Teatro vai além da diversão e
inspira papel social
Ir ao cinema é compromisso para toda semana: vejo filmes de ação, suspense, comédia, e alguns romances quando falta opção melhor. Embora eu goste muito de teatro a desculpa era o preço: tá caro! eu dizia.
Mas o amigo de um amigo meu o convidou para ver um outro amigo em comum atuando no teatro, e eu, que não tinha nada a ver com o final da história, acabei indo junto. Gostei mais do lugar do que da peça, achei o roteiro meio sem meio, meio sem fim, porém o ambiente era agradável, divertido, fiz novos amigos, e antes mesmo de ir embora já pensava em voltar.
Dias depois, outro convite para ver outro amigo do amigo – que então já era meu amigo – num outro teatro bem pertinho daquele. Liguei pra um terceiro amigo que não conhecia os outros dois, e ele também foi. Gostamos muito da peça, fizemos outras novas amizades, conhecemos os atores, tudo muito original, intrigante, eu estava me sentindo muito bem.
Mas, onde chega essa volta toda???
Minha primeira impressão sobre teatro era diversão, ter muita coisa para observar e que talvez alguma emoção pudesse acontecer.
Numa dessas peças, eu soube que os atores estiveram pessoalmente em contato com os moradores do centro da cidade para conhecer cada uma das histórias, experiências, detalhes da vida, descobrindo coisas bobas ou secretas que aos poucos foram se revelando. Depois, as informações foram se juntando para compor o enredo de “Hipóteses para o amor e a verdade”.
Uma cena em especial me chamou muito a atenção, e ao cumprimentar o ator trocamos algumas figurinhas sobre a experiência que o grupo teve ao lidar com aquelas “vidas”. Coisa rápida, mas a palavra que ele usou, vidas, despertou em mim um certo... click.
Eu visualizei o ator no palco, fazendo arte, e visualizei o ator social, passando a mensagem de que cada ser humano tem uma história e deve ser respeitado por isso. Nas ruas são apenas pessoas indo e vindo, mas vendo ali no palco a história contada por um excelente ator, a pessoa real passou a ter um valor diferente pra mim, seja ela conhecida ou não! Provavelmente eu nunca saberei quem são os donos daquelas histórias, mas fiz um elo com uma recente idéia minha que virou sonho, e que virou plano.
Trata-se de um projeto de ação social voluntária para a ONG CIEDS, que atua no centro da cidade de São Paulo atendendo moradores de ocupações indevidas nos antigos prédios abandonados daquela região. Foi desenvolvido um ciclo de palestras para ajudá-los, de alguma forma, a encontrar soluções viáveis para uma melhora na qualidade de vida. A maioria não tem emprego ou estudo, talvez não tenham nem documentos. Mas estão por aí, no mundo, a espera de um dia melhor. Vou fazer o que posso – levar esperança, ânimo, incentivo, falar da realidade e apontar uma saída. Despertá-los para um sonho, que vire projeto, que seja concretizado.
Serão cinco encontros entre mim e eles, mas ainda não os conheço. A idéia que o ator Tiago Leal (foto acima) me deu, mesmo sem ele saber, é fazer o seguinte: antes do ciclo de palestras começar, vou acompanhar os agentes da ONG em contato com aquelas pessoas para simplesmente observar, ouvir, saber mais sobre a realidade de vida, as necessidades, talvez descobrir um desejo, um sonho, os medos, as dificuldades, saber sobre a luta de cada dia.
Certamente isso vai me preparar ainda mais para me aproximar do humano, olhá-los não como coitados carentes, mas a ver em cada par de olhos se há brilho; e se não houver vou querer saber o motivo, enxergar uma “vida”, tratá-los com o devido respeito e, se Deus quiser, ter feito a diferença até o final dos cinco encontros.
Certamente isso vai me preparar ainda mais para me aproximar do humano, olhá-los não como coitados carentes, mas a ver em cada par de olhos se há brilho; e se não houver vou querer saber o motivo, enxergar uma “vida”, tratá-los com o devido respeito e, se Deus quiser, ter feito a diferença até o final dos cinco encontros.
Não sei do interesse deles, não sei das reais condições do “meu público”, não sei com que espírito eles chegarão para assistir uma palestra, mas tenho certeza de que vou desempenhar o meu melhor papel – do ator social, pessoa que atua, entra em ação, age, faz alguma coisa socialmente falando.
O que espero é que eles percebam que nenhum de nós é escravo do presente; não precisamos viver da mesma maneira o tempo todo, existem opções, há uma saída, e fazer o diferente trará resultados diferentes. Se a ordem é mudar, vamos em frente com isso! Quero fazer por eles o que fizeram por mim: talvez no teatro o ator pretendesse de fato emocionar, conseguiu e foi além. Me fez ir mais a fundo em questões importantes como a forma de lidar com uma vida.
As palestras vão acontecer só em meados de agosto, mas prometo escrever detalhadamente o resultado final, e trazer as mais lindas histórias que eu encontrar naquelas “vidas” preciosas.
Me aguardem...
Me aguardem...
* Ao amigo e coordenador da Ong, Leandro de Carvalho obrigada pela confiança de sempre!
Talita Godoy
24/07/2010
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