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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

UMA TIA NO RINGUE






Ontem assisti pela TV o evento esportivo UFC Fihgt Night. Uma série de lutas que combinam Jiu-Jitsu com Muay Thai , o que não certos golpes - como dedo no olho – visto no episódio em que Velasquez o fez por duas vezes, e mesmo assim foi campeão. Achei muito injusto, mas esportes têm disso também.
Achei incrível como a emoção de ter assistido ao vivo nem se compara com assistir agora pela TV. Também fiquei impressionada como 15 dias em contato com o Muay Thai mudou minha visão sobre o esporte. E acompanhar os treinos dos meus sobrinhos, ainda que de forma distante, também me fizeram ver o Jiu-Jitsu com outros olhos.
Eis um fator na minha vida pessoal que amo: assumo que às vezes tenho até mesmo um certo preconceito com aquilo que não conheço, mas procuro não virar a cara simplesmente detestando alguma coisa; na maioria dos casos prefiro dar uma chance para descobrir algo novo, desmistificar o desconhecido. Algumas vezes me surpreendo, como no caso da Praça Roosevelt. Tem o texto de 2010 como melhor exemplo disso.   
De ignorante no assunto, passei a ter interesse quando meu sobrinho Daniel Dykeman quis se tornar um profissional no MMA – Mixed Martial Artes. Ele deve ter feito umas duas ou três lutas no interior de São Paulo, e finalmente chegou a primeira vez na capital, onde eu morava. 
Como boa tia coruja, larguei tudo para assistir pessoalmente a luta, mesmo que do outro lado da cidade. Sammy Franco, meu outro sobrinho que também é lutador de Jiu-Jitsu, veio ao nosso encontro para completar minha alegria (vou lançar a campanha #voltasammyvolta para que ele continue treinando). 
Eu não me lembro de outra vez, anterior a essa, em que meu coração ficou tão acelerado, tenso e feliz ao mesmo tempo. De certa forma estava preocupada mas tinha tamanha certeza da vitória do Daniel, que, mesmo tão aflita, sentia junto uma alegria imensa, inexplicável.
E lá fomos nós três. Eles dois nos bastidores do espetáculo, e eu na arquibancada. Minutos antes ele apareceu, corri para dar um beijo nele, um abraço apertado e dizer: “Wow...eu não sabia que eu amava tanto assim você! Estou sentindo agora, nesse instante uma loucura aqui dentro da minha alma”! Ele respondeu: “eu vou vencer, tia, eu sinto que vou vencer”! (Aí sim assumi ser tia de alguém, por que meus dois sobrinhos só me chamavam de Talita, rs!).
A adrenalina estava a mil por hora. Eu não sabia se conseguiria assistir a luta de perto do octógono. Disse que ficaria mais distante. Mas quando o nome dele foi anunciado para a luta seguinte, não hesitei. Peguei tudo o que estava comigo e corri para mais perto. Quase enfartei, mas fui!

Achamos que até poderia ser um combate fácil, o adversário não era dos mais difíceis, mas quando o gongo soou, o adversário deu trabalho sim. Soube se esquivar muito bem, apesar de não ter aplicados muitos golpes, estava duro de acertar bem no alvo. E não resistiu ao “arm lock” (vou conferir se estou escrevendo certo os termos técnicos e considerando que sejam estes mesmos!). Dois minutos e meio de luta e pronto, eis o campeão, meu sobrinho Daniel, dando um pulo na grade, em direção aonde eu estava antes para jogar um beijo com um grito de vitória! Depois, mais calmo, um abraço extremamente afetuoso no seu irmão Samuel, que entrou no ringue para celebrarem juntos. 

Eu? Não, ainda não. Era muito tímida para tanto...


E timidamente, esperei a saída deles e mesmo com o corpo todo molhado de suor, me deu o melhor abraço que já recebi em toda minha vida – abraço de vitória, que delícia!
Primeira luta e primeira vitória que acompanhei, não poderia ser melhor!
Como complemento – sim, o que de fato muito contribuiu para a noite ser incrível – encontrei duas pessoas muito queridas, Willian e Silvia. Eles foram meus alunos de faculdade, e não tive como avisá-los antes que estaria no evento. O engraçado é que tive certeza de que nos encontraríamos. Assim foi, e ambos me acolheram muito bem, me fizeram sentir menos deslocada, por ser algo tão inédito para mim.  Minha certeza se dera porque Will também luta Jiu-Jitsu e o evento era bem próximo da casa dele. Tinha tudo para esse encontro acontecer, e foi surpreendente, por outro motivo que seria tema para um novo texto...! 
E veio a segunda luta do Daniel. Mesmo clima tenso, muita correria no dia, distância, viagem longa marcada para o dia seguinte, e um adversário de dar medo.


A diferença entre os combatentes era larga. Um deles com quase 30 anos de idade, 25 ou 26 lutas, maioria vitórias, um cara mais alto, aparentemente mais preparado do que meu novato sobrinho Daniel – 20 anos de idade, cinco lutas, uma derrota no currículo.



                      
Dykman, punho azul, golpeando Rasputin, punho vermelho 
                                                  (Foto oficial do evento).



Qual seria a estratégia para vencer dessa vez? Como seria o preparo, dia após dia para o melhor resultado possível?
Não era assunto da minha alçada, mas... quis o destino que, nas 08 semanas que antecederam a luta, eu estivesse em Piraju, interior de São Paulo, passando uma temporada junto com ele e com o Samuel.
A tia e os dois sobrinhos pegaram firme nos treinos. Logo cedo academia de musculação. Dois ou três vezes por semana treino de Muay Thai, sendo que eles iam no mesmo treino por até três vez ao dia, somando nove vezes por semana, fora o sábado, os exercícios extras e mais o Jiu-Jitsu. Bom lembrar que isso era esquema de atleta, a tia ficava só na musculação de manhã e algumas poucas aulas de Muay Thay, o que já foi um enorme passo em cinco anos sem frequentar uma academia.
Pois bem, chegou o grande momento. Semana da luta! Para mim, stress em dose tripla. Tinha duas provas de um curso de Pós-graduação para fazer, além do exame de moto-escola. Inventei de aprender a pilotar moto nesse meio tempo, e foi uma outra aventura, digna de mais um novo texto (aguardem!). Voltando ao foco, não foi fácil controlar as emoções naquele meio de novembro.
O plano era ir para São Paulo de mala e tudo. Na sequência faria uma viagem um pouco mais longa e para mais longe, EUA. Depois da luta, provavelmente não veria mais os meus sobrinhos por, pelo menos, alguns meses. Para mim, Daniel vencer, seria uma alegria a ponto de um enfarte, tão emocionada e envolvida que eu estava.

E dessa vez a coisa começou bem diferente. Fui VIP! Com acesso livre, fiquei junto com o time CTB – Centro de Treinamento Boinha. Estávamos bem próximos ao octógono, às vezes todos juntos assistindo as demais lutas, outras vezes eu sozinha quando a equipe descia para aquecer ou simplesmente para controlar os ânimos. Fiquei parada ali, apenas observando e notando o quanto meu conhecimento sobre MMA havia aumentado, ...não muito, mas o suficiente para entender um pouco melhor o que acontecia no ringue. Deu para fazer cara de inteligente e tudo. 
Clima tenso. A cada intervalo era anunciado o grande combate da noite, a luta internacional entre o brasileiro Rasputin e o americano Dan Dykeman.
Finalmente! Eles sobem no octógono. Eu estava por perto bastante alucinada, eu diria. Não sabia se ficava em volta, por perto, um pouco mais longe (isso tudo na área restrita), segundos antes do início da luta cheguei a ficar junto ao técnico e ao corner (numa linguagem bem simples, são aquelas pessoas que ficam do lado de fora, bem perto dos lutadores, gritando sugestões do que eles devem fazer).
Durou só um segundo mesmo, porque no exato instante em que entendi ser o lugar de profissionais, me afastei, e voltei ao cantinho onde estava, onde havia um telão que me permitiria acompanhar bem cada lance do combate.
Não vou detalhar a luta, pois o vídeo está disponível de várias formas na Internet, e eu não daria conta disso, mas apenas para demonstrar um pouco do que senti, vale a pena recordar o quanto aqueles dois foram incríveis no ringue. Ambos estavam no mesmo ritmo, na mesma sintonia, golpeando e se defendendo a cada segundo. Por vezes parecia que o Daniel ia dar o golpe definitivo, como no segundo seguinte parecia que não resistiria ao golpe do adversário. Ambos caíam e se levantavam, acertavam o golpe e eram golpeados. Muito difícil calcular o desfecho desse combate.

O Daniel sempre encerrava as lutas em pouquíssimo tempo. Creio que sete minutos e pouco foi o máximo que ele passou num ringue, ainda assim nunca havia passado do segundo round com 3 minutos. Apenas para situar, a luta profissional tem 03 rounds de 05 minutos cada. Intervalos de apenas 01 minuto.
O tempo parecia voar, ao mesmo tempo parecia tão lento que dava uma aflição incrível. Eu apertava minhas mãos, mordia os lábios, apertava os dentes, encolhia as pernas, esticava ao máximo, não havia como manter a musculatura relaxada. Era uma parte de mim ali no ringue lutando com todas as forças para sobreviver, não apenas vencer uma luta, mas era como se fosse uma batalha de morte! Era o que parecia, era o que eu sentia lutando emocionalmente junto com o Daniel.


Então, depois de 2 rounds inteiros e quase encerrar o terceiro, com 14 minutos e pouco no total, os dois agarrados, no solo e nas grades do octógono: Rasputin aplicou um golpe definitivo no Daniel, que bateu a mão ligeiramente no adversário, sinalizando a vitória do seu opontente.
Não acreditei. Por um segundo tive uma sensação de pânico, mas durou mesmo só um segundo. Dei um passo adiante, voltei, me virei e não resisti. Fui correndo ver de perto como estava o Daniel, fui sentir de perto o meu sobrinho.


Saí correndo com tudo, driblei quem estava no caminho, inclusive fotógrafos e cameraman. Subi as escadas em outro segundo. Fui abrindo espaço com as mãos, parei diante dele. Samuel e Boinha já estavam lá. Ele, sentado no chão, quase não conseguia erguer a cabeça para me olhar. Disse “tia...”
Eu me joguei de joelhos diante dele, quis tocar no seu rosto, mas estava com receio. Ele ergueu os braços e fui ao seu encontro, com os joelhos dobrados, no chão, me aproximei, corpo todo entregue ao melhor remédio do mundo para a minha dor: o abraço do meu sobrinho guerreiro, que havia passado por uma batalha tão intensa, tão dura, que eu não poderia imaginar nem no meu pior pesadelo. Deve ter doido mais em mim do que nele!
Sómente depois de alguns minutos conseguimos sair dali. Ele precisava se recuperar, descemos do ringue. Sentamos num cantinho qualquer. Um dos juízes se aproximou e quase me cortou ainda mais o coração ao dizer: “Daniel estava vencendo por pontos. Se tivesse só segurado por mais alguns segundos, teria ganhado a luta!”
Que experiência mais dura foi aquela! Que jeito mais difícil de aprender algo... Como doeu em mim...!!!


Depois veio um grande consolo. Ao sair e passar por nós, Rasputin fez questão de parar para cumprimentar o Daniel. Ele disse com todas as letras, em alto e bom som, que o Daniel tinha sido o adversário mais difícil de toda a vida dele: “Esse menino é muito resistente, duro demais de vencer”! Aí sim o sorriso da tia voltou ao rosto e os olhos continuaram a brilhar pela estrela da casa, meu sobrinho guerreiro Dan Dykeman.
Fico honrada de ter assistido essa batalha tremenda, ainda que não tenha sido uma vitória para "o nosso time". O aprendizado adquirido não tem preço, vale muito mais do que uma medalha de ouro. E quer saber? Na próxima estarei presente com você, de novo no ringue, seja lá qual for o resultado! 
        
Meu orgulho por você é o mesmo. Sei do seu espírito guerreiro e acredito no quando essa garra de lutar e vencer é tudo no perfil de um verdadeiro campeão.
Ao lutador profissional Dan Dykeman, Parabéns, seu nome ainda será conhecido e grande, como a sua garra e coragem.
Deixo aqui uma homenagem aos profissionais do MMA, atletas e equipe, por compreender melhor hoje o quanto é sério o trabalho de preparo, com treinos intensos, alimentação controlada, estilo de vida próprio de quem tem determinação e foco para atingir resultados.
Passar esses dois meses em contato com este mundo foi uma grande lição para mim. Espero seguir em frente tendo adotado, de fato, novos valores para minha vida pessoal. Um abraço ao amigo Boinha e família, pelo profissional que é e por nos ter aberto as portas da sua casa! Sucesso ao CTB!!!

Ao "sobrinho" Daniel, Parabéns em especial pelo seu aniversário, em 04 de Fevereiro - 21 anos agora! Te amo muito - estou ao seu lado - nem sempre fisicamente junto no tatami ou no octógno como daquela vez, mas absolutamente com toda alma e coração torcendo muito em cada luta para que seja comemorada a alegria da sua vitória. E se for preciso entrar no ringue de novo, grita! Te escuto, de onde estiver. Prometo! 


"""Te sinto um CAMPEÃO""".... 

FELIZ ANIVERSÁRIO...!!!!


Segue uma singela homenagem a você nas fotos abaixo:


































             Na foto acima, eu em minha primeira aula de Muay Thai com o Samuel e o professor Gustavo. Abaixo, na aula seguinte com o professor Bruno: eu
 (a mocinha do lado esquerdo) no meio deles levando o treino a sério....Uhuhuuuu!!!!





Thai...!!!


P.S. [Para saber mais: http://www.ufc.com/discover/sport








Talita Godoy


Janeiro/17/2016