Cultura brasileira tem sua diversidade
representada durante Sarau
"Noites na Taberna", no Teatro do Centro da Terra
Reunião festiva, de noite, em casa particular, clube ou teatro; concerto musical noturno. Do galego, serao. Definição interessante. Mas o que o dicionário não nos conta é o quanto um sarau pode ser animado, envolvente, inspirador, criativo, e juntando tudo isso: muito divertido!
Este acontece uma vez por mês na casa do Ricardo... ou melhor, na Taberna do Teatro do Centro da Terra. O público, em termos de idade, era um dos mais variados que já encontrei em minhas andanças culturais por Sampa. Hvia um grupo de senhoras e havia uma adolescente, que participou lendo uma poesia. Ficam todos à vontade, pois o lugar é tão aconchegante quanto o teatro; e o pessoal que me recebeu ali, o fez com a mesma cortesia como da vez anterior, no Teatrokê (sim, um teatro com karaokê!).
Quando cheguei, a primeira coisa que fiz foi espiar entre as madeiras que formam as paredes do lugar. Atrás tem verde, plantas, é escuro, intrigante. Mas enfim entrei na taberna. Meia luz, vinda de velas postas na boca das garrafas de vinho sobre a mesa. No alto, uma rolha de cortiça pendurada na ponta de uma corda que ia até perto do teto, passava por um gancho e seguia até um sino. Em cada mesa uma engenhoca dessas. Logo vou descobrir sua dupla função. Tudo de madeira, banquinhos altos e baixos, mesa coberta com uma grande toalha escura. Sobre ela uma cesta de vime com pedacinhos de pão, potes de patê e começamos a nos servir. Cada um recebe uma comanda na portaria com o item e o preço. É só o que você vai gastar, a bebida que consumir.
E assim que a casa estava lotada, surge o anfitrião, Ricardo Karman, elegantemente trajando jeans com uma camisa branca e um casaco aveludado vermelho, comprido, cheio de detalhes na gola e nas mangas, com os punhos contornados com uma bonita renda clara. O clima era perfeito.
Comm sua marcante voz ele nos saúda e faz a abertura do sarau lendo um poema, ato repetido muitas vezes na noite, tanto por ele mesmo como pelo público, que entusiasmado puxava a rolha fazendo o sino tocar em sinal de quem pedia a palavra. Eis a função principal da engenhoca, a outra era para chamarmos o barman que servia o vinho e outras bebidas antes do sarau começar.
Naquela noite estreava o “cardápio” digital, um E-Book (lembra?!) de poesias, que passava de mão em mão. Para participar lendo, era só fazer a escolha do texto e bater o sino. O mesmo para cantar e recitar. Algumas das composições foram feitas na hora! A qualidade das leituras, dos músicos com o seu jazz, e o talento daqueles que se apresentaram espontaneamente, era admirável, amadores ou profissionais, um presente aos meus sentidos!
APRESENTAÇÕES
O primeiro desses talentos que abrilhantaram aquela noite foi o ator Paulo Netho, que por coincidência eu tinha visto em agosto no SESC Pompéia, brincando com a garotada na exposição "As palavras e o mundo". Ele fez o mesmo agito com o público do sarau e foi igualmente prestigiado. Ele declamou poesia, cantou, nos fez estalar os dedos no ritmo do blues e responder sim quando ele cantava não e fom-fom quando ele cantava bi-bi... numa divertida brincadeira que não tenho como descrever, só mesmo participando para sentir a facilidade com que ele ganhava a manifestação do público!
E vamos fazer um trato, eu, você e o gato! Além deste divertidíssimo poema da sua filha, Lucélia Machiavelli interpretou um poema de Adélia Prado, que arrancou daplatéia risos e aplausos, ela estava inspiradíssima. Se nos encontrarmos outra vez eu peço o poema do gato para postar aqui.
Roberto Mahn leu poesia e cantou à capela um samba de Noel Rosa, que na noite seguinte ele apresentaria com Rolando Boldrin no programa Senhor Brasil, da TV Cultura. Eu também assiti e foi lindo! Mahn veio de Piracicaba, estou acreditando que vem coisa boa de lá. O ator Paulinho Faria tem um pezinho em Pira e por meio dele conheci o Blog do poeta piracicabano Camilo Quartarollo. Até agora gostei de todos os produtos culturais desta cidade do interior paulista!
E para minha maior surpresa – e talvez para espanto geral – um jovem músico e compositor da Bahia, chegou de mansinho, mostrando a que veio. Antes, uma moça citou algo sobre namorados, e Cauê Procópio já demonstrou sagacidade pelo gancho usado logo de cara: disse que iria declamar em homenagem à ela, fazendo referência a tal citação. E o fez com toda sua interpretação característica dos nordestinos, me fazendo ver cada cena recitada com as rimas típicas dos repentistas. Imagine, uma mitologia das histórias de Lancelot que o artista adaptou ao povo do sertão. De tão encantador, ao final aplaudimos, assobiamos, alguém gritou Bravo! Foi a sensação da noite!