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sexta-feira, 17 de junho de 2016

Blog ANO VI - Parte VI (16/07/2010)


OBS: O texto a seguir faz parte da série comemorativa dos 6 anos de blog Talita Comunica. Foram selecionados alguns dos textos mais visualzados e com temática mais interessante em 2010, ano em que o blog foi criado. Divirtam-se com a leitura!!! 




Grupo OS SATYROS se aventura no uso de uma nova linguagem teatral. A ordem agora é manter os celulares ligados durante a peça!



Entreter, divertir, fazer pensar. São muitas as possibilidades de um espetáculo provocar reações diversas no seu público e, ao que se pode notar, cada vez mais a criatividade no uso de recursos tecnológicos permite uma interação imediata. Mas na vida real a tecnologia tem sido usada para abrandar o afastamento e a solidão.

Com esta visão, o diretor do grupo Satyros, Rodolfo Garcia Vazquez, junto com Ivan Cabral escreveram “Hipóteses para o amor e a verdade”, unindo a interatividade ao vivo por canais remotos com as histórias verídicas de excêntricos moradores da região central da cidade de São Paulo. O espetáculo teve indicação ao Premio Shell de Teatro para melhor direção. 

Quando o público está na ante sala do teatro, um dos diretores se aproxima e explica a proposta do espetáculo solicitando a colaboração da platéia – as regras do jogo são basicamente as seguintes:
1) os celulares devem permanecer ligados de preferência com o viva voz ativo;
2) quando os atores fizerem ligações externas o público deve permanecer em silêncio para que a pessoa que estiver do outro lado da linha não perceba que se trata de uma falsa ligação (pizzaria e tele amizade);
3) se o seu telefone tocar durante o espetáculo, atenda. Se for de algum ator você estará participando do show, e se for uma ligação particular e você estiver entretido com a peça, avise que está no teatro e que retornará a ligação após o espetáculo. Recomendações feitas, vem o frio no estômago ao imaginar o que estará por vir!

Para acessar o local do espetáculo há um corredor com paredes escuras e num dos cantos havia uma cadeira de rodas com uma mulher sentada. Olhei, passei direto, mas voltei a cabeça rapidamente para reforçar a visão, indagando se era uma pessoa mesmo ou apenas um manequim. Coincidentemente do lado de dentro do teatro havia alguns manequins pendurados no teto por uma corrente comprida que os deixava bem perto do chão.

A disposição do teatro e do cenário, assim como dos atores que já estavam à espera do público, dava a sensação de que estávamos dentro da cena, tudo se misturava. Logo no início acontece o diálogo via internet entre dois atores, um de cada lado do palco - que não é bem um palco – e ao vivo a projeção num telão improvisado, muito usado durante a peça. Atrás da cortina a sombra também fazia parte do show, assim como as diversas câmeras apontadas para o público e para os atores, mostrando focos diferentes que da platéia o público não veria.

A tecnologia usada não é novidade, mas o que atrai é forma criativa e muito simples como ela foi empregada, e especialmente por quem e em que momento ela foi usada. Explico. No auge da sua solidão, os personagens recorrem à internet ou ao telefone celular para buscar contato com algum outro ser humano, no meio virtual, ou pessoalmente com um desconhecido qualquer.

O texto provoca uma reflexão sobre o que está acontecendo com as relações interpessoais. As novas tecnologias aproximam e ao mesmo tempo distanciam pessoas. A pergunta que fica é o quanto isso interfere nos sentimentos e acaba influenciando as ações. Os atores retratam o modo como as pessoas lidam com seus sonhos, com os seus desejos mais secretos, se envolvem casualmente em todo tipo de relações e demonstram como eles se sentem diante disso tudo.

Algumas cenas são fortes, impressionam, chocam, incomodam, enquanto outras divertem pela caracterização dos personagens que usam e abusam do sotaque paulistano. Entre eles estão prostituas, transexuais, nerds, gerentes e doidos em geral. Cada um deles conta a história que foi adaptada de uma pesquisa feita por eles mesmos entrevistando os moradores do centro.




ELENCO

A atriz Maria Casadevall mostrou um despojamento notável. Numa das cenas ela surge embrulhada num agonizante plástico que cobre até mesmo o seu rosto. Phedra de Córdebra, que é uma transexual cubana na faixa dos 70 anos de idade, impressiona pela comunicação não verbal... foi ela que me assustou na entrada do teatro! Paulinho Faria está muito engraçado encarnando Adão, um homem que deseja fazer mais filhos que o próprio Adão original. A cena dele "enchendo o balde" atrás da cortina com a sombra projetada foi muito criativa (na foto acima), um recurso simples que enriqueceu muito a peça. Não vou descrever para manter sua curiosidade! Tem Leo Moreira, como o BH (homem bomba), que narra uma parte da sua própria história; Tania Granussi em dois papéis hilários e Esther Antunes, a enfermeira que vivencia o sofrimento da mulher abandonada vivida por Phedra. Além deles, o ator Tiago Leal, que carrega aquele sotaque maravilhoso paulistano, e em meio a risadas faz o público refletir em suas justificativas para ele ser como é. Foi do seu personagem a cena mais linda que fala sobre o brilho no olhar que falta em tantas pessoas. Mas ele só quer fazer amizade, meu! Gustavo Ferreira, com as caras mais loucas possíveis, parece que quer apanhar; acho que a moça da pizzaria, pra quem ele ligou pedindo para ser ouvido em vez de pedir pizza, pensou o mesmo! Todos com participação indispensável e muito divertida, mesmo quando o assunto era coisa séria.

A temática abordada não passa despercebida por nenhum de nós. Todos nos identificamos com pessoas que tem segredos, solidão, um sonho maior e em algum momento da vida acabamos tendo que lidar com isso, não tem como fugir. O tempo todo nós lidamos com as hipóteses para o amor e a verdade...

Muito bem bolado.

E como eu diria a cada um dos meus amigos: obrigada por sua amizade, ela me livra dos perigos da solidão!

Texto: Rodolfo Garcia Vazquez e Ivan Cabral
Direção: Rodolfo Gracia Vazquez
Os Satyros 1: Rua Franklin Rosevelt, 214 - Centro SP - Tel: 32586345

ELENCO: Esther Antunes, Gustavo Ferreira, Leo Moreira, Maria Casadevall, Paulinho Faria, Phedra de Córdoba, Tania Granussi e Tiago Leal.

Site dos Satyros: http://satyros.uol.com.br/index.php/noticias/87

Blog do Paulinho Fariahttp://opankada.blogspot.com/
  
Talita Godoy
16/07/2010