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sábado, 30 de outubro de 2010

MEMÓRIA

Carlos Drummond de Andrade


Amar o perdido deixa confundido este coração
Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não.

As coisas tangíveis tornaman-se insensíves à palma da mão
Mas as coisas findas, bem mais que lindas, essas ficarão.



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Ao meu amor por minha mãe.

Aproveito aqui para agradecer todo apoio recebido por mim dos amigos mais que queridos e parentes tão preciosos que me sustentaram neste primeiro ano sem minha mãe, entre eles: Fabiana, Tati, Shirley, Joca, Paulo, tias Iris e Imilse, Lira, Nery, Denise, Joaquim, Lenita, Jocy, e especialmente à Helga, que esteve comigo quando recebi a notícia e foi a primeira pessoa a me amparar! Obrigada pelo carinho de vocês, isso me dá muita força e me motiva a seguir em frente...

Talita Godoy
05/11/2010






Yolanda F. Godoy
(19/04/1938 - 06/11/2009)



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terça-feira, 19 de outubro de 2010

TANGO para dona TEREZA



     De fato: a idéia parecia complicada e era. Um ciclo de palestras a serem elaboradas, desenvolvidas e aplicadas numa ONG de assistência social tendo como público-alvo alguns dos moradores de ocupações indevidas nos prédios abandonados no centro de São Paulo. O objetivo era levar informações úteis e práticas que pudessem servir àquelas pessoas de alguma forma. O projeto foi apresentado aos meus colegas do curso de Instrutor de Treinamento, em maio de 2010. Os cinco amigos acharam tudo lindo e queriam ajudar pois assim estaríamos colocando em prática toda a teoria aprendida no curso além de ajudar pessoas necessitadas. Tanto que o apelidamos de Projeto de mão dupla, ajudando e sendo ajudados.

Ao entrar em contato com o Leandro, coordenador da ONG e meu amigo pessoal, ele gostou e nos apoiou liberando toda a infra-estrutura que fosse preciso, até mesmo para nossas reuniões de elaboração. Era só arregaçar as mangas para pôr a mão na massa, só que bem nessa hora... que coisa, infelizmente não vai dar... eu queria tanto participar do projeto! E assim a Talita ficou em carreira solo, mas quem mandou gerar a idéia? Agora cuida que o filho é seu. Outra opção seria usar isso como desculpa, fiquei só, mas não sou de desistir, e quanto maior a dificuldade, maior o desafio.

E para relaxar a mente, fui ao teatro. Estou sempre buscando relaxar a minha mente dessa forma, é uma excelente terapia, tente para você ver! A peça da vez foi “Hipóteses para o amor e a verdade”. Soube que os atores entrevistaram pessoas que moram na região do teatro e com as suas histórias foi montado o enredo do espetáculo. Daí surgiu a idéia de investigar o meu público para verificar se o que eu havia programado estava de acordo com a realidade de vida deles. Agora sozinha eu não poderia cometer furos, a quem eu empurraria alguma eventual culpa?! Ainda vou perdoá-los, prometo!  


PESQUISA DE CAMPO
Enfim, a visita técnica. O Leandro me deixou com a Rose, uma agente social que logo de cara me fez caminhar 6 quilômetros da Sé até a rua Mauá, nos arredores da Estação da Luz. Contei a ela que no dia seguinte minhas pernas tremiam! Entramos nos cortiços, falamos com algumas pessoas e se eu entrar em detalhes aqui não paro tão cedo, então vou pular essa parte.

Deixe-me apenas contar da entrevista que fiz com a Flavia, uma jovem na casa dos 25 anos que cria sozinha 3 filhos. Ela é sustentada pelo auxílio do governo, ganha R$40,00 por criança no bolsa família. Perguntei se ela gostaria de trabalhar, ela afirmou que sim, mas está difícil conseguir emprego. Perguntei por quê. Ela respondeu que era por falta de escolaridade e me contou que agora se arrepende, mas quando era criança não levava os estudos a sério e nem se quer aprendeu a escrever. Ela lê um pouquinho, meio devagar, mas escrever é só o nome. Já a Ester, que mora do outro lado da rua, completou o ensino médio mas também está com dificuldade de conseguir emprego pois ela nota que há muita concorrência e ela precisa de qualificação. Perguntei se ela gostaria de fazer um treinamento que a preparasse para uma entrevista de emprego e ela disse que sim, "seria muito bom se tivesse isso lá na ONG", nas palavras dela com um sorriso leve e olhos arregalados, sinalizando esperança.

Achei exatamente o que procurava. O tema que seria alvo do meu novo projeto deveria se limitar a isso - entrevista de emprego. Voltei para casa e cancelei o resto. Apesar da minha boa vontade eu não tenho como abraçar o mundo. Com meus desistentes talvez desse certo, mas sozinha eu fiquei limitada. 

Mas foi ótimo estar presente ali, mesmo que eu tenha passado por momentos que ficam melhores se esquecidos, como a caminhada pelo corredor de chão perfurado, em que pelas brechas se via o andar de baixo, com a madeira que afundava a cada passo meu e da Rose. As paredes altas terminavam com as telhas que cobriam o teto, cheio de fios soltos, pendurados, prontos para dar um curto circuito. No final do corredor, uma escadinha em curva para os fundos do casarão abandonado pelo tempo. Uma poça de esgoto dava ao lugar um cheiro insuportável. A moradora nos pediu desculpas, mas avisou que já iam consertar a fossa. Um único banheiro para muitas famílias, que vivem separadas por cômodos.

Imaginei se elas tinham o que comer, mas vi nas “casas” geladeira, microondas e televisão de tela plana. Onde e como eles conseguem aquilo? Na saída, uma mocinha com o bebê no colo parou a Rose perguntando se ela poderia conseguir uma vaga na creche. Ela estava precisando arranjar outro emprego pois ali no bar não tinha registro em carteira, ela queria coisa mais segura. Ter os filhos numa creche é artigo de luxo, mas é necessidade fundamental para aqueles moradores. Alguns desistem de trabalhar por que não têm com quem deixar as crianças.


SEGUNDO ROUND
Fim do primeiro dia. Deixei passar um tempo para eu assimilar tudo aquilo, refiz a palestra e achei que era hora de voltar para uma segunda visita, e de novo verificar se o alvo agora estava correto. Pedi à Rose que me fizesse caminhar só a metade dos 6 quilômetros anteriores. Ela concordou com o meu apelo, andamos só uns 3 ou 4. Naquele intervalo entre as visitas, continuei trocando email com ela, fazendo perguntas, vendo fotos e um vídeo que me chamou a atenção, era a dona Terezinha falando muito, adivinhando coisas, perguntando o tempo todo, fazendo as pessoas rirem. No final ela mostrou a sua voz incrivelmente afinada, doce e potente. Era Fascinação. E talvez a melhor expressão para defini-la seja essa, uma pessoa fascinante como a sua música.

A Rose me levou até a sua casa: um quartinho onde cabia nos fundos um colchão, no meio um fogãozinho de duas bocas, no canto uma geladeira; nas prateleiras alguns mantimentos e artigos de higiene pessoal. Era ali, que aos 63 anos, ela viva mas fez questão de nos fazer sentar com ela e ouvir sua história do passado de glórias quando ela foi na TV cantar no Programa do Chacrinha, no Sargenteli e tantas outras apresentações. Disse que na casa dos seus pais, no interior, ela tinha álbuns de foto e troféus dos programas de calouros. A Rose sugeriu que quando ela tivesse de novo uma casa para morar ela trouxesse essas preciosidades com ela. A dona Tereza concordou pois eram recordações de uma vida glamorosa, abastada, lembranças de uma vida muito boa e feliz.

Ela nos contou do dinheiro que ganhou cantando na noite e que em pouco tempo houve uma reviravolta, foi perdendo tudo, até a família e os amigos. Atualmente ela só recebia ajuda quando cantava numa paróquia ali perto. Ela estava com pneumonia, mesmo assim fumou um cigarro inteiro na nossa frente. Eu e Rose em fumo passivo. A Rose falou com ela sobre isso, mas ela disse que havia ganhado o cigarro! E tossiu.

Hora de ir, mas antes ela fez questão de nos retribuir a visita com a sua especialidade: música. Perguntou se eu queria ouvir Fascinação, mas essa eu já tinha assistido em vídeo, pedi a outra, e ela cantou Tango para Tereza. A melodia era tão linda naquela voz, e a letra pareceu tão triste que não resisti, segurei as lágrimas, mas meu coração por dentro silenciosamente chorou!

Que pessoa impressionante, ela prendia a atenção de qualquer um com seu jeito artístico até para falar. Ela interpretou a música com a própria alma. Coisa linda de se ver e ouvir.

Desta vez o dia havia começado muito bem. Já nas visitas seguintes, vi novamente muita miséria, mau cheiro, crianças descalças pisando no lixo, algo deprimente, mas que logo deu lugar a outros pensamentos.


SILÊNCIO
Quando saímos de lá em retorno à ONG, falamos na dona Tereza. Foi uma honra tê-la conhecido e só de poder ouvi-la, já me senti bem, como se aquilo por si só já fosse uma missão cumprida. Lembram do texto sobre o "SILÊNCIO"? Ouvir é muito bom. Aposto que ela gostou de ter recebido atenção ser ouvida em dose dupla! A Rose foi muito elogiada por ela, chamada "anjo da guarda". E aquele anjo loiro estaria algumas horas depois velando o seu corpo morto, providenciando um enterro decente para ela, dona Tereza que se foi logo depois que saímos da sua casa. Contaram pra Rose que ela teve uma crise de falta de ar, tentou ir ao pronto socorro mas desmaiou na rua. Foi socorrida, mas no hospital ela veio a falecer com insuficiência respiratória. O líder da ocupação em que ela morava ligou para a Rose, ela foi até lá e definitivamente se despediu da dona Tereza.

No mesmo dia. Ela sorriu conosco, cantou especialmente para nós. Sugeriu que o Leandro organizasse um Sarau na Ong... e quem leu o meu texto sobre Sarau pode imaginar de leve o que foi que eu senti quando ouvi a sugestão dela: que idéia brilhante! Só que agora ela não está mais aqui para cantar. Será que outras Terezas virão?!

Quando fui criticada por alguns amigos sobre o trabalho na ONG, expliquei a minha amiga Dani mais ou menos o seguinte (segue parte do email que enviei a ela):

“Consegui cumprir plenamente o meu objetivo que era ver com meus próprios olhos a realidade de vida daquela gente: miséria plena. Além disso, eu disse pra Rosangela que é deprimente, cansativo, a energia é péssima, mas o lado bom é justamente o choque social. Depois de passar por ali, qualquer pessoa se torna mais humana, mais gente... menos diferente, menos "melhor" que os outros, passa a dar mais valor à sua vida, à sua condição no geral, e passa a dar menos importância a "coisinhas". A experiência foi excelente, de uma grandeza inexplicável. Eu precisava disso para compor a palestra que estou elaborando, e na verdade a primeira visita derrubou todo o trabalho que eu já tinha feito, pois eu imaginava o baixo nível, mas depois eu vi que era muito mais baixo... reelaborei, e precisei de uma última visita para conferir se agora sim eu havia atingido o ponto certo. Fica tranqüila, pois de certa forma gostei de sofrer, foi por uma causa nobre que não vai se repetir, ao menos não tão cedo. Mas se eu sentir de novo "o chamado", aí sim eu vou... disse a Deus: Eis-me aqui, Senhor! E ele me enviou. Só crendo em Deus para entender o que aconteceu no episódio da dona Tereza. Valeu a pena pois tive isso em mente, que foi um trabalho especial e que já foi concluído. Quanto as más energias, eu dei o meu melhor, passei muita coisa boa, depois precisei me recarregar, mas isso Deus fez por mim!!! Já estou ótima hoje, quase no meu normal, ainda meio pensativa, mas em ordem. Obrigada por se preocupar - pode crer que estou nos braços de Deus!!!”

E assim fui levando a sério minha tal missão na vida que é aprender e servir.

A propósito, a ONG tem muito projeto bacana, quem quiser conhecer, se envolver de alguma forma e colaborar com a sua particular responsabilidade social, pode saber mais via site:





Talita Godoy
19/10/2010



Segue o video da dona Tereza cantando Fascinação. Gravado há alguns meses, pelo Leandro, na ONG CIEDS. Abaixo, a letra da música que ela cantou para nós. Postado em homengem à dona Terezinha e à Rose, que também acho ser um anjo!!! Obrigada por me proporcionar aqueles momentos inesquecíveis no seu trabalho, que só eu sei como é grandioso. Rose: você é uma pessoa preciosa!!! Bjs com carinho, Talita.

E canta, dona Tereza, faz o que a senhora mais ama nessa vida:





Tango para Tereza


Composição: Evaldo Gouveia e Jair Amorim


Hoje alguém pos a rodar
Um disco de Gardel no apartamento junto ao meu
Que tristeza me deu


Era todo um passado lindo
A mocidade vindo na parede me dizer para eu sofrer
Trago a vida agora calma
Um tango dentro d’alma
A velha história de um amor que no tempo ficou . . .

Garçon ponha a cerveja sobre a mesa
Bandoneon toque de novo que Tereza
Esta noite vai ser minha e vai dançar
Para eu sonhar . . . .

A luz do cabaré já se apagou, em mim
O tango na vitrola, também chegou ao fim
Parece me dizer
Que a noite envelheceu
Que é hora de lembrar
E de chorar . . . . .





*** *** ***

domingo, 10 de outubro de 2010

SARAU No Centro da Terra



Cultura brasileira tem sua diversidade
representada durante Sarau
"Noites na Taberna", no Teatro do Centro da Terra



Reunião festiva, de noite, em casa particular, clube ou teatro; concerto musical noturno. Do galego, serao. Definição interessante. Mas o que o dicionário não nos conta é o quanto um sarau pode ser animado, envolvente, inspirador, criativo, e juntando tudo isso: muito divertido!

Este acontece uma vez por mês na casa do Ricardo... ou melhor, na Taberna do Teatro do Centro da Terra. O público, em termos de idade, era um dos mais variados que já encontrei em minhas andanças culturais por Sampa. Hvia um grupo de senhoras e havia uma adolescente, que participou lendo uma poesia. Ficam todos à vontade, pois o lugar é tão aconchegante quanto o teatro; e o pessoal que me recebeu ali, o fez com a mesma cortesia como da vez anterior, no Teatrokê (sim, um teatro com karaokê!).

Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi espiar entre as madeiras que formam as paredes do lugar. Atrás tem verde, plantas, é escuro, intrigante. Mas enfim entrei na taberna. Meia luz, vinda de velas postas na boca das garrafas de vinho sobre a mesa. No alto, uma rolha de cortiça pendurada na ponta de uma corda que ia até perto do teto, passava por um gancho e seguia até um sino. Em cada mesa uma engenhoca dessas. Logo vou descobrir sua dupla função. Tudo de madeira, banquinhos altos e baixos, mesa coberta com uma grande toalha escura. Sobre ela uma cesta de vime com pedacinhos de pão, potes de patê e começamos a nos servir. Cada um recebe uma comanda na portaria com o item e o preço. É só o que você vai gastar, a bebida que consumir.

E assim que a casa estava lotada, surge o anfitrião, Ricardo Karman, elegantemente trajando jeans com uma camisa branca e um casaco aveludado vermelho, comprido, cheio de detalhes na gola e nas mangas, com os punhos contornados com uma bonita renda clara. O clima era perfeito.

Comm sua marcante voz ele nos saúda e faz a abertura do sarau lendo um poema, ato repetido muitas vezes na noite, tanto por ele mesmo como pelo público, que entusiasmado puxava a rolha fazendo o sino tocar em sinal de quem pedia a palavra. Eis a função principal da engenhoca, a outra era para chamarmos o barman que servia o vinho e outras bebidas antes do sarau começar.

Naquela noite estreava o “cardápio” digital, um E-Book (lembra?!) de poesias, que passava de mão em mão. Para participar lendo, era só fazer a escolha do texto e bater o sino. O mesmo para cantar e recitar. Algumas das composições foram feitas na hora! A qualidade das leituras, dos músicos com o seu jazz, e o talento daqueles que se apresentaram espontaneamente, era admirável, amadores ou profissionais, um presente aos meus sentidos!


APRESENTAÇÕES

O primeiro desses talentos que abrilhantaram aquela noite foi o ator Paulo Netho, que por coincidência eu tinha visto em agosto no SESC Pompéia, brincando com a garotada na exposição "As palavras e o mundo". Ele fez o mesmo agito com o público do sarau e foi igualmente prestigiado. Ele declamou poesia, cantou, nos fez estalar os dedos no ritmo do blues e responder sim quando ele cantava não e fom-fom quando ele cantava bi-bi... numa divertida brincadeira que não tenho como descrever, só mesmo participando para sentir a facilidade com que ele ganhava a manifestação do público!

E vamos fazer um trato, eu, você e o gato! Além deste divertidíssimo poema da sua filha, Lucélia Machiavelli interpretou um poema de Adélia Prado, que arrancou daplatéia risos e aplausos, ela estava inspiradíssima. Se nos encontrarmos outra vez eu peço o poema do gato para postar aqui.
 Roberto Mahn leu poesia e cantou à capela um samba de Noel Rosa, que na noite seguinte ele apresentaria com Rolando Boldrin no programa Senhor Brasil, da TV Cultura. Eu também assiti e foi lindo! Mahn veio de Piracicaba, estou acreditando que vem coisa boa de lá. O ator Paulinho Faria tem um pezinho em Pira e por meio dele conheci o Blog do poeta piracicabano Camilo Quartarollo. Até agora gostei de todos os produtos culturais desta cidade do interior paulista!

E para minha maior surpresa – e talvez para espanto geral – um jovem músico e compositor da Bahia, chegou de mansinho, mostrando a que veio. Antes, uma moça citou algo sobre namorados, e Cauê Procópio já demonstrou sagacidade pelo gancho usado logo de cara: disse que iria declamar em homenagem à ela, fazendo referência a tal citação. E o fez com toda sua interpretação característica dos nordestinos, me fazendo ver cada cena recitada com as rimas típicas dos repentistas. Imagine, uma mitologia das histórias de Lancelot que o artista adaptou ao povo do sertão. De tão encantador, ao final aplaudimos, assobiamos, alguém gritou Bravo! Foi a sensação da noite!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Talita nas horas vagas


Para começar bem o dia, algumas vezes pego um livro e vou lendo no caminho para o trabalho. Não raro devoro a leitura em pouco tempo, e então, no dia seguinte escolho ouvir música, algo como Sara Brightman ou Emerson Nogueira. Se encano em alguma ouço até furar o disco. Por isso fico feliz da vida quando descubro algo novo, um som capaz de me tirar do (meu) comum e  me fazer curtir o diferente. Deve ser por isso que fica difícil compartilhar o que gosto, quase ninguém conhece, e quando conhece, já passou, demorei e a pessoa até já descurtiu. Pois que seja.

Dos livros que gostei tem Machado de Assis (Dom Casmurro, entre outros), Edgard Morin (cabeça bem-feita), Jorge Amado (li Quincas Berro D’água esses dias, depois de ver o filme) e alguns autores mais ousados como Domenico De Masi, com o livro Ócio criativo, e Clemente Nobrega, com Supermentes. Por isso é maravilhoso estudar e pesquisar em geral, fico fascinada com as descobertas que faço e me dá um certo desespero saboroso imaginar quanta coisa está por vir. Me sinto muito aquém do conhecimento que eu gostaria de ter. Minha mente é insaciável, inquieta, mas nunca dá conta de chegar ao ponto ideal. Ele existe? Sigo em busca.

 
FILMES
Dos filmes que gosto, descobri uma única pessoa que já viu Into the wild. Ganhei o movie de um amigo que me disse: veja isso, é a sua cara, você vai gostar. O que mais me chamou atenção não é que o personagem Alex Supertramp (apelido que ele adotou) era um rapaz rebelde e bem revoltado. Que imagem aquele meu amigo fazia de mim, heim?! Talvez fosse por causa da parte em que Alex demonstra ser assim em subversão à falsidade, à hipocrisia, ao consumismo pela posição social, e que por não se conformar com nada disso resolve tomar uma atitude. Não considero das mais inteligentes ou das mais práticas, porém confesso minha vontade de fazer o mesmo: dar uma banana pra tudo e pra todos, sumir no mundo, sair dele dignamente, em contato íntimo com a natureza selvagem. E adivinhe só quem mais viu este filme? Paulinho Faria, outro rebelde sem causa!

Sideway, entre umas e outras - ainda não achei quem tenha visto, sendo assim acabo preferindo escrever como se fosse publicar uma resenha. Fiz isso outro dia, em alguma página dessas que vem junto com a conta nova de email, talvez no gmail ou no Hotmail, nem sei, devo ter esquecido a senha com tudo perdido por aí. E ficou bacana, comentei quase todos estes citados aqui. Melhor eu procurar, afinal de contas é uma produção intelectual minha... e vai que depois disso alguém se manifesta dizendo: não foi só você, eu também vi esse filme!!!

Na minha lista de filmes mais vistos estão Tomates verdes fritos, que me fez chorar como tantos outros filmes sobre amizades verdadeiras! Godfather – a trilogia do Poderoso Chefão, com a última cena inesquecível de Al Pacino brilhando como uma estrela de suma grandeza. Robert de Niro interpreta o patriarca quando jovem, que era Marlon Brando, (ou era Marcello Mastroiani?! Gosto dos dois, e sempre os confundo, como Al Pacino e Robert De Niro!) e acho incrível como ele pegou todos os trejeitos do velho padrinho Corleone. Grandes atores. Andy Garcia e Talia Shire também estão na obra. E ela, faz o par romântico de Rocky Balboa, que também vi e revi os 6 filmes com a mesma emoção. Aquela música tema é o máximo, linda e muito inspiradora. Gosto muito até da jaqueta Eyes of the Tiger! Falei pro Paulinho Faria que às vezes penso no treinador Mickey dizendo para Rocky : sem dor! E isso me estimula a continuar quando as coisas parecem difíceis, quando parece que deu o meu limite, e então me animo outra vez e consigo ir um pouco adiante.

Esses filmes de treinos são ótimos por isso, mostram a coragem e a persistência de quem quer muito vencer. Outra trilogia (dupla) que tenho e gosto muito é Star Wars. O roteiro é ótimo, a música e os efeitos, tão criativos para a época que continuarão por muito tempo encantando gerações. Eu mesma vou assistir ainda muitas vezes. Gosto de aventura, tenho Indiana Jhones do 1 ao 4, o mesmo ator que começou e brilhou em Star Wars agora em aventuras do arco da velha, acho o improvável divertido, e aquele jeito sedutor de Henry Ford, é mesmo irresistível. Isso me lembra a série 007, que admiro e vi diversas vezes, até Pierce Brosnan, mas aí perdeu a graça. Bom mesmo era com Sean Connery e Roger Moore, meus preferidos.

Perfume de mulher, O nome da rosa, Cabo do medo, Taxi Driver, Philadelphia, Nove rainhas, e alguns clássicos também estão na minha lista de preferências, como Cantando na chuva, E o vento levou, Noviça Rebelde, Casablanca;amo filmes de época: Sonho de uma noite de verão, Bonie & Clayde, Quando Nietzche chorou, Nunca diga nunca, Adorável Julia, Luthero, filmes com Os três patetas, Jerry Lews, Charlin Chaplin, Os Trapalhões. E falando neles, tem as comédias inteligentes e as bobinhas também. Por aqui sempre tem algum filme de Ben Stiler, ele é ótimo! Gosto de A inveja mata e Com a bola toda, Zoolander, Antes só do que mal casado, Quem vai ficar com Mary. Julia Roberts: seus filmes são leves e faz muito bem vê-los, como Noiva em fuga, Uma linda mulher e O casamento do meu melhor amigo. Por incrível que pareça foi uma lição pra mim este filme, me identificava muito com a personagem Juliene, por seu jeito super sem jeito com os homens, até descobrir tarde demais o quanto ela amava o seu melhor amigo! Passei por isso e foi um drama, contudo aprendi a lição... Como ela, eu também tenho um outro grande amigo para meu consolo nas horas difíceis!

PARA RIR
Uma comédia simples, que assisti recentemente e gostei, é Um casamento e um funeral, conta a história de um agente funerário usado por mafiosos para encenar a morte de um deles. Gosto de filmes com mafiosos, não sei bem por quê! Dramas também fazem minha cabeça. E quem não se encantou com Em busca da felicidade? Linda obra e bela atuação de Will Smith. Quarto do filho, wow, que história! Outras comédias românticas que sempre vejo são Don Juan de Marco, Guru do sexo, Alfe, Norbit, Natcho libre. Aprendi a gostar de alguns desses com meus sobrinhos gringos. Jamaica abaixo de zero é bobo mas é lindo, amo esse filme! Um peixe chamado Wanda me traz boas recordações... Devo citar os musicais e filmes de Dança, lindos como O fantasma da ópera, Billy Elliot, Vem dançar, Mama Mia, Hairspray, Dança comigo, Os embalos de sábado à noite -com a sensação de Jhon Travolta, sou fã desse ator; e filmes com crianças como Miss Sunshine e Pequeno milagre. Gostei muito de Jardim Secreto (só o 1, o 2 é muito sem graça), Crônicas de Narnia, Desventuras em Série, Fantástica fábrica de chocolate (tenho a primeira versão e a mais recente, com o brilhante Johnny Deep) e ainda com ele Em busca da Terra do Nunca. Filmes com a atriz Drew Barrymore de quem gosto muito do trabalho e talvez a acompanhe desde os seus cinco anos, em ET. Isso sem esquecer os filmes animais que são tantos, mas destaco A revolta dos bichos e Baby, o porquinho. Este eu vi no ônibus voltando de alguma viagem, foi legal. O único Táxi conhecido é o da Queen Latifa com a Gisele Budchen, mas eu tenho até o 4, sem elas, com histórias que se passam na França, bem divertidas e cheias de aventura sobre rodas.

Anos 80, que década divina! De volta para o futuro, Vivendo a vida loucamente, Foot Loose e os filmes com a Madona em início de carreira eram o máximo! Tenho os almanaques dos anos 70, 80 e 90, um de séries da TV e um de jogos sobre os almanaques. Quero aumentar minha coleção pois eu amo ver estes livros enormes, cheios de fotografias da época, eu deito e rolo de rir com as  lembranças que vem! Melhor nem falar da infância senão este texto ficará infinito... deixa só eu comentar que amava o sítio do Pica-pau amarelo!

PARA REFLETIR
Jornalismo em pauta? Gostei demais de Richard Gere em A caçada, grande filme. O informante, O quarto poder, O escândalo de Water Gate, e tantos outros. Recentemente assisti As loucuras do entrevistador, mas é bobinho demais. Tem os da faculdade, mas faz tempo, nem me lembro. Ano passado eu comprei no sebo um livro pequeno, chamado Kaspar Hauser  ou a fabricação da realidade. Fiquei chocada na época em que vi o filme: um rapaz vive preso  desde o nascimento por 18 anos em um quarto sem contato nenhum com outros seres humanos. Quando ele é libertado vem para fora do quarto e não sabe falar, nem se comunicar, apenas fica assustado e reage mal diante dos outros. Logo ele morre e tem o seu cérebro dissecado para estudos, assim como seu corpo todo. É horrível, mas é muito interessante no aspecto da comunicação humana. Cidadão Kane, queria ver de novo. Alguém tem por aí?!

Confesso que também já vi repetidas vezes alguns mais violentos: Kill Bill volumes I e II, Pump Fiction – tempo de violência, Fórmula 51, Jogos mortais, Sin City. Acredite, mas acho lindo O último Samurai e histórias do gênero com guerreiros e orientais, conhece Lee Mu Bai? É um bom filme. Mulher solteira procura I e II, se bem que estes são mais para suspense do que para violência. E falando em suspense, Sobre meninos e lobos, Zodíaco, Disque M para matar, Lua de Fel. Falta assistir a tantos! E as séries, então! Amo Seinfield, ninguém por aqui conhece o cara e muito menos a sua turma, eu poderia ser um deles! Dr House, Nip Tuck, os eternos Friends, Prison Break é violento e muito rápido, tem que ter estômago forte e fôlego preparado pra acompanhar cada episódio. Acho Roma incrível, os personagens são tão dissimulados, e sobre tudo tão políticos! Aposto que vivemos cercados de gente assim.

Onde trabalho, numa instituição de ensino superior, recomendamos aos alunos filmes com alguma mensagem para o campo profissional, entre eles alguns que gostei e/ou achei interessante: O incrível exército de Brancaleoni, O diabo veste Prada, Desafiando gigantes,  O clube do imperador, Meu nome é Radio, Sociedade dos Poetas mortos, Pach Adams - amor é contagioso, A vida de David Gale, e alguns livros obrigatórios como Quem mexeu no meu queijo, O monge e o executivo, Casais inteligentes enrquecem juntos, O lider servidor, Pai rico Pai pobre e tantos outros. Li todos. Tem também os filmes nacionais que gosto tanto e as séries inesquecíveis como Os Aspones, que me diverte e me faz rir até hoje com Selton Mello e sua turma.

Ah, deixei de citar tanta coisa boa que posso ter cometido vários pecados aqui. Sendo assim vou considerar este texto inacabado, sempre que me lembrar de alguma obra volto para ampliar a lista!

TEATRO
E por falar em música, livros e cinema, por que não falar em teatro? Se bem que com estes eu escancarei, todo mundo sabe das minhas grandes paixões! Começando por Hipóteses para o amor e a verdade, foi dali em diante que minha mente passou a ficar mais aberta, mais sensível, se é que isso é coisa pra mente, mas me influenciou muito e o texto do blog sobre ela fez o maior sucesso! Qualquer dia vou explicar o motivo disso, tem a ver com quebra de preconceitos. A peça rendeu também um amigo muito querido, o citadíssimo em quase tudo o que escrevo, Paulinho Faria. Eu e meus amigos (entre eles Manu, Babu, Leandro e Dani Vanessa)tivemos a honra de prestigiá-lo no seu monólogo, O homem com a bala na mão. Ele esteve no Teatrokê na mesma ocasião que eu e conhecemos o Toninho, que fez o cenário de lá. Aproveitando a ocasião, ele encomendou um determinado objeto cenográfico para as próximas apresentações do monólogo, e o tal objeto está comigo! Uma longa história, mas que não convém contar... Tem coisas que a gente guarda bem direitinho pra ninguém saber mesmo, ao menos eu sou assim. Misteriosa. Até acho um milagre escrever isso, pois não é muito lá a minha cara... Mas continuando, depois teve Lamartine Babo, Policarpo Quaresma, ambos do diretor Antunes Filho, Teatrokê e Tape, com o ator Pedro Guilherme.

Alguns atores destes espetáculos foram pro meu Orkut, leram o que escrevi sobre o trabalho deles no Blog, comentaram lá mesmo ou por email. Mantivemos contato. Os mais recentes, como alguns sabem, conheci no Sarau do Teatro do Centro da Terra, também do Ricardo Karman, Paulo Netho, que eu já tinha visto no Sesc Pompéia e o mais novinho por aqui, Cauê Procópio. Foram dele as músicas que me fizeram virar o botão e sintonizar na estação do myspace, onde achei suas músicas super diferentes do meu repertório. Quer ouvir um pouco? Acesse www.myspace.com/caueprocopio e divirta-se!!!

Pois bem, parece que fiz um balanço desses últimos 5 meses, e o saldo foi super positivo. Foi uma experiência incrível, me trouxe muitas alegrias manter o Blog até aqui. A idéia veio do curso de Escrita Literária, que fiz com o professor Guilherme Azevedo, postei o convite dele aqui. De uns tempos para cá eu mando os mais intererssantes para ele, e olha só quanta honra a minha, alguns ele publica no seu site,  http://www.jornalirismo.com.br/ 

Viu como a vida é bela? Esqueci de citar este filme! Aproveito para agradecer pelos comentários postados, tanto de amigos, como de atores e até de desconhecidos, seja no blog, ou no site Jornalirismo, por email, Orkut ou diretamente a mim. É uma honra servi-los com meus textos. Parece que assumi de vez minha missão na vida: aprender e servir.


Segue uma trilha sonora para este texto...
Brincando na nascente, do compositor Cauê Procópio

 Brincando na Nascente de Cauê Procópio



Talita Godoy
06/10/2010


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sábado, 2 de outubro de 2010

CANTORIA

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Vingança
Cauê Procópio


Ô, ô, ô, sou do brejo sim senhor
Sou neto do véio Zeca
E Também de Agenor

Quando Gonzaga veio em casa, me ensinar a
andar de jegue, veio com um filho de Anália,
mas o diabo que te carregue, o bicho não
parava em pé, querendo me aporrinhar, ou
andava de ré, ou não saía do lugar. A cela
tava frouxa, eu caí de perna pro ar, e pra me
livrar dum coice, tomou um no meu lugar.

Nesse dia eu conheci o Chico de Currubá.
Minha primeira lambú, foi Cota quem cozinhou
e também disse que ia assar um ganso que me
picou.
Celsino boca-preta, como chamavam meu pai,
se lamentou comigo: E essa chuva que não cai.
Na estrada de Lagoinha, minha primeira
aflição, não era cobra nem galinha, era um
bicho do cão! Em Condeúba, eu me dei
conta, era minha imaginação.

Uma vez fui eu e Chico, pras banda do buraco lôco,
onde os cabra risca a faca e sangra por muito pouco.
Era um casebre bem cuidado, com luz vermelha no lampião,
lá encontrei Mané da Baixa, Catulino e Espiridião.
Chico grudô numa quenga, e falou preu num avexar...
Que escolhesse a rapariga, que ele que ia pagar...
Pras coisa boa da vida, nasceu Chico de Currubá.

Ainda hoje me lembro moço, da minha primeira paixão.
Uma menina cigana, que queria ler minha mão.
Ficou três dias em Condeúba e depois foi pra Caculé.
Eu segui a caravana até a Baixa do Jequié.
Meu pai e Chico me buscaram, falando que cigano era tudo ladrão.
Disse ao meu pai com respeito: pra mim isso é invenção,
porque os beijinho que dei nela eu guardo no coração.

Muito tempo depois, lá no Cachorro Sentado, b
em ao lado da mangueira, em frente à casa de Abelardo,
três cabras me pararam, prometendo uma sova por mulher.
Disseram que eu tinha tirado, a filha de um tal Coroné,
que encomendou o meu coro e minha orelha como trofé.
Não sei de onde surgiu, mas veio Chico, saltador,
derrubou dois num coice só e o outro se mandou.
Da sova que prometeram, Chico de Currubá me salvou.

Foi a conta de três dias, até a merda se formar...
Pegaram Chico numa emboscada.
O Coroné veio se vingar.
O tiro foi certeiro, não teve salvação.
Ainda cortaram-lhe a orelha e lhe marcaram com um ferrão.
As iniciais do Coroné, no seu peito, no coração.
Eu bebi o meu amigo, o meu preto, meu salvador.
Eu rezei a ladainha e pedi a nosso senhor:
dai-me força pra vingança, contra o Coroné matador.

Ô ô ô ... Na venda de Zé-mola-faca, eu comprei a munição.
Meu plano calculado com muito ódio e devoção.
Passei dois dias no mato à base de água e ração.
Nas terras do Coroné, era só festança e algazarra.
Os cabras que mataram Chico, só na cachaça e na risada.
Eram bem uns cem metros do matagal onde eu estava.
Era uma espera, uma fadiga, até o Coroné sair de casa.
O meu tiro foi perfeito... Foi bem no meio da cara.

A minha morte já tinha até a data marcada.
Se não fugisse pra São Paulo, já estava embaixo da enxada.
Em Vitória da Conquista, eu tomei um Itapemirim.
Cheguei na rodoviária, sem saber pra onde ir...
Mas eu não me arrependo, com gosto carrego a cruz.
E pra iluminar a minha vida, eu fui para a Estação da Luz.
E agora vejam só, tenho até filho na cidade
e aos senhores ouvintes, desculpem a sinceridade.

Ô, ô, ô, sou do brejo sim senhor
Sou neto do véio Zeca
E Também de Agenor








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www.myspace.com/caueprocopio




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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

SARAU - O primeiro a gente nunca esquece!


Cultura brasileira tem sua diversidade 
representada durante Sarau "Noites na Taberna",
no Teatro do Centro da Terra

Sarau. Reunião festiva, de noite, em casa particular, clube ou teatro;  concerto musical noturno. Do galego, serao. Definição interessante. Mas o que o dicionário não nos conta é o quanto um sarau pode ser animado, envolvente, inspirador, criativo, e juntando tudo isso: muito divertido!

Este acontece uma vez por mês na casa do Ricardo... ou melhor, na Taberna do Teatro do Centro da Terra. O público, em termos de idade, era um dos mais variados que já encontrei em minhas andanças culturais por Sampa. Hvia um grupo de senhoras e havia uma adolescente, que participou lendo uma poesia. Ficam todos à vontade, pois o lugar é tão aconchegante quanto o teatro; e o pessoal que me recebeu ali, o fez com a mesma cortesia como da vez anterior, no Teatrokê (sim, um teatro com karaokê!).

Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi espiar entre as madeiras que formam as paredes do lugar. Atrás tem verde, plantas, é escuro, intrigante. Mas enfim entrei na taberna. Meia luz, vinda de velas postas na boca das garrafas de vinho sobre a mesa. No alto, uma rolha de cortiça pendurada na ponta de uma corda que ia até perto do teto, passava por um gancho e seguia até um sino. Em cada mesa uma engenhoca dessas. Logo vou descobrir sua dupla função. Tudo de madeira, banquinhos altos e baixos, mesa coberta com uma grande toalha escura. Sobre ela uma cesta de vime com pedacinhos de pão, potes de patê e começamos a nos servir. Cada um recebe uma comanda na portaria com o item e o preço. É só o que você vai gastar, a bebida que consumir.

E assim que a casa estava lotada, surge o anfitrião, Ricardo Karman, elegantemente trajando jeans com uma camisa branca e um casaco aveludado vermelho, comprido, cheio de detalhes na gola e nas mangas, com os punhos contornados com uma bonita renda clara. O clima era perfeito.

Com sua marcante voz ele nos saúda e faz a abertura do sarau lendo um poema, ato repetido muitas vezes na noite, tanto por ele mesmo como pelo público, que entusiasmado puxava a rolha fazendo o sino tocar em sinal de quem pedia a palavra. Eis a função principal da engenhoca, a outra era para chamarmos o barman que servia o vinho e outras bebidas antes do sarau começar.

Naquela noite estreava o “cardápio” digital, um E-Book (lembra?!) de poesias, que passava de mão em mão. Para participar lendo, era só fazer a escolha do texto e bater o sino. O mesmo para cantar e recitar. Algumas  das composições foram feitas na hora! A qualidade das leituras, dos músicos com o seu jazz, e o talento daqueles que se apresentaram espontaneamente, era admirável, amadores ou profissionais, um presente aos meus sentidos! 
 





APRESENTAÇÕES

O primeiro desses talentos que abrilhantaram aquela noite foi o ator Paulo Netho, que por coincidência eu tinha visto em agosto no SESC Pompéia, brincando com a garotada na exposição "As palavras e o mundo". Ele fez o mesmo agito com o público do sarau e foi igualmente prestigiado. Ele declamou poesia, cantou, nos fez estalar os dedos no ritmo do blues e responder sim quando ele cantava não e fom-fom quando ele cantava bi-bi... numa divertida brincadeira que não tenho como descrever, só mesmo participando para sentir a facilidade com que ele ganhava a manifestação do público!

E vamos fazer um trato, eu, você e o gato! Além deste divertidíssimo poema da sua filha, Lucélia Machiavelli interpretou um poema de Adélia Prado, que arrancou daplatéia risos e aplausos, ela estava inspiradíssima. Se nos encontrarmos outra vez eu peço o poema do gato para postar aqui.

Roberto Mahn leu poesia e cantou à capela um samba de Noel Rosa, que na noite seguinte ele apresentaria com Rolando Boldrin no programa Senhor Brasil, da TV Cultura. Eu também assiti e foi lindo! Mahn veio de Piracicaba, estou acreditando que vem coisa boa de lá. O ator Paulinho Faria tem um pezinho em Pira e por meio dele conheci o Blog do poeta piracicabano Camilo Quartarollo. Até agora gostei de todos os produtos culturais desta cidade do interior paulista!

E para minha maior surpresa – e talvez para espanto geral – um jovem músico e compositor da Bahia, chegou de mansinho, mostrando a que veio. Antes, uma moça citou algo sobre namorados, e Cauê Procópio já demonstrou sagacidade pelo gancho usado logo de cara: disse que iria declamar em homenagem à ela, fazendo referência a tal citação. E o fez com toda sua interpretação característica dos nordestinos,  me fazendo ver cada cena recitada com as rimas típicas dos repentistas. Imagine, uma mitologia das histórias de Lancelot que o artista adaptou ao povo do sertão. De tão encantador, ao final aplaudimos, assobiamos, alguém gritou Bravo! Foi a sensação da noite!

Como dito antes, uma grata surpresa, me senti no dever de dizer a ele um obrigada por você ter se apresentado! Só para dar um tira-gosto, a história era de um cabra safado que estava prestes a perder sua alma para o inferno, mas o capeta lhe deu uma chance fazendo uma charada. Se ele respondesse qual era o maior desejo de uma mulher ele escaparia da morte e do tormento eterno. O jagunço saiu às pressas, a procura da resposta. Entre tantas tentativas surge uma mulher “muito” feia demais e lhe disse que tinha a resposta correta, porém ela só revelaria se ele conseguisse um marido para ela, e que fosse um homem do bando de Lampião. O problema é que ela era estupidamente feia, e isso seria tão difícil quanto escapar do diabo. E segue a história até o surpreendente fim, que nos arrebatou tendo em resposta nossos sinceros e emocionados aplausos. Quem sabe Cauê Procópio me permita um dia publicar o texto, só assim posso provar o que estou dizendo agora. Foi genial. 
E chega de escrever, mês que vem tem mais sarau!


SARAU - NOITES NA TABERNA
Toda última Quarta-Feira do mês – início às 20h30
Rua Piracuama, 19 - Sumaré TEL: 11- 36751595
Teatro do Centro da Terra


Blog do Paulo Netho: http://caradepavio.blogspot.com
Cauê Procópio: www.myspace.com/caueprocopio


Talita Godoy
01/10/2010



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Teatruslaboratorium Apresenta:

Nara Mereya em

TRANS?FUSÃO

“Após a morte do filho, Cristina e Marianos passam a viver em constante conflito, seja pelo fato, ou por quem o causou. Relutando contra suas próprias sombras do passado, buscam se descobrir... Na medida em que as circunstancias se agravam e modificam, eles fazem jus a qualquer ser humano natural, deixando-se reger pelos instintos mais intrínsecos...”


“Nem nossos próprios medos serão capazes de nos
encobrir tantos segredos...”


OUTUBRO - EM MOGI DAS CRUZES








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