sendo de um país corrupto, vão pensar que eu também sou! E com certa razão, embora nenhum julgamento possa ser assim, precipitado, mas é a tal da fama que se estende por onde formos.

Ainda hoje um conhecido veio me contar que teve notícia dos seus familiares, que vivem no Paraguai, e muitos ficaram desempregados porque, além da alta do dólar, está prevista uma nova redução no limite da cota que os brasileiros poderão gastar no exterior sem pagar impostos. Essa redução é comprometedora, pois as vendas vão sofrer mais um grande impacto por lá. Ele estava muito chateado, pois a crise daqui afetou aos trabalhadores de lá.

Tenho diversas pessoas me pedindo indicação para conseguir emprego, também estou à procura, por insegurança com o que será do semestre que vem. Sei de pessoas que estão sem poder andar de ônibus, pois com o aumento de preço que se deu recentemente, e sem emprego, não há como sair de casa pagando a passagem no valor que estão cobrando agora. No mercado, os consumidores estão trocando as marcas de consumo por outras de qualidade inferior, ou isso, ou não levo tudo o que preciso, sendo apenas produtos de primeira necessidade. Que feio que ficou a coisa agora! São apenas alguns exemplos da realidade vivida pelos brasileiros hoje.

Estava descrente e sentindo vergonha do país estar assim, nojo dos políticos e dos brasileiros tão envolvidos nesses escândalos todos. Precisava de um dia de consolo, um dia especial para gritar, expulsar para fora toda a minha ira, todo o meu constrangimento. E foi assim, embora eu estivesse quase amarelando, com medo de uma manifestação que acabasse mal, com violência ou roubos, de uma forte chuva que se pronunciava, do trânsito, enfim, de qualquer coisa que pudesse me manter grudada em casa, bem quietinha e segura no recanto do meu lar. No fundo queria ir!

Fui tomada por um ímpeto que me fez pular e sair de casa correndo para a Paulista. Queria muito protestar, precisava demonstrar minha indignação e não haveria modo melhor do que estar presente numa grande manifestação popular, onde estavam cerca de 1 milhão de pessoas com o mesmo sentimento que eu. 
 
Vesti um jeans, uma camisa verde e fui correndo, como se estivesse a ponto de perder um dos momentos históricos para o país. Quis muito participar, e no caminho pensei em todas as pessoas que convidei e que não quiseram ir comigo; pensei em quem não chamei porque sabia que não poderiam ir; pensei no meu trabalho, nos meus alunos, na dificuldade que eles estão enfrentando agora, na crise hídrica, na crise energética que vem por aí, no preço da passagem de ônibus, na alta do dólar. Pensei nas crianças que precisam urgentemente que nós façamos algo por elas.

Disse à minha amiga Helga que fui protestar na avenida por ela e pela princesinha Larissa, sua filha de 03 anos, que um dia vai ficar orgulhosa quando entender que o país estará numa condição melhor porque uma tia louca foi na maior manifestação dos últimos tempos por ela.

Se a gente não gritar por isso, as coisas ficam como estão. E estar ali, no meio daquela multidão toda me fez acreditar nisso, que juntos somos fortes, juntos vamos mais longe, é na base da união e da manifestação que as maiores revoluções acontecem. É urgente manifestar nossa indignação e fazer uso da pouca “democracia” que temos. Se bem que, ou o país é democrático ou não é, mas quem decide por nós são os políticos. E quem escolhemos para nos representar? Como certas pessoas continuam lá, voltam para lá? A quem damos o poder que temos? E que poder é esse? Somos uma democracia, de fato???

Espero que a geração da Lalá aprenda com os nossos erros e não permita que certos desmandes voltem a acontecer. Que eles desfrutem da bênção que é a democracia, e se lembre que democracia demanda participação popular. Foi o que fiz, quis me sentir cidadã e exercer o meu direito de manifestar minha indignação com a política medonha que hoje nos sufoca.

O problema é em quem confiar? Talvez hoje não haja opção, mas depois dessas manifestações todas, a de domingo e as próximas que poderão vir, aos poucos surjam novas lideranças, novas regras para o jogo político, haja um governo para o povo e não para os ladrões que estão no poder.

Anda bem difícil acreditar nisso, parece uma utopia, pois naquele domingo de consolação o véu caiu e vi a Disneylândia em que vivemos... O mundo de fantasia é aqui, sabia??? Eu vi isso claramente, o quanto o discurso político é mentiroso, falso, nojento e não me engana mais. Não é um discurso dos grandes que me convence, muito menos o da presidente, ou presidenta como ela mesma prefere, mas será a atitude do povo que precisa mudar, começando pelas urnas no dia das eleições e na vigilância que precisamos efetivar sobre os políticos. Um exemplo é consultar a ficha dos candidatos sem esperar pela Lei: você mesmo pode verificar, se ela for suja ou suspeita, não ajude a eleger mais um canalha. É o mínimo que podemos fazer, ou melhor, temos a obrigação de fazer.

Se votaram errado, creio que foi no engano, tentando evitar um dano maior, e agora o resultado está aí, parece que bateu um arrependimento sobre o povo e não tem conserto. Se é que o resultado das urnas foi esse mesmo, não é?! O que pode dar um jeito nisso é a pressão popular, e olhe lá!

Quero ver que pacote anti corrupção será este, prometido no dia seguinte. Fico ansiosa pela tal reforma política e fiscal que disseram fazer. E vou pra rua de novo, se achar preciso.

Para quem não sabe o que é isso, quero relatar um pouquinho da minha experiência e deixar um registro de como se deu essa minha renovação de fé. Quando cheguei na estação do metrô Paulista, que fica na rua da Consolação, já havia, segundo estimativa da Polícia Militar, cerca de 1 milhão de pessoas por lá. E como era fim de tarde, havia um grande grupo em uma lenta dispersão saindo da Paulista em direção ao centro da cidade. Na estação do metrô era imenso o número de pessoas descendo as escadas e formando fila para passar a catraca. Não seria nada bom voltar por ali, era gente demais para eu enfrentar, especialmente se acontecesse algum tipo de agitação.

Saí do metrô e imediatamente segui o grupo que descia a Rua da Consolação. A maioria caminhava com bom humor, disposição, em paz, com faixas, cartazes, fitas no cabelo, roupas nas cores da bandeira, e um grupo levava um tecido verde e azul imenso, com muita gente em baixo para carregá-lo. Me impressionei com a quantidade de famílias presentes, incluindo idosos e crianças. Bonito de se ver! Me assustou um pouco quando algum grupo parava e literalmente começa a xingar com palavrões e muitas provocações aos poucos petistas que estavam nas janelas dos prédios, incitando a ira dos manifestantes. A cena se repetiu algumas vezes.

Pensei na educação, minha mãe não gostaria de me ouvir xingando com palavrões a ninguém, mesmo a quem defenda um governo de base corrupta. Minha educação cristã não me permitiu, embora no fundo meu coração quisesse esganar aquela minoria. Também não fiquei muito à vontade quando a gritaria se voltava à presidente do país. Ela ainda merece um certo respeito por ser mulher, mãe, uma distinta senhora, mas o povo só a via como um tipo de líder da quadrilha, pessoa que deixa ladrões saquear e afundar o nosso barco.

Por um lado acabei entendendo que não se tratava de educação, mas de revolta, de liberar geral, mas ser democrático exige uma postura digna, concordam comigo?

Democracia é participação popular com respeito, deixar que o outro também exerça o direito de se manifestar, ainda que em opinião contrária. Sem educação e respeito não se exerce democracia. Foi esta a lição que levei para casa, ou melhor, com a qual saí de casa para o protesto. Fiquei com medo de haver uma excitação ainda maior e alguém partir para a baixaria da violência, e tudo perderia a graça outra vez. Que bom, ficamos na paz, o tempo todo.

Não percebi se foi em locais estratégicos, mas o grupo caminhava alguns metros e parava, os “puxadores” davam o tom de frases e breves cantorias, o povo gritava, aplaudia e continuava a caminhada. Numa dessas paradinhas vinha o Hino do Brasil, em outra o famoso “sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”, “Lula cachaceiro, devolve o meu dinheiro”, e o meu preferido, para agitar geral: “quem não pula quer a Dilma....quem não pula quer a Dilma”....foi impossível não pular bem alto e rir muito, pois foi a cara do Brasil, teve um tom de humor e ironia que de fato envolveu a todos.

Como numa prece, o grupo do centro se ajoelhou, pouco a pouco todos foram fazendo o mesmo...que pena que naquele instante não havia nenhuma câmera de televisão para registrar o momento que me pareceu sagrado...cantamos uma parte do Hino Nacional em pela avenida, de joelhos no chão, como quem clama pela Pátria Amada...salve, salve. 

Foi aí que me dei conta do quanto é profundo um ato democrático como aquele, especialmente para quem precisava recuperar o orgulho de ser brasileiro, a fé na juventude, nos estudantes, no povo. Se não é nos políticos em quem podemos confiar, ainda temos a força da nossa alma, o amor no coração para crer e lutar por um futuro melhor.











Foi lindo, incrível e talvez indescritível a sensação que tive ali, no meio do meu povo... pude verdadeiramente vislumbrar dias melhores que, agora sei, certamente virão.

Quer saber? Valeu ter ido! Recomendo a quem ainda não vivenciou uma experiência assim, sensação de luta por um Brasil melhor para mim e para vocês. Desci toda a consolação, e não por acaso saí de lá me sentindo leve, aliviada, ou, como não esperava: “consolada”!!! Teve até a presença de um tímido arco-íris, dá pra ver na foto???   


Brasil, senti em você uma pátria desprezada por alguns políticos, mas amada pelo povo brasileiro. Por isso fui às ruas e convido: na próxima, #vemprarua você também...

P.S.: Recomendo o site do amigo Ricardo Lima, um cara que não apenas tem boas ideias, mas procura colocá-las em prática  - 

 www.leisdeincentivopopular.org.br

Talita Godoy
15/03/2015


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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Convite - "Horário Nobre"







HORÁRIO NOBRE – Até 30/05/15 no Espaço Contraponto


“Horário Nobre”, um recorte do mundo destes dias que correm.
Pela Cia. Contraponto

Um aparelho de tevê antigo. E quebrado. Mudo e sem imagem. No meio do
quarto/sala.

Esse é um dos três personagens de “Horário Nobre”, a peça de Paulinho
Faria que a Cia Contraponto encena a partir de 10 de abril próximo no
Espaço Contraponto, na Vila Madalena.

Ele é que vai desencadear a ação entre os dois personagens de carne e
osso: Zé, um catador de sucata, que, apesar da vida sofrida, é um homem de
princípios e sonhos de progredir, e Rato, um vagabundo, que nada faz a não
ser acreditar que vai sair da miséria por um golpe de sorte.

Rato quer que Zé o ajude a consertar a tevê. Ele é fascinado pelo mundo
que a telinha mostra. Acha que pode ser artista. Zé, o certinho, só quer
descansar de mais um dia duro, não quer saber de consertar um aparelho
achado no lixo.

É um embate sério, mas permeado deum amargo humor, entre os dois homens.
Rato quer a tevê funcionando, pois, assim, ficará mais próximo daquele
mundo do qual quer fazer parte. Para isso, ele seria capaz de qualquer
coisa, até de perder a amizade que o sustenta na vida…

“Horário Nobre” traz um questionamento sobre a vida filtrada pelo que se
vê, ouve e lê. O público, como se estivesse a espiar por um buraco de
fechadura, observa um recorte do mundo, de seu próprio mundo, nos dias que
correm.



                          Em cena: Antonio Destro e Paulinho Faria
                           


FICHA TÉCNICA

- Texto: Paulinho Faria
- Direção: Elisa Touchon Fingermann e Paulinho Faria
- Elenco: Antonio Destro e Paulinho Faria
- Assistência de Direção e Iluminação: Mariana Rezende
- Cenografia: Marcelo Onuki Maffei
- Maquiagem: Vanessa Barbosa
- Arte Gráfica: Elizabeth Agnello

SERVIÇO

- Local: Espaço Contraponto
- Endereço: Rua Medeiros de Albuquerque, 55, Vila Madalena
- Tel.: (11) 3814-3769 / 98727-7338
- Quando: De 10/04 a 30/05/15 – Sex. 21h30 – Sáb. 21h
- Quanto: R$30,00 (inteira) R$$15,00 (Meia e espectadores que vierem
assistir a peça de bicicleta)
- Lotação:30 lugares

- Classificação: 14 anos




FONTE: http://naplateia.com.br/horario-nobre-ate-300515-no-espaco-contraponto/17/