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domingo, 10 de outubro de 2010

SARAU No Centro da Terra



Cultura brasileira tem sua diversidade
representada durante Sarau
"Noites na Taberna", no Teatro do Centro da Terra



Reunião festiva, de noite, em casa particular, clube ou teatro; concerto musical noturno. Do galego, serao. Definição interessante. Mas o que o dicionário não nos conta é o quanto um sarau pode ser animado, envolvente, inspirador, criativo, e juntando tudo isso: muito divertido!

Este acontece uma vez por mês na casa do Ricardo... ou melhor, na Taberna do Teatro do Centro da Terra. O público, em termos de idade, era um dos mais variados que já encontrei em minhas andanças culturais por Sampa. Hvia um grupo de senhoras e havia uma adolescente, que participou lendo uma poesia. Ficam todos à vontade, pois o lugar é tão aconchegante quanto o teatro; e o pessoal que me recebeu ali, o fez com a mesma cortesia como da vez anterior, no Teatrokê (sim, um teatro com karaokê!).

Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi espiar entre as madeiras que formam as paredes do lugar. Atrás tem verde, plantas, é escuro, intrigante. Mas enfim entrei na taberna. Meia luz, vinda de velas postas na boca das garrafas de vinho sobre a mesa. No alto, uma rolha de cortiça pendurada na ponta de uma corda que ia até perto do teto, passava por um gancho e seguia até um sino. Em cada mesa uma engenhoca dessas. Logo vou descobrir sua dupla função. Tudo de madeira, banquinhos altos e baixos, mesa coberta com uma grande toalha escura. Sobre ela uma cesta de vime com pedacinhos de pão, potes de patê e começamos a nos servir. Cada um recebe uma comanda na portaria com o item e o preço. É só o que você vai gastar, a bebida que consumir.

E assim que a casa estava lotada, surge o anfitrião, Ricardo Karman, elegantemente trajando jeans com uma camisa branca e um casaco aveludado vermelho, comprido, cheio de detalhes na gola e nas mangas, com os punhos contornados com uma bonita renda clara. O clima era perfeito.

Comm sua marcante voz ele nos saúda e faz a abertura do sarau lendo um poema, ato repetido muitas vezes na noite, tanto por ele mesmo como pelo público, que entusiasmado puxava a rolha fazendo o sino tocar em sinal de quem pedia a palavra. Eis a função principal da engenhoca, a outra era para chamarmos o barman que servia o vinho e outras bebidas antes do sarau começar.

Naquela noite estreava o “cardápio” digital, um E-Book (lembra?!) de poesias, que passava de mão em mão. Para participar lendo, era só fazer a escolha do texto e bater o sino. O mesmo para cantar e recitar. Algumas das composições foram feitas na hora! A qualidade das leituras, dos músicos com o seu jazz, e o talento daqueles que se apresentaram espontaneamente, era admirável, amadores ou profissionais, um presente aos meus sentidos!


APRESENTAÇÕES

O primeiro desses talentos que abrilhantaram aquela noite foi o ator Paulo Netho, que por coincidência eu tinha visto em agosto no SESC Pompéia, brincando com a garotada na exposição "As palavras e o mundo". Ele fez o mesmo agito com o público do sarau e foi igualmente prestigiado. Ele declamou poesia, cantou, nos fez estalar os dedos no ritmo do blues e responder sim quando ele cantava não e fom-fom quando ele cantava bi-bi... numa divertida brincadeira que não tenho como descrever, só mesmo participando para sentir a facilidade com que ele ganhava a manifestação do público!

E vamos fazer um trato, eu, você e o gato! Além deste divertidíssimo poema da sua filha, Lucélia Machiavelli interpretou um poema de Adélia Prado, que arrancou daplatéia risos e aplausos, ela estava inspiradíssima. Se nos encontrarmos outra vez eu peço o poema do gato para postar aqui.
 Roberto Mahn leu poesia e cantou à capela um samba de Noel Rosa, que na noite seguinte ele apresentaria com Rolando Boldrin no programa Senhor Brasil, da TV Cultura. Eu também assiti e foi lindo! Mahn veio de Piracicaba, estou acreditando que vem coisa boa de lá. O ator Paulinho Faria tem um pezinho em Pira e por meio dele conheci o Blog do poeta piracicabano Camilo Quartarollo. Até agora gostei de todos os produtos culturais desta cidade do interior paulista!

E para minha maior surpresa – e talvez para espanto geral – um jovem músico e compositor da Bahia, chegou de mansinho, mostrando a que veio. Antes, uma moça citou algo sobre namorados, e Cauê Procópio já demonstrou sagacidade pelo gancho usado logo de cara: disse que iria declamar em homenagem à ela, fazendo referência a tal citação. E o fez com toda sua interpretação característica dos nordestinos, me fazendo ver cada cena recitada com as rimas típicas dos repentistas. Imagine, uma mitologia das histórias de Lancelot que o artista adaptou ao povo do sertão. De tão encantador, ao final aplaudimos, assobiamos, alguém gritou Bravo! Foi a sensação da noite!