Pensamento cognitivo e linguagem
A mente é definida de forma semelhante para alguns pesquisadores. Alguns deles consideram sua definição complexa, mas Davel e Vergara (2001, p.84) conseguiram sintetizar o pensamento nas palavras a seguir:
[...] a mente é entendida como entidade interna autônoma, com faculdades mentais, controladoras das ações, pensamentos, sentimentos, vontades, e decisões das pessoas. Uma entidade que, diferente do corpo, não ocupa espaço, não se sujeita às leis mecânicas, não é divisível [...] (DAVEL e VERGARA, 2001, p.84).
O entendimento do conceito de mente é fundamental para se responder a questões relativas ao comportamento humano e da forma como se dá o processamento da informação e o uso do conhecimento. Davel e Vergara (2001, p.86) apontam a semelhança da mente com um computador equiparando a mente com um software: “[...] ambos são sistemas cognitivos, funcionalmente equivalentes, já que processam informações de seu entorno mediante manipulação de símbolos” (DAVEL e VERGARA, 2001, p.86).
O pensamento inteligente é caracterizado pelos procedimentos de mente e cognição. A mente manipula os símbolos de forma lógica; os símbolos são convenções ou padrões contidos juntamente com a manipulação numa memória do sistema. Este processamento simbólico é o que permite a alguém formar os modelos mentais.
Operadores transformam estes símbolos para interpretar informações sensoriais e gerar respostas motoras ou para criar conhecimento, permitindo o uso flexível da linguagem para representar um número infinito de idéias em termos de um número menor de símbolos (palavras), assim como de regras que operam este sistema (uma gramática) (DAVEL e VERGARA, 2001, p.86).
O conhecimento implícito é construído ao longo do tempo e nem sempre o indivíduo tem conhecimento dele. No entanto, mesmo as experiências passadas das quais não se recordam, afetam o desempenho no comportamento humano. Davel e Vergara (2001, p.89) citam o pressuposto de que “a mente é o resultado da atividade cerebral e, em sentido amplo, rompe radicalmente a noção de mente cartesiana” (DAVEL e VERGARA, 2001, p.89). Eles lembram ainda que corpo e cérebro estão interligados, assim como mente e corpo, mente e cérebro.
A localização da mente no cérebro não implica um determinismo genético, na negação da individualidade e na desconsideração dos aspectos sociais e culturais. Mesmo diante de patrimônio genético idêntico, os sistemas nervosos vão diferir em função da história de interpretação de cada organismo (DAVEL e VERGARA, 2001, p.90).
A linguagem é um fenômeno de grande influência no processamento feito na mente, e a mente é ativa na construção do mundo. “A linguagem que usamos estrutura o mundo e constrói a realidade. Essa compreensão fundamenta uma psicologia inclusiva da cultura em que o dizer e o fazer são unidades inseparáveis” (DAVEL e VERGARA, 2001, p.92).
Margerison (1993, p.34) propõe que o pensamento pode se concentrar no problema ou a solução, porém, antes de pensar na solução é necessário compreender bem o problema e alguns líderes falham nisso. Para o autor, o pensamento centralizado nos problemas se relaciona com a descoberta, o que provém da diagnose, síntese, questionamento. Já o pensamento centralizado na solução provém da apresentação feita por propostas, que direcionam e informam.
As técnicas apresentadas por Margerison (1993, p.38) para a centralização nos problemas são as seguintes:
• Questionar: perguntas abertas que levem o interlocutor a dar respostas claras, específicas e em alguns casos que expressem os sentimentos e as opiniões do outro, perguntas fechadas cuja resposta é geralmente sim ou não e perguntas indutivas, sendo que as respostas já são aquelas esperadas, porém as menos usadas em casos de centralização no problema;
• Diagnosticar: diagnosticar o motivo para se descobrir a causa de algum problema, diagnose.
Da mesma forma Margerison (1993, p.40) apresenta as técnicas para a centralização nas soluções como sendo as seguintes:
• Propor: dar sugestões, formular, expor idéias, fazer recomendações. O objetivo neste ponto é procurar saber a opinião do interlocutor, e observar suas reações, sendo que até mesmo as objeções apontadas merecem atenção;
• Ordenar: dar ordens firmes, instruir, ditar. Apresenta-se aqui a solução em si e o que o outro deve fazer para atingir o ponto ideal da solução. Isso deve acontecer após o problema ser conhecido, a solução ser apresentada e quando ela for aceitável.
Para Fiorelli, “[...] a linguagem depende do pensamento e a influencia. O pensamento compreende as atividades mentais, como raciocinar, resolver problemas e formar conceitos. Pouco se entende, ainda, de seus mecanismos” (FIORELLI, 2000, p.75).
Com o treino, o líder estará preparado para controlar a conversação, porém este treino deve ser tanto para a centralização no problema como na centralização nas soluções. Magerison (1993, p.45) aconselha que, em casos de dificuldades, deve-se permanecer com a centralização no problema de forma a se ampliar a linha de conhecimento do mesmo, passando em seguida ao campo da solução.
PERCEPÇÃO
A atenção produz a percepção, sem uma não existe outra. Fioreli define atenção como “mecanismo que permite a fixação em alguns estímulos, internos ou externos, organizando as informações significativas para possibilitar algum tipo de ação. Não há percepção sem atenção” (FIORELLI, 2000, p.69). A atenção faz a mente perceber e armazenar. Com o estímulo registrado na memória é possível retomar a informação armazenada, recuperando aquele mesmo arquivo. O mesmo acontece com o material verbal, que guarda o significado das palavras.
Fiorelli (2000, p.73) explica que o uso dos sentidos (visão, audição e tato) ativam formas diferentes da memória e que cada indivíduo pode ter um desses sentidos mais aguçados do que os outros e por isso a memória pode ter mais atividade de forma visual, auditiva ou audiovisual. O enriquecimento da memória pode ser feito com técnicas como a concentração da atenção; associações de idéias, informações e imagens; organização e classificação das informações por esquemas de pensamentos flexíveis, como o uso dos diagramas; e a integração com outros assuntos, como os exemplos práticos.
"Linguagem e pensamento constituem a base do processo de comunicação interna e externa. Um programa organizacional possui maior probabilidade de proporcionar os resultados esperados quando emprega linguagem ajustada à compreensão das pessoas: desencadeia atenção, percepção e seqüência de pensamentos capazes de conduzir à ação. A adequação da linguagem é necessária nos dois sentidos: a administração, às vezes, surpreende-se com ações de profissionais porque não entendeu as mensagens por eles enviadas (consciente ou inconsciente). Deve-se observar que a linguagem compreende a fala e todas as maneiras de se comunicar: postura física, comportamentos, imagens etc" (FIORELLI, 2000, p.77).
Além de ter desenvolvido essas habilidades de processos mentais, o líder deve perceber nos seus liderados se eles também conseguiram compreender, por exemplo, os objetivos e metas organizacionais, pois nem todos atingem o chamado por Fiorelli (2000, p.77) “raciocínio abstrato” e neste caso os tais objetivos e metas ficam fora das suas possibilidades.
BIBLIOGRAFIA:
DAVEL, Eduardo; VERGARA, Silvia Constant (organizadores). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 2001.
MAGERISON, Charles J. Conversando a gente se entende: técnicas de conversação para executivos. -2 ed.- São Paulo: Saraiva, 1993.