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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Blog ANO VI - Parte III (22/10/2010)


ENTRE ISOLAMENTOS E APROXIMAÇÕES, NOVAS TECNOLOGIAS CONTINUAM TRANSFORMANDO
SENTIMENTOS E RELACIONAMENTOS. OU NÃO?!


Pelo que entendi, parece que é assim: sempre que surge um novo meio de comunicação fica a dúvida se ele vai derrubar o outro, anterior a ele.

Um exemplo foi quando surgiu a televisão, que existe há mais de cinqüenta anos. Naquela época a pergunta que tanto incomodava era se a TV seria capaz de acabar com o rádio. Não acabou, mas de certa forma se apropriou dele. Depois veio a internet, que por sua vez de certa forma se apropriou do rádio, da TV e talvez do livro impresso.

Uma imagem interessante do passado, era a família reunida assistindo a programação do horário nobre na televisão. Todos em silêncio, prestando atenção nela. O que antes era uma reunião familiar, com todos conversando, agora era uma reunião familiar silenciosa, mas ainda juntos.

Atualmente, cada um fica diante do seu próprio computador, geralmente sozinho, fechado no quarto, seja ouvindo música, olhando vídeos, pesquisando, escrevendo, cada um na sua. Mesmo na busca por companhia, nas salas de bate-papo, não dá pra saber quem é verdadeiro e quem é falso. A relação ali é puramente virtual.

Mas não é de todo ruim. Com as redes sociais, foi possível reencontrar pessoas queridas, algumas até mesmo esquecidas, outras que estão do outro lado do país ou do mundo, vivendo em outro mundo. Alguns arrumaram amores, amigos, esclareceram fatos do passado, colocaram a vida em dia. Encontraram comunidades de pessoas que pensam o mesmo que elas, que curtem as mesmas coisas, que são diferentes sendo iguais ou que são iguais, mesmo sendo tão diferentes! Poder de aproximação.

Insisto que às vezes é muito bom se isolar para fazer buscas, pesquisar, ler, sem querer encontrar algo interessante que leva a outra descoberta, e assim a gente percebe que faz parte de um mundo incrível, cheio de possibilidades. Mas como tudo na vida, internet também tem a dose certa, que cada um precisa saber medir e usar.

Há um excesso nas novas gerações que os tornam pessoas com a cara metida no digital o tempo todo, seja nos games, nas redes sociais, mas o que parece é que elas se esquecem que aqui fora existem pessoas esperando por elas, que querem ou precisam se relacionar com elas. Esses internautas exagerados deixam de movimentar os músculos, não ligam para mais nada além daquilo que estiver dentro da máquina, são muito isolados, alienados.

O lado bom é que alguns se desenvolvem bem sozinhos, aprendem a fazer escolhas, administram o seu tempo na rede, imprimem em tudo o que fazem uma certa dose de personalização, acompanham bem as novas mídias, curtem tecnologia e fazem um uso positivo a seu favor sem deixar que as tecnologias o dominem. Talvez sejam essas as mentes que vão preparar as tecnologias do futuro.

Agora pense comigo: os meios de comunicação mudaram também a nossa forma de sentir a vida? Estamos programados para novas emoções criadas a partir dos meios digitais? Nossos relacionamentos mudaram e não percebemos isso? Continua tudo igual nesta área? O que mudou foi apenas o modelo comunicativo ou o nosso cérebro hoje processa os sentimentos de outra forma? A interatividade é instantânea, dá tempo de sentir, processar e reagir tão rapidamente assim?

Já viu a força que tem um “post” no Orkut, no twitter, no blog? Imagine o problema que dá uma informação errada! E que reação ela pode causar? Entra em cena a questão da transparência e até mesmo da humildade.

Conheci uma jornalista na Bienal do livro, a Vani, com quem falei alguns minutos sobre isso, ela me contou que uma pessoa escreveu um palavrão na rede e ela reclamou pelo nível da linguagem. No mesmo instante a pessoa se desculpou publicamente, concordamos que o gesto foi nobre, ela poderia apenas ter deletado o palavrão!

O assunto surgiu durante um bate-papo ao vivo num dos estandes da Bienal do Livro em São Paulo. Era um encontro de tuiteiros que reuniu dois secretários da Educação (SP e RJ) e o diretor de um espaço cultural em São Paulo (Casa das Rosas).

A secretária do Rio, Cláudia, relatou que uma vez escreveu no twitter uma palavra com erro de ortografia. Gentilmente uma outra pessoa que leu postou na mesma hora a correção; a secretária se desculpou e agradeceu. O fato gerou uma matéria num dos grandes jornais do Estado do Rio de Janeiro comentando que errar é algo que acontece até com os educadores, e que aceitar e corrigir não é demérito algum. Não anotei as palavras exatas, mas a idéia foi bem essa, deixar o ego de lado e ser humilde, interagir de forma positiva e imediata aos fatos.

É o que entendo por relacionamento digital. Exposição para buscar e ser buscado, achar e ser achado, criticar e ser criticado, ensinar e aprender. A vida é assim, com seu lado bom e mal, vamos conduzindo da melhor maneira possível.

O que não vale a pena é entrar em intermináveis discussões na tentativa de prever o futuro, o que será que será... mas não pude resistir à provação feita, também na Bienal, em uma das palestras que assisti, de onde me vieram todas essas reflexões. O professor de comunicação da ECA/USP, Massimo de Felicce, disse que se hoje a internet deixa cada um isolado no seu computador pessoal, em pouco tempo será a vez dos telefones móveis deixarem as pessoas ainda mais ligadas o tempo todo em suas redes sociais. O cérebro já está se adaptando a esta nova maneira de se comunicar e deverá em breve criar novas conexões para uma diferente linguagem com diferentes informações? A tal provocação é: a sociedade está pronta para isso? Já somos nativos digitais?

Não existe ainda muita diferença social em nosso país com tantos analfabetos digitais, pessoa sem o devido acesso mínimo para viver num mundo assim, tão hi-tec? Eu mesma sei quanto sobre isso? Vou me isolar mais ou vou me conectar mais?

Contudo, uma coisa é divertida de se imaginar: que no futuro os velhinhos estarão todos na rede, com seu celular móvel, fazendo contato social, ou mesmo de trabalho ainda, trocando informações de todos os gêneros, marcando encontros, bailes, viagens, curtindo muito a vida ao vivo, por causa da internet.

Ops, será que isso já está acontecendo enquanto eu continuo a empregar meu precioso tempo aqui pensando??? Com licença eu vou à luta!


OBS: Os vídeos da Bienal estão no Youtub. É possível localizá-los como bienaldolivrosp. Segue um deles no post anterior (por incompetencia da minha parte não consegui baixar diretamente aqui! rs Sorry!).




Talita Godoy
22/10/2010

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