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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Talita - e as rainhas do deserto


TEATRO: PRISCILLA, A RAINHA DO DESERTO
DIREÇÃO: Stephen Murphy
ELENCO: Luciano Andrey, Ruben Gabira, André Torquato, Saulo Vasconcelos e outros


Aos que gostam da temática gay, ou ao menos simpatizam com ela, Priscilla é imperdível. Mas aos que detestam, seja por puro preconceito ou desconhecimento de causa, Priscilla é imperdível. Errei? Não – Priscilla é imperdível por vários motivos. Procurarei resumir alguns deles a seguir.

O musical reúne canções inesquecíveis, como “I say a little prayer” e “We Bellong”, além de clássicos da diva Madonna: “Material Girl”, Like a virgin”; as divertidas músicas que embalam o mundo gay: “It´s Raining Men”, I Will survive”, “Boogie Wonderland”, e o momento Elvis: “Always on my mind”.

Como não poderia deixar de ser, as cores fortes, em formas por vezes incompreensíveis, tornam o visual atrativo, deslumbrante. O ônibus que circula pelo deserto da Austrália é uma surpresa a parte que custou 3 milhões na produção brasileira. A solução encontrada para “Priscilla” rodar e ao mesmo tempo permitir ao público que acompanhasse cada detalhe do que acontece dentro do ônibus foi de uma qualidade técnica digna de um grande espetáculo, para não dizer mágica! Também o entardecer que faz o palco ficar visualmente tantos metros maior do que realmente é, torna o show incrível.

E não me perguntem nada, pois me recuso terminantemente a revelar o que meus olhos viram, mas garanto que a cena em que surge o ônibus no palco, assim como quando ele é pintado no meio do deserto, arranca o delírio da plateia que expressa “oooohhh!!!” de tão surpreendente que é.

Para quem assistiu ao filme, adentrar ao Teatro e aguardar alguns minutos pelo início do espetáculo pensando em “como” será que os produtores vão conseguir fazer aquelas cenas todas é instigante. Aqueles minutos causam ansiedade e muita curiosidade, pois seria um problema colocar no palco um ônibus, e em cima dele o glorioso e gigantesco sapato de salto alto, símbolo mor de Priscilla, e nele alocar um dos personagens a cantar um belíssimo solo em ópera.







Particularmente considerei como um bom exemplo o valor da criatividade como solução para qualquer problema! Claro que um orçamento generoso ajuda, mas o fundamental é ser criativo, mente aberta e pronta para entrar em ação.

Outro aspecto relevante neste enredo é questão do preconceito. A história se passa durante a viagem de três Drags que atravessam o deserto da Austrália por algumas semanas com a finalidade de fazer um show, mas isso é apenas um pano de fundo, ou seja, uma boa desculpa dada pela ex esposa do ator principal que vai conhecer o filho, de sete anos. Será que ele vai ser bem aceito? Será que o filho vai entender e se dar bem com o pai?

Tudo meio estranho, mas com a educação recebida pela mãe, que o criou no meio artístico e sem esconder as diferenças existentes – e tão evidentes na atualidade – entre os gêneros sexuais, por assim dizer, isso pode dar certo. Porém a história revela o sofrimento que as Drags sentem ao receber agressões, sejam verbais ou especialmente físicas por parte daqueles que se acham superiores, melhores ou mesmo “normais”. Depois de superar tudo isso, pai e filho têm o seu encontro tão esperado, com as expectativas superadas, por fim.





Com um olhar mais de fora para o filme e para o teatro, observa-se a linguagem de um e de outro, as adaptações feitas tanto nos diálogos como na contextualização. Um exemplo é o fato de que no filme um dos personagens é fã no grupo musical ABBA, enquanto que no teatro temos Madonna, mais atual e popular nos dias de hoje, e talvez mais apropriado para agradar ao público mais novo, uma vez que o espetáculo é permitido para crianças a partir dos 12 anos, já considerados pré-adolescentes e que hoje conhecem e curtem as músicas de Madonna. 

Na disciplina Homem e Sociedade, comum em tantos cursos acadêmicos, autores que estudam Antropologia e Sociologia (Laraia, Guiddens) nos colocam a refletir sobre a questão da individualidade e da vida em sociedade com suas semelhanças e diferenças em meio a culturas que podem aprovar ou não essas diferenças, mas o que fecha a questão é o respeito.

Não precisamos necessariamente ser como os outros são, também não devemos cobrar que sejam como somos, mas devemos a todos os outros grupos respeito e consideração como princípios para uma vida em sociedade.

Lamento o preconceito de alguns que nem pensam em assistir a este grande espetáculo por acreditar que o público seja 100% homossexual. Estava eu lá para provar que isso não é verdade! Ninguém recebe um adesivo para colar na testa escrito “gay” mas todos, sem exceção, saem dali com um sorriso largo, quando não rindo, e com o brilho nos olhos de quem se divertiu muito com as aventuras dos amigos Drags. Sendo assim vale a pena pelo espetáculo, atores excelentes, localização ótima, num teatro de alta qualidade. Portanto meu conselho final é: permita-se! 


Com mais tolerância e menos preconceito faremos parte de uma sociedade melhor. 






TALITA GODOY 
MAIO/2012


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