TUDO NÃO É VERDADE
Alguns podem não ter uma plena percepção disso, mas a mídia é um imenso palco onde tudo acontece. Nele existe uma linha tênue entre a verdade e a mentira, porém, alguns responsáveis por essas inverdades publicadas culpam a competitividade provinda do imediatismo com que os concorrentes noticiam fatos. Uma das questões colocadas pelo jornalista e diretor Ricardo Kauffmann no filme "O Abraço Corporativo" se refere a veracidade do que vemos na mídia.
Sem questionar as origens, em que se pode confiar? Da mesma forma com que a mídia deveria exercer a obrigação de checar as fontes antes de publicar, o espectador da notícia também deveria exercer o seu direito de checar em outros canais se os dados da notícia conferem. Ao menos no que for de seu real interesse, pois o indivíduo acaba encontrando tempo para isso.
Dia desses, no programa Login, da TV Cultura, o tema foi o imediatismo que tomou conta da comunicação. Um dos participantes comentou que atualmente você encontra pessoas "tuitando" até dentro do cinema; e na opinião dele são tantos os acessos possíveis que não se comunica ou não se informa apenas quem não quer.
O número de informações a que temos acesso, e ao que temos necessariamente que acessar, é tão grande que chega a provocar certa disputa do tipo: "você não sabia disso"? E para provar que sabe, o usuário recebe e envia imediatamente a informação sem a menor preocupação com a veracidade dos fatos reproduzidos. Exatamente como acontece no mundo da mídia!
Mas isso é de certa forma perdoável na esfera popular. O problema se agrava quando os maiores veículos de informação esbarram na qualidade do seu conteúdo em termos de apurar: de onde vem? Quem é esse cara? Ele diise exatamente o quê?
A vulnerabilidade da mídia é largamente exposta no filme O Abraço Corporativo, que mostra a trajetória de um executivo representante de uma organização internacional. Ele trouxe ao Brasil uma teoria pronta para revolucionar as relações pessoais dentro do meio empresarial, atualmente tão estremecidas pelo uso excessivo das tecnologias para a comunicação, dispensando o contato físico, o olho no olho, a fraternidade entre pessoas que passam mais tempo juntas no trabalho do que em casa com a família.
O apelo da "Teoria do Abraço" realmente faz parar para pensar. Com simpatia e carisma próprios, o consultor de RH ARY ITNEM, conquista um grande espaço na mídia com entrevistas e reportagens por todo tipo de veículo – programas jornalísticos de rádio, televisão, sites, jornais impressos de grande circulação. Ele dá palestras e até faz uma performance em plena Avenida Paulista mostrando um cartaz em que pede um abraço aos passantes.
As câmeras do diretor registram as mais diversas reações do público, que divertem a platéia do cinema. Seus recursos técnicos não são dos mais aprimorados, mas a qualidade da técnica cinematográfica não chega a interferir no resultado final, pois o ponto forte está na mensagem apresentada que insiste em dar uma pista: TUDO NÃO É VERDADE.
Ricardo Kauffmann explica que ele obteve o direito de imagem de todos as pessoas que aparecem no filme; até aí nenhuma novidade, porém a surpresa fica no peso que tem alguns nomes destes entrevistados, entre eles jornalistas como Juca Kfouri e Heródoto Barbeiro que entrevistaram o consultor em seus programas, radialistas, diretores de grandes veículos, reitores de universidades e institutos bastante conhecidos.
Entretanto, nenhum deles procurou saber quem era, de fato, Ary Itnem, e nem perceberam a dica que estava no seu próprio nome, no que invertidamente se lê. E a resposta dada por eles para justificar tal ato falho está revelada no início deste texto. Assista ao filme e, como eu, surpreenda-se!
Talita Godoy
18/07/2010