OBS: Ontem esteve no programa Roda Vida, exibido na TV Cultura, o escritor e sociólogo Domenico De Masi, autor do livro "O ócio criativo". Durante a entrevista, o autor debateu com os jornalistas sobre o modelo ade sociedade em que vivemos, subordinado ao consumo e à indústria. Ele é a favor das novas tecnologias e das possibilidades de comunicação atuais, mas alerta sobre "como" fazemos uso de tais recursos tecnológicos. Algum tempo atrás, xeretando numa biblioteca, achei o tema interessante e peguei o livro emprestado para ler. Fiquei impressionada com o modelo de vida que o pesquisador coloca, propondo que a sociedade trabalhe menos, ocupe mais o seu tempo com o intelecto e desfrute da sua imensa criatividade. Segue um artigo, escrito por mim, em junho de 2010, que revisa a evolução do trabalho, da manufatura ao uso da tecnologia, e termina com o que ainda considero uma excelente ideia, pois sou mais feliz enquanto estou em pleno processo de criação!
HISTÓRIA REGISTRA
A EVOLUÇÃO DO MANUAFATURADO AO TRABALHO VIRTUAL
Nos livros de Teoria da Administração encontram-se referências a Taylor, Ford, Weber, termos como burocracia, hierarquia, estrutura, engenharia de empresas. Mas, antes de tudo isso, observações interessantes se fazem desde a Idade Média, como aquelas citadas por De Masi (2000) no livro Ócio Criativo em que um capítulo é dedicado a relembrar como era o trabalho naquela época: as oficinas existiam no mesmo local em que as famílias moravam, os trabalhadores eram os membros daquela família e as crianças cresciam a medida em que aprendiam o ofício, o que perpetuava o negócio familiar e o seu aprimoramento.
A criatividade se consolidava no trabalho artesanal, em cada oficina era projetado, produzido e vendido o objeto. Como o mercado era pequeno, a prática de troca também era comum, o que facilitava as relações comerciais e não causava necessidades econômicas de ampla escala, focando-se na necessidade local. No mesmo espaço físico o líder da casa era também o líder da empresa, ali todos cumpriam com suas obrigações familiares, pessoais e de trabalho. E assim a história continuou até que os primeiros avanços tecnológicos permitiram o surgimento da era industrial.
Com a era industrial também surgiu a sociedade industrial. Na fábrica o ambiente não era mais familiar, havia o deslocamento físico, criou-se etapas para a produção em massa, não havia mais a necessidade de se pensar num objeto com um ciclo de produtividade completo, cada seçâo desenvolvia uma parte específica da produção, e assim sucessivamente, com o uso de máquinas que repetiam inúmeras vezes o mesmo movimento, numa cadeia de montagem.
Na sociedade daquela época ficou estabelecida a separação entre atividades do trabalho e do lar. A primeira, considerada a mais importante, ficou a cargo dos homens, e a segunda, menos importante, a cargo das mulheres. Tudo fica mais racional, a tecnologia continua se desenvolvendo e criando novas necessidades, como por exemplo, de se criar meios para vender tantos objetos iguais. Vem as chamadas lojas de departamentos, os supermercados, as tabelas de preços fixos,
De Masi (2000) continua sua narrativa dos fatos até chegar ao teletrabalho como uma tarefa capaz de extrair o melhor entre o artesanato e a indústria, ressaltando que antigamente a produção era em unidades distintas, cada família produzia algo completo e atualmente a produção se dá em unidades dependentes umas das outras, e basicamente o que será trocado agora será informação, comunicação, matérias-primas não-materiais ligadas por vias telemáticas.
Este é o que De Masi (2000) chama de terceiro tipo de trabalho (após o artesanato e a indústria): o trabalho flexível, criativo, que deixa a parte motora para as máquinas e reserva ao homem a parte intelectual, de execução.
A evolução tecnológica é o fator que mais expandiu a era da informação e cada vez mais surgem meios de se manter contato com pessoas distantes no tempo e no espaço, o que propõe uma nova forma de comunicação, que não depende de presença física para acontecer. A interação agora se dá por computadores, correio eletrônico e ainda por fax, telefone e outros instrumentos que eliminam distância, ganham tempo e implicam diretamente nas questões econômicas.
A nova geração, que nasceu depois do advento da televisão - e principalmente da Internet - acha normal que a comunicação se dê por meios tecnológicos e que a presença física seja dispensável já que o que realmente precisa ser exportada é a ideia, a criatividade, o projeto, e não as pessoas.
Quando indagado sobre a semelhança ou possível comparação entre a tecnologia de hoje com o ritmo da produção industrial, De Masi afirma que: “velocidade significa capacidade de conquistar terreno em relação aos outros na corrida da vida” (DE MASI, 2000, p.187). Ela existiu daquela forma na era industrial e existe agora em novo formato na era pós-industrial, com a finalidade de imaginar o futuro, criá-lo e impô-lo aos outros.
Passou-se da sociedade rural para a industrial e da industrial para a pós-industrial, que favorece e privilegia a mente criativa, intelectual, mas exige um corpo quieto numa mente agitada, o que De Masi (2000) chama de ócio criativo. Enquanto as máquinas trabalham em um ritmo acelerado, o homem aproveita seu tempo de forma mais criativa, podendo inventar, elaborar, projetar e sair na frente dos outros para patentear suas idéias e adquirir direito aos royalites. Esta é a nova corrida para o futuro e o teletrabalho contribuirá muito para isso.
REFERENCIA BILIOGRÁFICA:
DE MASI, Domenico. O Ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
Talita Godoy
27/06/2010
LEIA TAMBÉM O ARTIGO ANTERIOR (publicado originalmente em 2010):
http://talitacomunica.blogspot.com.br/2013/01/capital-humano-e-seu-valor-nas.html
SOBRE O VALOR DO CAPITAL HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES.
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