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domingo, 22 de abril de 2012

Um dia para morrer



   Ontem foi 21 de abril, feriado nacional. Não sei se hoje em dia muito ou pouco se fala do dito herói Tiradentes, morto numa forca, se bem me lembro. Pensei nas mortes por acidente, por assassinato, naturais e provocadas pelo próprio cidadão. Será que algumas pessoas são mortas e de fato queriam morrer? Estranho, mas você já pensou nisso?
Semana passada, em plena sexta-feira 13, estava eu no metrô, ocupando confortavelmente o acento logo ao lado da cabine do condutor – portanto no primeiro vagão - quando se ouve uma freada brusca seguida de um barulho forte, possível atropelamento. Gritos. Histeria de um público presente na plataforma a espera do trem que vinha na estação Paraíso buscar novos passageiros. Um deles, sem mais nem menos, quando viu o trem que se aproximava, lançou-se diante dos trilhos, chocando-se de maneira violenta.
Como eu sei, quem me contou?  O próprio maquinista, que após alguns minutos com o trem parado, luzes desligadas, abriu a portinha da cabine para ver alguma coisa. Aproveitei a chance e perguntei: morreu? Não, tá viva entre os trilhos. Caiu ou se Jogou? Perguntei novamente; se jogou; ele respondeu. “O senhor foi rápido em frear a tempo, meus parabéns pelo reflexo e atitude”. Ele agradeceu com um sorriso humilde, talvez sem graça ou mesmo tímido, voltando para dentro da sua cabine.
Passamos bons minutos com o trem parado, sem ar condicionado, sem luz e com a visão das pessoas na plataforma demonstrando todo tipo de reação e comentários: a moça se jogou, meu Deus do céu, tá morta! Lamentava um. Não, ela tá viva, já vão tirar ela de baixo do trem! Exclamava outro. Quem viu tudo expressou horror; uma senhora quase desmaiou ao ver a cena que de fato deve ter sido chocante. Outra jovem chorava em pânico.Também haviam os que a cosnsideraram "mina loka, aí...". Instantaneamente os jornalistas de plantão, agora representados nas figuras populares, sacavam seus celulares com a função câmera fotográfica acionada. Tratavam de registrar o ocorrido.
E mesmo os profissionais da imprensa, parece que chegaram a tempo de pegar a ocorrência em boa hora: a moça estava lá, viva e com poucos ferimentos, ao que também se ouvia dizer, apenas com os machucados da queda. O pessoal do metrô foi rápido em isolar a área, trazer a maca, mas logo me retirei pois a multidão ocupava o espaço que podia em redor. De fora do vagão havia perdido minha visão privilegiada, tivemos que esvaziar a embarcação.
Em tudo isso um pensamento logo me veio à mente: por que a pessoa não escolhe um meio prático, seguro e até mesmo íntimo para se matar? Escolher um local público, ainda por cima o transporte que mais tem tráfego de gente não parece uma boa ideia, se algo der errado aí sim vão querer esfolar viva a criatura que nem morreu e ainda serviu para atrapalhar o trânsito, parafraseando a canção do Chico.
E que incompetência é essa de nem servir para dar um fim à própria vida? Como conviver com esta imensa frustração? Ah não, morrer assim para mim não serve! Foi o que pensei de imediato.  Que falta de consideração para com aqueles que nada tem a ver com isso, que nem se importam com a vida ou com a morte da moça!
Minutos depois meus pensamentos foram esfriando e logo parei um instante para pensar no estado de espírito em que um ser humano e racional deve se encontrar para se decidir por tal atitude. E que de fato para a maioria deles, ninguém se importa com suas emoções, sentimentos e sofrimentos.
Então por que viver assim, sofrendo por sei lá o quê? E também por que se matar se você pode reverter o quadro tomando as rédeas da sua própria vida, se dar o devido valor e ir à luta por um mundo melhor para si?! Quem se importa é você mesmo, quem constrói ou destrói é você mesmo.
Seu maior investidor é você mesmo. Invista em você: estude bastante, adquira o maior bem do mundo que é o conhecimento e este nada nem ninguém tira de você e com ele você cresce e aparece! Divirta-se, desencane dos problemas cotidianos e curta você mesmo com você mesmo, sem esperar o par perfeito, talvez ele nem exista! Seja você uma companhia agradável, se alguém perceber e te der valor por isso ótimo, senão, danem-se os outros, você pode se curtir à vontade!
Trabalhe com o que gosta, faça o melhor possível para satisfação pessoal, os frutos vão surgir aqui ou ali, pois se achar preciso troque de emprego assim que puder: já! Namore mais vezes, sinta-se livre para amar e amar quantas vezes quiser, inclusive a você mesmo dando um tempo sozinho para se conhecer melhor!

Não precisa ser literalmente mas cante, dance, sonhe, respire fundo! Não importa como anda a vida agora, se pensar positivo sobre si mesmo, logo terá ideias boas para transformar o limão em limonada. A situação vai melhorar, acredite, pois a vida é cíclica, tem altos e baixos, nenhum mal estar dura para sempre.

Se mesmo assim resolver dar um fim à sua preciosa vida, evite fazer isso no metrô... Antes pense: ela mesma decide por conta própria quando terminar. No caso da moça do metrô, não era o tempo certo. E agora?!  Qual a reação?

Queria contribuir para melhorar a vida de alguém, mas como saber ao certo o grau de satisfação que as pessoas têm com a própria vida? É fato que muita gente pensa na morte, prefere morrer. Ninguém sabia das intenções daquela moça do metrô, em plena estação Paraíso? Será que convivo com alguém tão infeliz assim?
Pensei na vida dos que estão ao meu redor. Espero que estejam bem...  
Obs: Leia Zigmunt Bauman para entender os fragmentos da vida e os objetivos da vida: Entre Turistas e Peregrinos.
TALITA GODOY
ABRIL / 2012
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