TEATRO: PRISCILLA, A RAINHA DO DESERTO
DIREÇÃO: Stephen Murphy
ELENCO: Luciano Andrey, Ruben Gabira, André Torquato, Saulo
Vasconcelos e outros
Aos que gostam
da temática gay, ou ao menos simpatizam com ela, Priscilla é imperdível. Mas
aos que detestam, seja por puro preconceito ou desconhecimento de causa, Priscilla é
imperdível. Errei? Não – Priscilla é imperdível por vários motivos. Procurarei
resumir alguns deles a seguir.
O musical
reúne canções inesquecíveis, como “I say a little prayer” e “We Bellong”, além
de clássicos da diva Madonna: “Material Girl”, Like a virgin”; as divertidas
músicas que embalam o mundo gay: “It´s Raining Men”, I Will survive”, “Boogie
Wonderland”, e o momento Elvis: “Always on my mind”.
Como não poderia
deixar de ser, as cores fortes, em formas por vezes incompreensíveis, tornam o
visual atrativo, deslumbrante. O ônibus que circula pelo deserto da Austrália é
uma surpresa a parte que custou 3 milhões na produção brasileira. A solução
encontrada para “Priscilla” rodar e ao mesmo tempo permitir ao público que
acompanhasse cada detalhe do que acontece dentro do ônibus foi de uma qualidade
técnica digna de um grande espetáculo, para não dizer mágica! Também o
entardecer que faz o palco ficar visualmente tantos metros maior do que
realmente é, torna o show incrível.
E não me
perguntem nada, pois me recuso terminantemente a revelar o que meus olhos
viram, mas garanto que a cena em que surge o ônibus no palco, assim como quando
ele é pintado no meio do deserto, arranca o delírio da plateia que expressa “oooohhh!!!”
de tão surpreendente que é.
Para quem
assistiu ao filme, adentrar ao Teatro e aguardar alguns minutos pelo início do
espetáculo pensando em “como” será que os produtores vão conseguir fazer aquelas
cenas todas é instigante. Aqueles minutos causam ansiedade e muita curiosidade,
pois seria um problema colocar no palco um ônibus, e em cima dele o glorioso e
gigantesco sapato de salto alto, símbolo mor de Priscilla, e nele alocar um dos
personagens a cantar um belíssimo solo em ópera.
Particularmente
considerei como um bom exemplo o valor da criatividade como solução para
qualquer problema! Claro que um orçamento generoso ajuda, mas o fundamental é
ser criativo, mente aberta e pronta para entrar em ação.
Outro aspecto
relevante neste enredo é questão do preconceito. A história se passa durante a
viagem de três Drags que atravessam o deserto da Austrália por algumas semanas
com a finalidade de fazer um show, mas isso é apenas um pano de fundo, ou seja,
uma boa desculpa dada pela ex esposa do ator principal que vai conhecer o
filho, de sete anos. Será que ele vai ser bem aceito? Será que o filho vai
entender e se dar bem com o pai?
Tudo meio estranho, mas com a educação
recebida pela mãe, que o criou no meio artístico e sem esconder as diferenças
existentes – e tão evidentes na atualidade – entre os gêneros sexuais, por
assim dizer, isso pode dar certo. Porém a história revela o sofrimento que as Drags sentem ao receber agressões, sejam verbais ou especialmente físicas por parte daqueles que se acham superiores,
melhores ou mesmo “normais”. Depois de superar tudo isso, pai e filho têm o seu
encontro tão esperado, com as expectativas superadas, por fim.
Com um olhar mais de fora para o filme e para o teatro, observa-se a linguagem de um e de outro, as adaptações feitas tanto nos diálogos como na contextualização. Um exemplo é o fato de que no filme um dos personagens é fã no grupo musical ABBA, enquanto que no teatro temos Madonna, mais atual e popular nos dias de hoje, e talvez mais apropriado para agradar ao público mais novo, uma vez que o espetáculo é permitido para crianças a partir dos 12 anos, já considerados pré-adolescentes e que hoje conhecem e curtem as músicas de Madonna.
Na disciplina Homem e Sociedade, comum em tantos cursos acadêmicos, autores que estudam Antropologia e
Sociologia (Laraia, Guiddens) nos colocam a refletir sobre a questão da
individualidade e da vida em sociedade com suas semelhanças e diferenças em
meio a culturas que podem aprovar ou não essas diferenças, mas o que fecha a
questão é o respeito.
Não precisamos
necessariamente ser como os outros são, também não devemos cobrar que sejam como somos, mas devemos a todos os outros grupos
respeito e consideração como princípios para uma vida em sociedade.
Lamento o
preconceito de alguns que nem pensam em assistir a este grande espetáculo por
acreditar que o público seja 100% homossexual. Estava eu lá para provar que isso não é verdade! Ninguém recebe um adesivo para colar na testa escrito “gay” mas todos, sem exceção, saem dali com um
sorriso largo, quando não rindo, e com o brilho nos olhos de quem se divertiu muito
com as aventuras dos amigos Drags. Sendo assim vale a pena pelo espetáculo,
atores excelentes, localização ótima, num teatro de alta qualidade. Portanto
meu conselho final é: permita-se!
Com mais tolerância e menos preconceito faremos parte de uma sociedade melhor.
TALITA GODOY
MAIO/2012
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