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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Museu do Futebol (relembrando)


Museu do Futebol: uma volta incompleta pelo túnel do tempo


Parece museu, mas é estádio. Em outro momento parece estádio, mas é museu. Gostando ou não de futebol fica impossível conter a emoção provocada pelas telas de vídeo e do som, tão alto e tão vibrante, que se tem a nítida impressão de que o chão treme junto com a galera naquele espaço úmido, escuro, com cheiro forte de cimento... que assusta até o visitante entender que naquele instante o local deixa de ser o museu do futebol para ser a arquibancada do estádio. Esta é uma das salas, talvez a que reserve a maior surpresa do dia. No país do futebol, fazer essa volta no túnel do tempo num local inusitado reserva outras alegrias, como não poderia deixar de ser.


Por iniciativa do Governo do Estado de São Paulo e da Fundação Roberto Marinho, surgiu num lugar inesperado o Museu do Futebol, logo abaixo dos imensos degraus da arquibancada, por onde passam os torcedores dos mais variados times no Estádio do Pacaembu. É como se o futebol tivesse deixado cair uma semente em terra boa e enraizado, ali mesmo no estádio, uma ramificação permanente. A impressão que dá é que ainda tem tanta coisa para se ver e ouvir sobre o futebol que o museu dará a volta por todo o prédio. Mas ainda não, por em quanto ele é concentrado somente abaixo da arquibancada amarela.

Em cada sala, uma surpresa. A exposição se dedica a contar a história das copas, relembra gols, melhores lances, tem a participação de ilustres narradores que acompanharam partidas memoráveis e com sua emoção encantam os visitantes de todas as faixas etárias, brasileiros ou estrangeiros, que passam por uma grata experiência com o futebol, a nossa maior paixão nacional.

São 29 salas, distribuídas em 3 pisos, com uma visão panorâmica do estádio, lanchonete, loja de souvenires, auditório, e muita história pra contar. Na sala 11, origens, a voz do ator Milton Gonçalves narra passagens da história política e social no Brasil e em algumas partes do mundo, como na Inglaterra, de onde Charles Miller trouxe o futebol. As histórias do esporte e da nação se confundem, tamanha força com que o esporte chegou aqui, no começo do século XIX.

Mas a exposição não é apenas para se ver, nela se pode tocar, escolher, sentir, e algumas vezes com tanta intensidade que um dos visitantes soltou um sonoro “goooool” junto com o narrador na sala em que várias cabines permitem a seleção de personalidades que contam qual foi o “gol da sua vida”. São vídeos com os melhores momentos de todos os tempos, que embarcam o visitante numa viagem pelo tempo e pelo espaço, fazendo-o se sentir imerso no mundo do futebol.

Outro fato curioso é a quantidade de visitantes de cabelos brancos, num desses grupos havia uma senhora acompanhada do seu neto, os dois sabiam muto de futebol e um contava alguma coisa para o outro, unindo duas gerações em torno de uma única paixão pelo futebol. Não resisti a curiosidade e perguntei a uma delas se ela se interessava por futebol, na verdade eu queria saber porque ela estava ali, e prontamente ela me explicou que veio de uma família que ama futebol, eles assistiam jogos de segunda a domingo! O sorriso e a satisfação da sua resposta não deixaram dúvidas: eram outros tempos.

Numa das salas em que há um imenso e único telão em preto e branco com os momentos finais da copa de 50 em que o Brasil perdeu em pleno Maracanã, o silêncio da torcida se contrasta com o som intenso de um coração pulsando, parece marcar o ritmo no peito de quem estiver na pequena e escura sala. Ouvi uma senhora dizer: olha só que coisa, eles iam de terno para o estádio... outros tempos”. Isso me fez pensar se era porque futebol era coisa de elite ou porque o público realmente reverenciava o futebol como um grande evento? Fato é que hoje em dia não se pode ir num estádio sem a preocupação imediata com a própria segurança. As torcidas organizadas estragam o show que se vê em campo com os jogadores que ainda estão na ativa.

Alguns deles aparecem homenageados na sala dos “anjos” , heróis do campo que inventaram dribles, passes, jogadas incríveis que jamais serão esquecidas. Entre os mais jovens estão Ronaldo Gaúcho, Ronaldinho, Romário, Taffarel, Roberto Carlos, Zico, Sócrates, assim como os jogadores de gerações anteriores: Garrincha, Pelé, Vavá, Tostão, Zagalo e muitos outros. Ninguém foi esquecido.

A sala Heróis é para homenagear quem fez a história da nossa arte e cultura: Carlos Drummond de Andrade, Tarsila do Amaral, Monteiro Lobato, Ary Barroso, Leônidas da Silva. O texto maravilhoso emociona com imagens no grande telão que faz o visitante refletir sobre questões com outro ponto de vista, como “quem realmente descobriu o Brasil”? “Quem descobriu o novo Brasil”? “Quem inventou o Brasil”? “Quem uniu o Brasil”? A esta última pergunta revelo que a resposta foi o rádio, aparelho de última tecnologia responsável por espalhar por todo o nosso país a euforia do futebol. Até hoje somos unidos por essa arte, por essa emoção, por essa parte da nossa história e cultura, que vai desde o campinho de várzea até os mais imponentes estádios do mundo.

Falando nisso, não se vê no museu nada sobre essa parte da nossa cultura, os campos de várzea, as escolinhas de futebol, as categorias de base, os times de segunda divisão ou mesmo os times de fora do eixo Rio - São Paulo. Embora o museu seja impressionante, rico na parte que une cultura e história, ele é mais multimídia do que exposição de museu propriamente dito. Faltam peças originais como uniformes e troféus. O acervo é mais voltado para áudio e imagens de rádio e TV, o que é ótimo para informar e entreter, mas o visitante quer mais, quer, se possível o suor da camisa dos jogadores!

A infra-estrutura do lugar é muito boa, com acesso por elevadores, textos escritos em braile, chão com marcação, e uma curiosidade: mesmo quem pode enxergar toda a exposição pode também tocar no rosto de Pelé e Garrincha numa réplica de gesso que fica numa altura bem apropriada também para cadeirantes. Para os visitantes estrangeiros são muitos textos escritos e narrados em português, não há um sistema de tradução. Uma outra falha que merece atenção, já que no dia da visita da nossa equipe ao museu testemunhamos a presença de visitantes estrangeiros em grande número, que poderiam ter aproveitado muito mais o passeio se tivessem acesso às mesmas informações que os anfitriões.

Vale a pena a visita o quanto antes, o lugar é inusitado, bem estruturado, seguro, provoca sentimentos diversos como uma grande dose de emoção, lembranças e novidades. Um programa para toda a família e todas as idades.

O Museu do Futebol fica na Praça Charles Miller, s/n, no Estádio do Pacaembu. A entrada custa R$6,00 inteira e R$3,00 meia. O horário é das 9:00 às 17:00, de terça à sábado, exceto em dias de jogo.




Talita Godoy
Abril / 2010