SÍNTESE DO TEXTO: “A ORDEM DO DISCURSO”, DE MICHEL FOUCAULT
Por: Talita Godoy – 03/10/2011
Discurso pronunciado em 02 de dezembro, de 1970, na aula inaugural do College de France, em substituição do professor e amigo pessoal de Foucault, Jean Hyppolite.
Foucaul inicia o discurso falando sobre como gostaria que fossem os seus próximos dias ali, discursando, que não houvesse um começo propriamente dito, mas que simplesmente começasse. Que uma voz ditasse o que deveria ser dito. E não há? Todo começo é solene. Por que? Formas ritualizadas.
O homem pensa: não queria entrar na ordem do discurso, mas queria que o discurso fluísse leve e feliz.
A instituição responde: comece, sem medo, você verá que o discurso está dentro de uma ordem das leis, sempre é vigiado, ele o desarma, e “se ele tem algum poder, é de nós, e de nós apenas, que o recebe”. Poder são relações, relacionamentos.
· Inquietações entre o desejo e o discurso:
O discurso é material de coisa pronunciada ou escrita (tudo se copia...)
Duração que não nos pertence
Sentir poderes e perigos inimagináveisSuspeita das lutas, vitórias, feridas, dominações, servidões que atravessam tantas palavras
PROCEDIMENTOS DE EXCLUSÃO
- Procedimentos exteriores de controle e delimitação do discurso:
O INTERDITO
Não se fala abertamente tudo o que se pensa, tudo o que se quer dizer. Tabu do objeto, ritual da circunstância, por exemplo: sexualidade e política. Neles o discurso pode aparentemente não ter nada além, mas o interdito revela o vínculo com o desejo e o poder. “O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas é aquilo pelo qual e com o qual se luta, é o próprio poder de que procuramos assenhorear-nos”.
PARTILHA/SEPARAÇÃO E REJEIÇÃO
Razão e loucura. A palavra do louco ou é sem verdade ou é sem importância; não testemunha em justiça; “era por intermédio das suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; essas palavras eram o lugar onde se exercia a partilha; mas nunca eram retidas ou escutadas”. No teatro, o louco representava a verdade mascarada.
VERDADEIRO E FALSO
No interior dos discursos, o que rege a verdade, a vontade do saber? Exemplo dos poetas gregos do século VI, “um século mais tarde, a maior das verdades já não estava naquilo que o discurso era ou naquilo que fazia, mas sim naquilo que o discurso dizia”. Hesíodo e Platão. “O discurso verdadeiro deixa de ser o discurso valioso e desejável, uma vez que o discurso verdadeiro já não é o discurso ligado ao discurso do poder. O sofista é encurralado”.
Aparecimento de novas formas da vontade de verdade (do século VI para o século VII).
- Procedimentos internos de controle e delimitação do discurso:
ACONTECIMENTO E ACASO
OS COMENTÁRIOS: Partem de outros discursos já prontos, narrativas maiores, que se repetem e vão mudando. Textos religiosos ou jurídicos: “são ditos, ficam ditos e estão ainda por dizer. Também os textos científicos. Os comentários provocam desnível entre o primeiro texto e o segundo; “o comentário não tem outro papel senão o de dizer finalmente aquilo que estava silenciosamente articulado no primeiro texto”.
O AUTOR: No discurso científico, o autor indicava a verdade. Na Idade Média ele era indispensável. No discurso literário, a partir do século XVIII, o autor faz a ficção, mas lhe é pedido que o revele a verdade, sua inserção no real. Ele inventa, mas o seu texto é real. (Legitima outros textos).
AS DISCIPLINAS: Métodos, conjunto de regras e definições; opõe-se ao princípio dos comentários e do autor. Para que haja disciplina é preciso que haja a possibilidade de formular novas proposições. A disciplina é um princípio de controle da produção do discurso.
Regras
RITUAL: Circulação dos discursos por um espaço fechado, onde pelo ritual é fixada a eficácia das palavras. “A aprendizagem dava acesso, ao mesmo tempo, a um grupo e a um segredo que a recitação manifestava, mas não divulgava; não se trocava papel entre a fala e a escuta”.
DOUTRINAS: “A doutrina liga os indivíduos a certos tipos de enunciação e interdita-lhes todos os outros”. Ao contrário da limitação da “sociedade dos discursos”, ela deve ser propagada.
APROPRIAÇÃO SOCIAL DOS DISCURSOS: “Todo sistema de educação é uma maneira de política de manter ou modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que estes trazem consigo”. Um sistema de ensino é uma ritualização da fala, qualificação e fixação dos papéis dos sujeitos falantes. A escrita é um sistema de sujeição semelhante. Também não o seriam os sistemas jurídico, da medicina, e outros da mesma forma, ao menos em certos aspectos?
Jogos de limitação e exclusão.
Temas filosóficos
“O discurso nada mais é do que o reflexo de uma verdade que está sempre a nascer diante dos seus olhos; e por fim, quando tudo pode tomar a forma do discurso, quando tudo se pode dizer e o discurso se pode dizer a propósito de tudo, é porque todas as coisas que manifestaram e ofereceram o seu sentido podem reentrar na interioridade silenciosa da consciência de si”. O discurso não passa de um jogo.
Princípio de inversão: Reconhecimento do jogo negativo de um recorte e de uma rarefação do discurso.
Princípio de descontinuidade: Os discursos devem ser tratados como práticas descontínuas que se cruzam, que às vezes se justapõe, mas que também se ignoram ou se excluem.
Princípio de especificidade: É necessário conceber o discurso como uma violência que fazemos às coisas, em todo caso como uma prática que lhes impomos; e é nessa prática que os acontecimentos do discurso encontram o princípio da sua regularidade.
Regra da exterioridade: A partir do próprio discurso, do seu aparecimento e da sua regularidade, ir até as suas condições externas de possibilidade, até ao que dá lugar à série aleatória desses acontecimentos e que lhes fixa os limites.
Quatro noções de princípio regulador da análise:
· A de acontecimento· A de série
· A de regularidade
· A de condição de possibilidade
Elas estão em oposição a:
· O acontecimento à criação· A série à unidade
· A regularidade à originalidade
· A condição de possibilidade à significação
O autor encerra revendo todo o conteúdo do curso a ser ministrado e fecha seu discurso com uma homenagem ao seu mestre, Jean Hyppolite, de quem ele gostaria que fosse aquela voz citada no início, que o ajudaria a continuar.
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