JORNALISMO E LITERATURA:
ÁREAS QUE SE COMPLEMENTAM
PARA ENCANTAR O LEITOR
Para compreender o presente e vislumbrar o futuro, se faz necessária uma viagem ao passado. Numa volta ao tempo, encontra-se nos anos 60 uma época em que o Realismo teve grande poder de influência no leitor, técnica vista por Wolfe (2005) da seguinte forma:
“A força psicológica, moral, filosófica, emocional, poética, visionária (podem-se fornecer tantos adjetivos quanto for preciso) de Dickens, Dostoievski, Mann, Faulkner, só existe porque eles primeiro conectaram seu trabalho ao circuito principal, que é o realismo” (WOLFE, 2005, P. 58).
Wolfe (2005) compara a introdução do realismo na literatura como sendo “a introdução da eletricidade na tecnologia da maquinaria” (WOLFE, 2005, P. 58). E acrescenta que não foi apenas mais um recurso - para o jornalismo, deu aos jornalistas uma grande vantagem técnica. Em um período marcado por grandes mudanças sociais, surgia uma nova técnica, emprestada de um gênero literário, o New Journalism.
No Brasil, o Jornalismo Literário foi introduzido pela editora Abril, em abril de 66, com o lançamento da revista Realidade, a primeira publicação mensal a tratar de forma ampla assuntos tidos como tabus.
No Brasil, o Jornalismo Literário foi introduzido pela editora Abril, em abril de 66, com o lançamento da revista Realidade, a primeira publicação mensal a tratar de forma ampla assuntos tidos como tabus.
Para Wolfe (2005, p. 50), “os costumes e a moral foram a história dos Estados Unidos”, rotulando para sempre a década de 60 como uma época de contracultura, ruptura de paradigmas, permissividade sexual, do abandono de comportamentos tidos como adequados. Com a nova técnica usada no jornalismo, surgiram outras interpretações para assuntos polêmicos.
Embora o New Journalism fosse considerado como um estilo que elevou a arte da escrita, para alguns foi taxado como puro enchimento, com personagens de nenhuma grandeza, coisa de gente inconseqüente.
Se para Wolfe (2005) o New Jornalism recebeu o rótulo pejorativo de “não-sério”, Silva (2002, p. 120) expõe a contraposição com o “sério”:
“A prática séria é aquela que aprofunda, critica e transmite informações novas, mesmo utilizando linguagem informal, servindo como ponto de reflexão; a prática não-séria é a humorística, aquela que diverte... O que diferencia uma da outra é mais a forma de vincular a informação” (SILVA, 2002, p. 120).
Para Silva (2002, p.121), a técnica tradicional da escrita jornalística, pirâmide invertida, torna desnecessária a leitura do texto até o fim, já que o mais importante está resumidamente escrito logo no início da matéria. Segundo Medina (2002), a notícia é um produto processado para a venda em banca. O uso da fórmula garante o seu padrão, mas Villas Boas (1996) defende que o texto para revistas evoluiu adotando características próprias que o diferenciam de outros veículos de informação e textos jornalísticos.
Para Villas Boas (2006), Jornalismo e literatura são áreas que se complementam, tendo como resultado um texto nobre e profundo. Para tanto é necessário o domínio da técnica.
Os recursos específicos são descritos em quatro pontos por Wolfe (2005, p. 79): a) a construção cena a cena; b) o diálogo; c) o ponto de vista e d) o detalhamento do status de vida. Para que se chegue aos melhores resultados é necessário um grande domínio da técnica e alta dose de sensibilidade.
“Os escritores mais dotados são aqueles que manipulam os conjuntos de memória do leitor de maneira tão rica, que recriam dentro da mente do leitor todo um mundo que ressoa com as emoções reais do próprio leitor. Os eventos meramente ocorrem na página, impressos, mas as emoções são reais. Daí a sensação única quando a gente se sente “absorvido” por um livro, “se perde” dentro dele” (WOLFE, 2005, p. 79).
A técnica do realismo trouxe ao leitor exatamente o que ele queria:
“Esta é a contribuição desta fase ao jornalismo, ou seja, fazer ver ao jornalista que, aliando literatura (e, portanto estética) ao seu texto informativo, estará atendendo o anseio da comunidade em que está inserido, já que essa comunidade não quer mais saber apenas do catastrófico” (VICCHIATTI, 2005, p. 89).
A partir da compreensão das características do jornalismo literário, tendo neste estudo como objeto de pesquisa a revista Realidade, parte-se para a pesquisa prática que verificará a opinião do leitor sobre a possível influência que o estilo e a ideologia da revista possam ter exercido sobre a sociedade daquela época, contribuindo de alguma forma para as mudanças sociais e culturais que começavam a acontecer no Basil dos anos 60.
***Continua...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001.
MEDINA, Cremilda. Notícia: um produto à venda. São Paulo: Editora Summus, 1988.
SILVA, Josimey Costa da. O humor nada objetivo e um jornalismo muito sério. IN: Communicare: Revista de Pesquisa, Centro Interdisciplinar de Pesquisa. v.2, n.2, p.117-124. São Paulo: Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, 2002.
VICCHIATI, Carlos Alberto. Jornalismo: comunicação, literatura e compromisso social. São Paulo: Paulus, 2005.
VILLAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine – o texto em revista. Rio de Janeiro: Editora Summus, 1996.
WOLFE, Tom. Radical Chique e o Novo Jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Talita Godoy
Janeiro 2011
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