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sábado, 7 de maio de 2011

07 de Maio - Dia do Silêncio



   Tem som melhor do que o da natureza? Para ouvi-lo bem é preciso estar em silêncio. Lembrei disso porque hoje é dia 07 de maio, dia do silêncio. E como aprecio muito “ouvir o silêncio”, resolvi escrever sobre este paradoxo, já que silêncio é a falta de som, amo o silêncio, mas adoro o som da natureza, e para ter um é bom fazer o outro.

Outro silêncio que também é natural, mas pouco praticamos, é naqueles momentos em que alguém precisa falar e ser ouvido. Se ele quer falar, tenho que ouvir, e para ouvir bem, é preciso me calar. Calando-se o ato de ouvir é mais atento, mais concentrado, tem foco e objetivo, mas na busca por uma resposta imediata, nem se ouve integralmente e nem se pensa de forma apropriada. E assim se sucedem os nossos diálogos imediatos.

Por que falamos tanto? Por que ouvimos tão pouco?
Até sozinhos queremos falar e falar, enquanto o silêncio pode trazer tantos benefícios, até maiores do que simplesmente falar de forma desenfreada. E assim dá tempo pra pensar em alguma coisa? É tanta informação que entra na mente que sem um momento de silêncio para refletir sobre tudo, acabamos sem filtro, tudo é engolido sem mastigação. Silêncio, aqui, como sinônimo de tempo, pensamento, reflexão.

Silêncio multiface. Considero importante este tempo para o silêncio e para o vazio, esvaziar é preciso como uma reciclagem, meditação que transforma. O silêncio diz muito, ensina e inspira. No silêncio respiramos, damos impulso à vida, ouvimos a batida do coração. Onde achamos o silêncio total? Será que ele existe? É só físico ou também é espiritual?

Arnaldo Antunes, poeta e compositor, numa entrevista publicada no livro “Sobre o Silêncio”, diz que antes adorava ouvir música para tudo, mas agora, diante do seu computador para escrever prefere o silêncio. Coisa da idade. Concordo.

Mas há quem não goste do silêncio porque lembra solidão. O poeta Ferreira Gullar, em entrevista para a escritora e fonoaudióloga Andrea Bonfim Perdigão, lembra seu período de exílio e da dificuldade que teve vivendo em países diferentes, sem amigos, sem diálogos, em silêncio: “...isso é o exílio no sentido total dele: você, num mundo de coisas, sem afeto, sem gente. Você é gente, e gente precisa de afeto, de comunicação. Uma pessoa num mundo de coisas não se comunica”.

À exemplo de Gullar, há hora de falar, de ouvir, de estar em contato e se comunicar olho no olho. Ao mesmo tempo em que faço um novo convite a ouvir o silêncio, proponho novas experiências com um diálogo mais calmo, mais suave, mais elaborado em sua interatividade. Pensar um segundo antes de apresentar um argumento ou resposta pronta. Tempo para elaborar perguntas interessadas, inteligentes, que o levem a saber o que de fato seu interlocutor pretende ou está sentindo. Outro contraponto: ir mais devagar para se chegar mais depressa a algum lugar.

O texto a seguir foi publicado no livro “Diálogo: redescobrindo o poder transformador da conversa”:

OUÇA...

"Não sei se já examinou o modo pelo qual ouve, não importa o quê, seja um pássaro, o vento nas folhagens, o impetuoso fluir das águas, ou como ouve em diálogo consigo mesmo, sua conversação em vários relacionamentos com seus amigos íntimos, sua mulher ou seu marido...

Se tentamos ouvir encontramos uma extraordinária dificuldade, porque estamos constantemente projetando nossas opiniões e ideias, nossos preconceitos, nossas experiências passadas, nossas inclinações, nossos impulsos; quando eles dominam, quase não ouvimos o que está sendo dito...

Neste estado, não há qualquer valor. Ouve-se e portanto aprende-se, apenas um estado de atenção, um estado de silêncio, no qual todas essas experiências passadas são mantidas em suspenso, quietas; então parece-me, é possível comunicar. A verdadeira comunicação somente pode ocorrer onde houver silêncio". (KRISHNAMURTI)


     Sábias palavras! Eu estava em silêncio quando as li... acabei lendo com respeito e com afinco para assimilar e com respeito para saber usá-las quando preciso for. Da mesma forma que neste exemplo de leitura, o silêncio não significa, ou pode não significar ausência, agressividade, indiferença e sim respeito, confiança, cumplicidade. Ele é parte da comunicação e não uma ruptura. É claro que isso depende da postura e da resposta participativa dos interlocutores, mas em geral, para se estabelecer uma comunicação de qualidade ele se faz presente de forma indispensável.

No livro “Do desejo ao prazer de mudar”, Kourilsky-Belliard diz que o silêncio valoriza a presença do outro: “essa marca de atenção facilita a integração, a reflexão do outro e a criação de algo em comum. A arte do silêncio se manifesta, antes de tudo, através do domínio da dimensão não verbal da comunicação”. E conclui com o ditado: “quem muito fala pouco é ouvido”.

No silêncio se estabelece um conforto entendido por harmonia. Na harmonia as palavras chegam a ser desnecessárias para a compreensão. Aí surge a importância do estar presente, do olhar, do sorriso, da comunicação não verbal que leva duas pessoas a dizer muito no silêncio e confirmando a sabedoria popular: gestos valem mais do que mil palavras.


LEIA TAMBÉM: “CALLATE” PUBLICADO NESTE BLOG EM 15/09/2010

 


BIBLIOGRAFIA:

ELLINOR, Linda; GERARD, Glenda. Diálogo: redescobrindo o poder transformador da conversa. São Paulo: Futura, 1998.
KOURILSKY-BELLIARD, Françoise. Do desejo ao prazer de mudar: compreender e provocar a mudança. Barueri, SP: Manole, 2004.
PERDIGÃO, Andrea Bonfim. Sobre o Silêncio. São José dos Campos, SP: Pulso, 2005.